Com sede em Peruíbe, a Fábrica Meatz lançou seu primeiro produto de carne vegetal e pretende colocar cinco novas opções até outubro do ano que vem
Home > Insights > Startups > Fábrica Meatz usa tecnologia para dar à jaca sabor de carne
por
No último dia 5, a Fábrica Meatz anunciou o lançamento do seu primeiro produto: a carne louca feita à base de jaca. A data foi propícia, visto que em novembro comemora-se o Dia Mundial do Veganismo. Mas engana-se quem pensa que o produto é similar às receitas caseiras com a fruta encontradas no YouTube. Foram cinco anos até que os fundadores chegassem à fórmula ideal. “Nós passamos três anos nos Estados Unidos, de 2016 a 2019, para entender como funcionava o mercado vegano e vegetariano. Mesmo lá, naquela época, tudo era muito embrionário. Tanto a Impossible [Foods] quanto a Beyond [Meat] tinham acabado de lançar os seus produtos e foi uma revolução”, conta Leandro Mendes, CEO da foodtech.
O período também foi marcado por um intenso processo de estudo, que envolveu a análise de patentes dos produtos plant-based já existentes no mercado, a anatomia da carne do animal e o hábito dos consumidores. “Eu me tornei vegano nessa época para entender o outro lado da moeda e ver como as pessoas se sentem no dia a dia. Uma coisa é sentir vontade de comer uma refeição sem carne de vez em quando e outra coisa é a rotina”, diz Mendes.
Em 2019, o empreendedor fundou sua primeira startup, a Behind the Foods — pioneira na produção de carne vegetal no Brasil. Inicialmente, a estratégia era focada em bares e restaurantes e, apesar do sucesso de vendas (foram 25 mil unidades de hambúrgueres vendidas em apenas um mês), a pandemia fez com que Mendes recalculasse a rota do negócio. “O foodservice fechou e foi aí que tivemos a oportunidade de nos juntar a Meatz, empresa que fornecia um dos tecidos para fazer o hambúrguer da Behind”, explica o cofundador.
Dessa fusão, apoiada por uma rodada de R$ 2 milhões, nasceu a Fábrica Meatz. Segundo Mendes, o montante foi aplicado, principalmente, no desenvolvimento da tecnologia, da marca e nos maquinários.
O surgimento da Meatz segue a tendência crescente do mercado global de carne vegetal que, conforme projeção da consultoria A.T. Kearney, pode chegar a US$ 370 bilhões em 2035. O levantamento aponta ainda que em 2040 a indústria convencional de carne perderá espaço no mercado, saindo de uma representatividade de 90% para 40%.
A pesquisa “O consumidor brasileiro e o mercado plant-based” realizada pelo The Good Food Institute em parceria com o IBOPE relata um cenário semelhante no Brasil. Nos últimos dois anos, 50% dos entrevistados afirmaram que estão diminuindo o consumo de proteína animal e as substituindo por opções alternativas com mais frequência. O hábito, conhecido como flexitarianismo, aumentou em 21 pontos percentuais de 2018 para 2020.
Essa ascensão, entretanto, traz consigo alguns desafios. O primeiro é desenvolver uma carne vegetal que se assemelhe em sabor e textura à versão animal. “É preciso encontrar ingredientes que possuam a mesma fibra e uma estrutura molecular que permita mimetizar tecido por tecido da carne até chegar em uma composição bem próxima à animal”, explica Mendes.
O fundador e o seu sócio, Pedro Ian, encontraram na jaca a oportunidade para valorizar uma fruta que existe em abundância no Brasil, mas é pouco reconhecida. Por meio da tecnologia 3D True Texture, desenvolvida pela própria foodtech, eles garantem que a fruta possua o sabor, a aparência e a textura da carne bovina com ótimas propriedades nutricionais.
“Utilizamos outras tecnologias para aplicação de sabor, que fazem com que a nossa carne louca tenha, de fato, gosto de carne e não uma carne de jaca que é o que a maioria tem. Geralmente, as pessoas pegam a fibra da jaca, descascam, desfiam e adicionam temperos. Na verdade o que você vai comer é algo sem gosto com tempero, então o sabor vai ficar de tudo o que for colocado, menos de carne."
Leandro Mendes, fundador da Fábrica Meatz
Além da jaca, a carne louca produzida pela startup contém azeite de oliva extravirgem, chá preto, beterraba e nutrientes como ferro, vitamina B12 e D2. Cada embalagem de 200 gramas rende para até quatro pessoas e custa R$ 20,90 para o consumidor final. A ideia é que a carne vegetal seja capaz de despertar a memória afetiva das pessoas. “Nós já temos um portfólio de produtos, mas decidimos começar pela carne louca pois acreditamos que é diferente do que tem no mercado”, conta o empresário. “É um alimento afetivo, esteve presente na vida de muita gente desde a infância e é um produto saudável, tem gosto de comida caseira.”
A preferência pela jaca como matéria-prima da carne vegetal carrega também um propósito maior. Isso porque a sede da Fábrica Meatz está situada na cidade de Peruíbe, localizada no Vale do Ribeira — região conhecida pela produção de ponkan, de palmito e pela grande quantidade de jaqueiras. Para além de uma escolha estratégica de negócio que visa otimizar o processo logístico, Mendes espera que a startup possa fomentar a agricultura local. “Um percentual do nosso faturamento, independentemente se for um real ou um milhão, será dedicado para melhorar a estrutura dos produtores e comunidades locais, seja através de treinamentos, seja de orientações de negócio. Esperamos que, conforme essa ideia cresça, ela terá um impacto positivo na vida das pessoas que moram ali”, conta Mendes.
Nesse primeiro momento, o produto pode ser encontrado nas redes de varejo Casa Bueno, Naturalis e Empório La Granola, tanto na capital paulista quanto no interior, mas o plano é expandir para território nacional gradualmente. “Por uma questão de estratégia, até pensando na nossa validação, nós optamos por começar na grande São Paulo, por ser um mercado forte. A expansão dependerá da reação do mercado, mas logo após o lançamento nós tivemos feedbacks de outras regiões, como a região Sul”, afirma Pedro Ian, cofundador da foodtech.
De agora em diante, a ideia é lançar um novo produto a cada três meses, totalizando cinco opções de carnes vegetais até outubro de 2022. E os empreendedores já dão um spoiler.
"Em breve teremos dois novos produtos. Um é a volta do hambúrguer da Behind The Foods. Nós pegamos aquela fórmula e evoluímos tanto em textura, suculência, saudabilidade e sabor. O outro será uma carne branca."
Leandro Mendes, fundador da Fábrica Meatz
Mendes, publicitário por formação, confessa que ganhar escala é um desafio para qualquer área e setor, mas garante que estão preparados. “Hoje, nós já temos uma capacidade muito maior do que produzimos, queremos seguir o passo a passo que nós desenhamos”, diz. No meio do ano que vem, a foodtech abrirá uma nova rodada de investimentos. “Nós vamos fazer o processo de validação do negócio para que, aí sim, quando tudo estiver validado, já funcionando, com a resposta de números e aceitação, entrarmos na segunda rodada para uma super fábrica, escalar para o Brasil inteiro e até exportação”, adiciona o CEO.