28 de junho de 2022 Startups

In Situ busca recuperar pacientes com feridas crônicas

O produto, feito a partir de células-tronco presentes no cordão umbilical, pode auxiliar até 5 milhões de pessoas no Brasil

 

Sobre a In Situ

“Melhorar a qualidade de vida de pacientes com feridas crônicas e queimaduras graves”, esse é o objetivo da In Situ, healthtech fundada em 2015 pela bióloga Carolina Caliari. A ideia inicial da pesquisadora era desenvolver uma terapia celular personalizada a partir do tecido do próprio paciente, cultivando as células em laboratório para, depois, aplicá-las sobre a pele afetada para regeneração. Mas, assim como a história de muitas startups, a rota precisou ser recalculada. “Na época de validação, percebi que o negócio não ia parar em pé porque eu demoraria até dois meses para obter a quantidade de células necessária para o tratamento”, afirma Caliari.

Pensando nisso, a empreendedora adotou uma nova abordagem e criou biocurativos. O produto, impresso em 3D,  é desenvolvido com células-tronco do cordão umbilical associadas a um hidrogel. Semelhante a uma lente de contato, o biocurativo pode ser aplicado diretamente na pele humana e, segundo Caliari, é mais eficaz do que as opções existentes no mercado. “Por serem originárias do cordão umbilical, as células são novas e possuem um potencial terapêutico superior às células de um indivíduo adulto”, explica. “Além disso, com a técnica de bioimpressão, nós conseguimos ganhar escala e reprodutibilidade, quesitos essenciais para o crescimento do negócio.” 

Localizada no habitat de inovação da Universidade de São Paulo (USP), em Ribeirão Preto, a In Situ é formada por uma equipe de cinco pesquisadores e é financiada pelo Programa Pesquisa Inovativa de Pequenas Empresas da FAPESP, conhecido como PIPE. Atualmente, o biocurativo foi submetido à Anvisa e aguarda aprovação para dar início ao ensaio clínico. 

Atendendo uma população desamparada

Estima-se que 1% a 2% da população mundial apresenta feridas crônicas, ou seja, lesões em que não ocorre a reparação integral anatômica e funcional da pele. Dentre as causas mais comuns, está a insuficiência venosa, responsável por 75% das úlceras de perna e estas, por sua vez, exigem longos períodos de tratamento e acarretam graves repercussões sócio-econômicas. No Brasil, a condição é a 14ª causa de afastamento do trabalho e ocupa a 32ª posição nos motivos de aposentadoria por invalidez. Além disso, estudos revelam que cerca de 10% das pessoas com diabetes desenvolvem ferida crônica e 84% desses casos evoluem para amputação.

É exatamente este problema que a healthtech quer ajudar a solucionar. “Além de gastar muito, o paciente com ferida crônica ou queimadura grave onera o sistema de saúde porque, em alguns casos, ele passa a vida inteira tratando a ferida e ela não fecha. Com isso, ele fica sujeito a complicações”, afirma a CEO. “Com o biocurativo da In Situ, nós cicatrizamos a ferida em um período muito menor ou diminuímos o tempo de tratamento e, consequentemente, as complicações e o custo total.” Apesar de ainda não ter sido testada em humanos, a solução promete. Caliari afirma que trabalhos anteriores demonstraram que os pacientes que estavam há anos sem se cicatrizar se recuperaram em três meses. 

Diferencial da In Situ

A solução apresentada pela In Situ é inovadora e não está disponível em nenhum outro país . Hoje, se um paciente desenvolve uma ferida crônica, ele tem duas opções de tratamento. A primeira utiliza células da pele de outra pessoa para cobrir a ferida, porém, apesar da rápida entrega a possibilidade de rejeição é maior. Caliari explica que cada aplicação custa em torno de mil a 2 mil dólares e o procedimento deve ser repetido semanalmente.

A segunda alternativa segue a linha de terapia personalizada proposta pela startup no início de sua fundação. Neste caso, os resultados obtidos são satisfatórios, mas o tempo necessário para o cultivo das células é longo e a despesa aumenta de acordo com o tamanho da área afetada. Em média, o valor do produto é de 6 mil dólares.

"O diferencial do biocurativo 3D da In Situ é que ele possui aplicação única. Além disso, as células tronco são de fácil obtenção e manipulação e, devido ao seu baixo grau de maturidade, não necessitam ser totalmente compatíveis com o paciente, diminuindo, assim, as chances de serem rejeitadas.”

 Além do biocurativo, a startup está desenvolvendo um novo produto focado na cicatrização de feridas leves e de quelóides. A pomada é feita a partir do reaproveitamento de ativos liberados pelas células tronco durante o processo de produção do biocurativo, material que, anteriormente, seria descartado. “O meio de cultivo possui uma matéria prima muito poderosa, com vesículas em tamanho nano e com alto potencial terapêutico e de regeneração de tecidos. Nós olhamos para isso e vimos uma oportunidade para ampliar nosso portfólio e atender um número maior de pessoas”, conta Adriana Manfiolli, CTO da In Situ que está à frente do projeto.

Até o momento, os resultados obtidos na primeira fase foram positivos. A formulação se mostrou não fototóxica e não irritante in vitro e as pesquisadoras acreditam que vislumbrarão efeitos semelhantes in vivo, seja no animal seja no paciente. “Agora nós estamos submetendo um financiamento para continuidade ao projeto objetivando dois pontos principais. O primeiro é escalonar a plataforma de purificação desses ativos que hoje é feita em baixa escala,  e  o segundo é realizar o teste pré-clínico já em modelo de ferida para que, quando finalizarmos o projeto daqui dois anos, nós tenhamos dados pré-clínicos de segurança e eficácia que sejam robustos”, explica Manfiolli.

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