12 de setembro de 2022 Entrevistas

O Jeito Ambev De Fazer Inovação

Para o Diretor Global de Inovação na ABInbev, o papel das companhias é ser um ambiente de teste para as tecnologias de forma conjunta.

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Para Bruno Stefani, Diretor Global de Inovação na ABInbev, o papel das companhias é ser um ambiente de teste para as tecnologias de forma conjunta: empresas aliadas às startups, pesquisadores e cientistas. Nos seus 10 anos de experiência com inovação, ele percebeu o impacto dessa união, a importância de poder dedicar tempo para o estudo dos problemas e o valor de ampliar a visão de futuro.

Nesta entrevista exclusiva à Liga Ventures, o executivo compartilha sua experiência e dicas para aqueles que desejam se aventurar pela jornada da inovação.

LIGA VENTURES (LV) – Como funciona a área de tecnologia e inovação da qual você faz parte?

BRUNO STEFANI (BF) – A Ambev Tech é a nossa nova área de tecnologia. Nos juntamos com um time de pesquisa em inovação, que inclui mestres e doutores, para olhar para tecnologias disruptivas no médio e longo prazo. Aqui, nós não chegamos a ter projetos de dez anos, mas temos uma série de iniciativas que olham para projetos de três a cinco anos, como delivery feito por drones. Esse é um exemplo de um projeto que está em teste, algo que ainda não está regulamentado no Brasil, mas que podemos explorar por meio dessas pesquisas. É uma forma de antecipar futuros, unindo o ecossistema da academia com a realidade do negócio.

Temos cientistas, pesquisadores, mestres e doutores que querem ir além da publicação de uma tese, que gostariam de transformar seu estudo em um CNPJ. E acho que conseguimos ajudar nesse sentido. Esse é o objetivo do time de pesquisa: como ajudamos a companhia a repensar e adaptar o seu modelo de negócio para o que estamos vendo como futuro, seja por mudança de comportamento do consumidor, seja por evolução da tecnologia.

LV- Quantas pessoas fazem parte desse time e o que é fundamental para esse grupo conseguir, de fato, fazer inovação aberta dentro da empresa?

BF – Hoje, temos cerca de 50 pessoas no time de inovação global da Ambev, mas acredito que a qualidade da entrega está menos na quantidade de pessoas e mais no quanto cada um consegue colaborar com o ecossistema. Nós temos um ambiente no qual podemos discutir problemas e validar oportunidades. A solução é o final da história. Parte do sucesso desse time de inovação está na possibilidade de poder investir tempo entendendo o problema, olhando para o histórico da companhia e vendo o que já foi testado, o que deu certo, o que não deu certo e porque. É nisso que está o nosso grande valor, nessas discussões de alto nível, com questionamentos, iniciativas e construções conjuntas. É um time muito aberto para trabalhar em grupo, criando junto. Não importa quantas pessoas são, e sim esse contexto e essa composição variada de pesquisadores, doutores, professores, mestres e estudantes universitários trabalhando em parceria com a Ambev e as startups.

No fim das contas, se considerarmos todo esse ecossistema para fora da empresa, o tamanho do time que trabalha nos projetos ultrapassa 500 pessoas fácil fácil. E outro fator importante é que, apesar de existir um time de inovação, a inovação na Ambev não é centralizada, não se restringe apenas a um único responsável. As demais áreas e profissionais da empresa também constroem conosco. Acho que, quando uma companhia tem uma área que centraliza a inovação, isso pode ser um problema. Aqui, a inovação não é uma única área, é uma estratégia de toda a empresa.

LV – Quais os principais desafios que você enfrenta hoje como Diretor Global de Inovação na Ambev?

BF – De certo modo, o principal desafio é também uma das coisas que mais gera aquele “brilho nos olhos”. Hoje, nós temos essa liberdade de poder testar tudo e em qualquer lugar. São muitas as possibilidades já que estamos olhando para o médio e longo prazo, trabalhando com foco no negócio, mas também com a visão de pesquisadores e cientistas. 

Se, de um lado, isso é empolgante, de outro existe a grande dificuldade de escolher o que priorizar. Como escolher o que deveria ser priorizado naquele ano ou nos próximos três anos em meio a tantas possibilidades? De alguma forma, nós resolvemos essa equação tentando entender para onde a tecnologia vai, para onde a companhia vai e o que o nosso consumidor ou cliente está falando, somando tudo isso para analisar como eu, quanto empresa, resolvo o problema desse cliente e construo o futuro do negócio.

Nessa equação também entra a sociedade, ou seja, como fazemos negócios que sejam bons para o nosso cliente, para a companhia e para o ecossistema em torno dela, gerando um impacto positivo nos próximos anos.

LV – Levando em consideração esse olhar para o cliente e para o ecossistema, como a Ambev se mantém atualizada e entende as demandas do consumidor?

BF – Atualmente, dedicamos um bom dinheiro em report, em consultoria e no time pesquisando. A ideia é, constantemente, fazer a seguinte reflexão: como é que construímos futuros e como o atualizamos rapidamente? O ano de 2020 nos ensinou que não basta ter um bom planejamento, que às vezes o cenário muda completamente e, mais importante do que ter um plano, é saber se adaptar.

Então, acho que é muito mais um exercício constante de como você se mantém atualizado e mantém a troca com o ecossistema. Também é importante ter essa abertura para testar e para validar ou invalidar hipóteses, tentando entender como as grandes tendências e as tecnologias disruptivas conversam ou não com a estratégia da companhia.

LV – Na sua opinião, quando uma empresa deve optar por inovar usando equipes internas e quando é melhor recorrer a startups e/ou outros parceiros externos?

BF – Não temos uma receita, não tem certo ou errado e vou explicar porque: tudo depende do problema. É menos sobre o modelo de operação da companhia e mais sobre o problema que você quer atacar, o que significa que você precisa aprender a dimensionar o seu time para aquele desafio. Se for algo realmente grande e relevante, alinhado à estratégia da companhia, talvez seja interessante gastar mais tempo e fazer internamente, o que não significa necessariamente começar do zero dentro de casa. Você pode adquirir uma startup, ou fazer um investimento minoritário para aprender e vai seguindo um modelo que é quase uma mescla de inovação feita dentro e fora.

Quando o problema é latente, precisa ser resolvido no curto prazo e se já existe uma boa solução no mercado, não tem porque gastar tempo tentando desenvolver uma solução. Não é uma conta exata, mas você precisa refletir sobre o tempo a ser investido na resolução do problema versus plugar uma solução pronta na companhia para ver o retorno no curto prazo. Eu sou muito fã de futebol americano e, no jogo, nós percebemos exatamente isso: não existe uma formação única para todas as jogadas. Cada hora que os times se ajoelham ali na frente da bola, pode surgir uma jogada diferente.

LV – Como você enxerga o papel das startups dentro do setor?

BF – Velocidade! Elas desafiam o que a gente conhece como status quo. São pessoas incríveis, que topam uma jornada duríssima em prol da construção de uma empresa que realmente cria impacto e muda o mundo. Não é só tecnologia, é mudança total de comportamento das pessoas. Se você falasse antigamente para a sua mãe que iria entrar no carro de um completo estranho e aceitar balinhas, ela iria surtar. Mas, hoje, isso é feito de uma maneira natural ao ponto de facilitar a vida, a ponto de ser uma mudança total na qual as pessoas confiam. 

O papel das companhias é ser o ambiente de teste para essas tecnologias, esse espaço para podermos trabalhar em conjunto e, assim, fazer com que todos cresçam. De um lado, nós, Ambev, resolvemos nossos problemas, e de outro, as startups têm mais investimento, mais receita e conseguem crescer. No fim do dia, é sobre como entregamos impacto pro país, para Ambev, pra startup e pros ecossistemas.

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