17 de novembro de 2025 Artigos

Panorama das logtechs no Brasil: tendências e tecnologias

O mercado logístico cresce com automação, dados e geolocalização. Veja as principais tendências e o panorama das logtechs no Brasil.

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A logística brasileira vive uma transformação profunda. Pressões por velocidade, previsibilidade e redução de custos deixaram de ser desafios isolados e passaram a compor uma agenda de eficiência que atravessa todos os setores da economia. Nesse contexto, as logtechs passaram a desempenhar um papel central, não apenas como fornecedoras de tecnologia, mas como impulsionadoras de novos modelos operacionais.

O Startup Landscape: Logtechs 2025, produzido pela Liga Ventures com dados da Startup Scanner, oferece um retrato claro dessa mudança. Ao mapear 318 startups ativas, o estudo revela um setor em expansão, que se apoia cada vez mais na digitalização, na inteligência de dados e na automação para resolver gargalos estruturais da cadeia logística.

1. Um setor em transição acelerada

Nos últimos anos, a logística deixou de ser vista como um centro de custo e passou a ser tratada como fator estratégico. Isso acontece porque as empresas, especialmente após a intensificação do e-commerce, entenderam que a eficiência operacional impacta diretamente a competitividade.

Assim, as logtechs crescem sobre três pilares fundamentais. O primeiro é a digitalização, que avança de forma consistente e substitui processos antes dependentes de papel, telefonemas e controles manuais. O segundo é a visibilidade, que se torna essencial para coordenar uma cadeia longa e complexa como a brasileira. Por fim, surge a automação como resposta ao esforço de reduzir falhas, retrabalhos e desperdícios.

Esses movimentos criam terreno fértil para soluções que atuam desde a gestão de frotas até a última milha. E, à medida que a operação logística se torna mais conectada, cresce também a maturidade das tecnologias e das startups envolvidas.

2. As categorias que lideram a inovação

Embora o ecossistema de logtechs seja diversificado, algumas categorias aparecem como protagonistas em 2025. Isso porque respondem diretamente aos pontos de maior fricção da cadeia logística. Segundo o estudo, elas se distribuem da seguinte forma:

  • Gestão de Entregas (12%)
  • Gestão de Frotas (11%)
  • Inteligência de Dados (11%)
  • Last-mile (10%)
  • Logística Reversa, Delivery On Demand e Marketplace de Frete (9% cada)

Essas categorias ganham destaque porque lidam com áreas onde o impacto operacional é imediato. A gestão de entregas, por exemplo, tornou-se indispensável para empresas que precisam coordenar fluxos complexos entre centros de distribuição, transportadoras e consumidores. Já a gestão de frotas evoluiu para além do monitoramento básico e, agora, depende de inteligência de dados para reduzir custos, otimizar rotas e garantir segurança.

Enquanto isso, a last-mile consolidou-se como um dos maiores focos de pressão por desempenho. Ela concentra boa parte dos custos logísticos e define a experiência do cliente na ponta. Não surpreende que startups dessa categoria também figurem entre as que mais recebem investimentos.

3. As tecnologias que sustentam o avanço das logtechs

Se, por um lado, as categorias mostram onde estão os maiores desafios, por outro, as tecnologias revelam como as startups estão resolvendo essas dores. De acordo com o estudo, as soluções que estão se destacando são:

  • Geolocalização
  • Rastreabilidade
  • Data Analytics
  • Marketplaces logísticos
  • Integrações via API

O uso intensivo de geolocalização e rastreabilidade não é mera tendência, mas uma necessidade operacional. Em um país de dimensões continentais e com infraestrutura desigual, acompanhar o deslocamento da carga em tempo real tornou-se essencial para evitar perdas e gerenciar imprevistos.

Além disso, o crescimento do data analytics mostra que as decisões logísticas estão menos intuitivas e mais baseadas em dados. A roteirização inteligente, o planejamento de demanda e a gestão de performance já fazem parte do cotidiano de operadores, varejistas e indústrias. E, para completar, o avanço das APIs viabiliza a integração entre sistemas antes isolados, permitindo que a operação seja vista como um todo, e não como etapas desconectadas.

4. Maturidade e perfil das soluções

Um dos pontos mais interessantes observados no Startup Landscape: Logtechs é que o ecossistema de logtechs já não pode ser considerado emergente. Pelo contrário, ele demonstra equilíbrio entre maturidade e renovação.

Quase metade das startups mapeadas está em estágio emergente, o que indica tração, validação de mercado e potencial de escala. Ao mesmo tempo, há uma proporção significativa de soluções estáveis e disruptoras, que já operam em nível mais avançado, com modelos sólidos e clientes robustos.

Outro dado relevante é que 70% das logtechs atendem prioritariamente o mercado B2B. Isso revela que as soluções não são apenas pensadas para o consumo final, mas para resolver fricções reais de grandes cadeias produtivas. E, à medida que empresas de setores variados fortalecem sua agenda logística, cresce também a busca por soluções integradas, de alto impacto e que possam ser implementadas em ambientes complexos.

5. Investimentos que reforçam o avanço

O estudo também aponta que o volume de investimentos no setor segue com tendência de crescimento. Embora o mercado global de venture capital tenha passado por ajustes, as logtechs se manteve resiliente.

Em 2024, categorias como gestão de entregas, inteligência de dados e last-mile ficaram entre as que mais captaram recursos. Esse movimento indica que investidores veem potencial de escala, recorrência e impacto direto nos resultados das empresas, fatores que tornam as logtechs especialmente atrativas.

Além disso, o aumento das rodadas seed e pré-série A mostra que muitas soluções estão chegando ao mercado em um nível mais robusto, prontas para testes corporativos e expansão comercial.

6. Oportunidades e o futuro das logtechs

Ao observar os dados do estudo, fica claro que a logística brasileira está entrando em uma fase de aprofundamento da digitalização. E, justamente por isso, várias oportunidades ganham força para os próximos anos.

A primeira delas está na automação, que se estende desde a movimentação de cargas até o microfulfillment urbano. Em seguida, cresce a necessidade de visibilidade operacional, especialmente em cadeias longas e multicanal. Outro ponto relevante é a expansão da cadeia fria, impulsionada por alimentos frescos, bebidas e produtos farmacêuticos. Além disso, a logística reversa, historicamente tratada como operação secundária, ganha espaço devido à expansão do e-commerce e às pressões regulatórias.

Finalmente, a aplicação de inteligência artificial aparece como um dos motores mais promissores do setor. Ela permite prever atrasos, ajustar rotas automaticamente, otimizar frotas e identificar gargalos antes que eles afetem a operação. Em um ambiente tão sensível a custos quanto o logístico, isso representa vantagem competitiva real.

Conclusão

O panorama das logtechs em 2025 revela um setor mais maduro, mais tecnológico e profundamente conectado às necessidades de eficiência do mercado brasileiro. A combinação de dados, automação e integração cria um ambiente no qual as startups conseguem entregar valor direto e imediato às empresas.

À medida que novos desafios surgem, as logtechs se posicionam como parceiras estratégicas, capazes de transformar a forma como a cadeia logística opera. E, considerando o ritmo atual de evolução, é possível afirmar que a próxima década será marcada por uma logística cada vez mais previsível, conectada e orientada por inteligência.