Segundo a consultoria Boston Consulting Group (BCG), o recurso promete revolucionar o mercado, gerando até US$10 bilhões nos próximos anos.
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por Bárbara Marra,
Fundada em 2021, a Dobslit é uma startup focada em computação quântica. Após anos dedicados ao estudo da tecnologia na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), o professor doutor Celso J Villas Boas e o engenheiro Carlos Speglich decidiram transformar a pesquisa em negócio, motivados, principalmente, pelo crescimento nos investimentos na área no exterior. Para se ter uma ideia, um estudo da consultoria Boston Consulting Group (BCG) estima que a computação quântica pode gerar entre US$5 bilhões a US$10 bilhões já nos próximos três a cinco anos.
Um dos pioneiros no desenvolvimento da computação quântica no Brasil, os engenheiros Rogerio Ruivo e Carlos Speglich, cofundadores da empresa e diretores de tecnologia e negócios, respectivamente, explicam que um computador convencional, para realizar qualquer função, transforma todos os dados em cadeias de zero ou um, usando o sistema binário – mais conhecido como bits. Ou seja, toda informação apresenta apenas duas possibilidades diferentes. O computador quântico também assume valores de zero e um, mas ao invés de somá-los, os multiplica por meio do uso de qubits, o que confere velocidade, capacidade de armazenamento e processamento de dados exponencial à máquina; estima-se que um computador de 70 qubits faça cálculos que levariam 270 mil anos para serem feitos por um clássico. Além disso, o desenvolvimento do software é diferenciado e necessita de um hardware específico para funcionar. Por isso, através de um serviço de nuvem, os softwares desenvolvidos na Dobslit são transferidos para computadores, ou seja, hardwares, localizados no exterior, e a partir daí podem exercer a função para qual foram criados.
A empresa opera, no momento, com recursos próprios, mas conta com incentivos da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), com a parceria do Supera Parque de Ribeirão Preto, da startup espanhola Quanvia e do Senai CIMATEC. A programação é feita pela equipe de oito pessoas em home office e, como a tecnologia é emergente e está em expansão, a pesquisa é constante. “Nós desenvolvemos uma dinâmica de interação toda própria, em que passamos as demandas e também discutimos muita coisa, porque não é um assunto que está tão desenvolvido quanto a computação convencional, então muitas dificuldades ali dentro precisam ser tratadas”, explica Ruivo.
Segundo Speglich, o foco da Dobslit são empresas de grande porte, com grande demanda em tecnologia, que queiram se posicionar estrategicamente para incorporar a computação quântica em seus processos. O empreendedor afirma que têm notado um aumento no interesse das corporações na solução fornecida pela startup, causada, principalmente, pela necessidade de processar cada vez mais dados e informações em montantes que não são suportados por computadores normais.
Apesar de ainda ser pouco utilizada, a computação quântica tem o potencial de eliminar desafios enfrentados por diferentes áreas, como logística, energia, criptografia e finanças, através da resolução de problemas que computadores clássicos não teriam a capacidade de resolver em termos práticos. Assim, ela possibilita a geração de mapas com informações de tráfego mais precisas, otimizando rotas de distribuição; a realização de simulações químicas de alta precisão, de análises de comportamento de portfólios financeiros complexos e a criptografia de alta segurança de dados e imagens.
No momento, a startup encontra-se em fase de negociação com diferentes empresas e conta com algumas soluções, como o Dobslit Cloud, serviço de nuvem; o Dob Lab, sistema de simulações de baterias e de estruturas químicas; elaboração de protocolos de comunicação segura, entre outros. “A computação quântica tem propriedades intrinsecamente seguras,” explica Ruivo. “Você consegue transmitir informação que, até onde se conhece na ciência, se uma pessoa tentar interceptar, é destruída por propriedades da mecânica quântica. Nós começamos a trabalhar com a autenticação quântica, que emprega um algoritmo [e a partir dele] consegue colocar uma marca d’água quântica em uma imagem, por exemplo. Grosso modo, essa imagem fica com um dado dentro, que pode ser extraído e usado para verificar a autenticidade dela.” Outro produto desenvolvido pela empresa é o Dob Maps, que elabora informações sobre rotas de forma a otimizar cálculos para empresas de logística e distribuição.
Além disso, o engenheiro explica que é necessário fazer um trabalho de “evangelização”, ou seja, de educar as empresas sobre o que é a computação quântica, sem o “hype” que existe em algumas tecnologias emergentes. “É preciso desmistificar conceitos para tornar a coisa bem pé no chão, porque nem tudo é uma maravilha, existem muitas dificuldades e muitas barreiras e nós precisamos comunicar isso para as empresas.” Apesar da tecnologia ainda estar em desenvolvimento e apresentar desafios, Speglich acredita que em breve o público estará cada vez mais próximo da inovação. “Eu não preciso ser um físico do Big Bang Theory para operar o computador quântico. É um computador, ponto. Ele usa princípios revolucionários e extremamente poderosos, porém, é uma máquina com uma interface amigável, e está disponível para nós explorarmos o máximo das possibilidades de aplicação no mundo real, no mundo empresarial, hoje.”
Segundo Ruivo, a Dobslit é a única startup especializada nessa tecnologia no Brasil, mas grandes empresas em todo o mundo já estão se atentando para a necessidade de incorporarem a computação quântica em seus quadros. Uma pesquisa da startup Zapata Computing revelou que, de 300 CEOs consultados, 74% concorda que “aqueles que não adotarem soluções em computação quântica ficarão para trás” no mercado, e que 69% das empresas ao redor do mundo “já a adotaram ou têm planos de adotá-la” ainda neste ano.
“Muitas empresas tomaram um caldo quando a Inteligência Artificial, o blockchain e a Internet das Coisas começaram a fazer parte do dia a dia. As empresas querem saber a real capacidade e maturidade da computação quântica hoje, porque se lá fora estão colocando alguns milhões nessa tecnologia e não estão tendo um produto comercial no final, estão só testando e vendo até onde ela vai, é porque provavelmente esta será a próxima grande onda."
Carlos Speglich, Cofundador e Diretor de Negócios da Dobslit
Os engenheiros estão otimistas e planejam trazer, ainda neste ano, o primeiro computador quântico para o Brasil. “Ainda não existe muito suporte do governo, mas existem conversas, discussões para criar uma iniciativa quântica brasileira. Outros países já têm a sua iniciativa quântica, como a Alemanha, a França e a China . O Brasil ainda está pequenininho nisso, mas nós vamos desbravando esse terreno aos poucos”, diz Speglich.
A expectativa é de que o mercado cresça e que cada vez mais empresas estejam aptas a se modernizar nesse sentido. O co-fundador reforça: “As empresas estão nos procurando e querendo saber o que é computação quântica. Percebemos que o nosso timing de entrar no mercado foi bom, nós passamos um ano nos estruturando, desenvolvendo um algoritmo interno, preparando a força de trabalho, maturando e agora nós sentimos que esse mercado está começando.”