12 de setembro de 2022 Relatórios

Os investimentos de impacto no Brasil

Conheça o cenário de investimentos em impacto social do Brasil e da América Latina, bem como os desafios para seu crescimento.

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[dropcap]M[/dropcap]ais do que apenas uma tendência mundial, os investimentos de impacto representam uma parte fundamental no desenvolvimento desse mercado, visto que podem ser os responsáveis pela alavancagem e crescimento de negócios do segmento. Diferentemente dos tradicionais, gestoras e fundos de impacto, como o próprio nome já sugere, buscam, além do lucro, concentram seus esforços em projetos, empresas ou organizações que causem um impacto social e/ou ambiental positivo. Difere-se igualmente, portanto, de filantropia ou investimentos de responsabilidade social. 

De acordo com a GIIN (Global Impact Invest Network), organização sem fins lucrativos e referência no assunto, o investimento de impacto desafia uma visão antiga de que questões sociais e ambientais devem ser endereçadas apenas por doações filantrópicas e que investimentos de mercado deveriam focar exclusivamente em atingir retorno financeiro. Ao quebrar essa lógica, o mercado dos investimentos de impacto oferece diversas e viáveis oportunidades para investidores contribuírem com o avanço de soluções positivas social e ambientalmente falando, de forma concomitante ao retorno financeiro. Na prática, o crescimento no volume dos aportes proporciona capital para uma eventual resolução de desafios urgentes mundiais relacionados a questões como agricultura sustentável, energias renováveis, saúde, educação, moradia, meio ambiente, finanças e outros. 

Segundo o estudo Sizing the Impact Investing Market, realizado pela própria GIIN e publicado em 2019, estima-se que, atualmente, são mais de US$ 502 bilhões em ativos resultantes de investimentos de impacto, valor gerenciado por mais de 1340 organizações ao redor do mundo. Dessas, 64% são representadas por gestores de ativos, 21% por fundações e o restante está distribuído entre bancos, instituições financeiras, fundos de pensão, family offices e outros. Entre as organizações cuja origem é conhecida (1102),  a vasta maioria (58%) está localizada nos Estados Unidos e Canadá e 21% no Sul, Oeste ou Norte da Europa. A América Latina e Caribe respondem por 4% do total.

Os investimentos de impacto no Brasil

Em um viés mais analítico presente no estudo, espera-se que muito mais capital deve ser investido para as necessidades globais, em busca da resolução dos mais complexos desafios. Mas existem boas razões para otimismo. Um em cada quatro dólares de ativos gerenciados profissionalmente vai levar em conta princípios de sustentabilidade e é crescente o número de pessoas reconhecendo que o dinheiro deveria servir mais do que apenas para fazer mais dinheiro: investimentos podem e devem procurar o impacto socioambiental. 

No Brasil, apesar de os números ainda se apresentarem tímidos se comparados a outras regiões do mundo, o cenário é de desenvolvimento. Conforme o Panorama do Setor de Investimento de Impacto no Brasil 2018 – com resultados do biênio 2016-2017–, muito tem mudado no país nos últimos anos, uma indústria que “aumentou e amadureceu, com o surgimento de novos investidores locais, mais organizações interessadas em se envolver com o tema, mais empreendedores alinhados com as teses de impacto do mercado e o fortalecimento do diálogo com investidores tradicionais, governo e sociedade civil”. O país já conta com players de referência no segmento, como é o caso da Vox Capital, Bemtevi Investimento Social, Din4mo, Kaeté Investimentos, MOV, Positive Ventures, Sitawi e outros.

Segundo o estudo, foram US$ 131 milhões aplicados em 69 operações de investimento, realizadas por 29 investidores; o valor é 56% maior em relação ao registrado no biênio anterior (2014-15) e o número agregado de operações aumentou em 42%. Na América Latina, de acordo com informações da Aspen Network of Development Entrepreneurs (Ande) publicadas no Valor Econômico, no biênio 2016-17, o Brasil ocupou o quarto lugar em total de recursos investidos em negócios de impacto, atrás de Peru (US$ 218 milhões em 152 operações), Equador (US$ 185 milhões em 189) e México (US$ 169 milhões em 108).

Aqui, o setor de TICs (tecnologia da informação e comunicação) liderou no número de operações, com 23% do total, seguido de educação (14%), saúde (10%) e conservação da biodiversidade (8,5%); em valores, as TICs também ocupam o primeiro lugar, com US$ 54 milhões, seguido de geração de renda (US$ 26 mi) e energia (US$ 10 mi).

Para os dois anos seguintes – 2018 e 2019 –, oito dos 33 fundos participantes do levantamento esperavam captar US$ 190 milhões em fundos e 15 investidores estimavam realizar 176 investimentos de impacto no período. Ou seja, proporcionalmente, a expectativa era a de um crescimento bastante interessante tanto em valores quanto em volume. 

O amadurecimento do ecossistema de negócios de impacto

A Vox Capital é uma das principais gestoras de investimento de impacto no Brasil, pioneira no segmento – presente no mercado há mais de dez anos –, já tendo investido em 29 negócios no setor. De acordo com Gilberto Ribeiro, sócio da gestora, as condições e características do cenário social brasileiro tornam o Brasil em um terreno propício para tais tipos de investimento.

“Nós enxergamos que o Brasil é o ecossistema perfeito para investimentos de impacto. Ao mesmo tempo em que somos um dos dez países mais desiguais do mundo, também somos uma das economias mais fortes. Essa é a combinação perfeita para que existam soluções de mercado, negócios que trabalhem para resolver problemas sociais. Trata-se de um mercado crescente, em um cenário que os fundos voltados para impacto trazem a visão de negócios, mas sempre pensando nas consequências positivas que as soluções possibilitam”, afirma Ribeiro. 

No entanto, apesar de uma perspectiva em geral positiva, existem ainda desafios para que essa indústria evolua da forma esperada e de maneira cada vez mais rápida. Alguns dos obstáculos claramente são comuns ao segmento como um todo – como uma maior transparência de informações e conscientização do segmento –, enquanto outros são mais específicos quando se trata do nível de atração dos negócios para aportes ou a própria “adequação desses investimentos”.

Segundo o estudo The State of Impact Investing in LatinAmerica, realizado pela Bain&Company, apesar de o segmento de investimentos de impacto estarem passando da fase de “inovação descoordenada” (1ª etapa) para a de “criação de marketplace” (2ª etapa), alguns ingredientes-chave ainda estão faltando. 

Um dos principais desafios, conforme o levantamento, é como ajustar de forma mais adequada o capital a projetos e/ou empreendimentos com alto potencial socioambiental e retorno financeiro; com uma oferta que supera a demanda, muitos fundos acabam competindo pelo mesmo investimento. Isso porque muitos projetos interessantes estão emergindo na região latino-americana, mas muitos permanecem desconhecidos ou são pouco claros em relação àquilo que entregam. Com a evolução da maturidade do mercado – a partir do surgimento de mais negócios e aceleradoras de impacto, por exemplo –, a expectativa é que o cenário seja diferente. Em convergência a isso, de acordo com o Panorama do Setor de Investimento de Impacto no Brasil 2018, um dos principais desafios citados pelos entrevistados foi justamente o “desenvolvimento dos atores do ecossistema”. 

Claramente, as oportunidades e desafios são igualmente volumosos e complexos na indústria dos investimentos de impacto no Brasil, a qual tem cada vez mais apresentado sua importância para o ecossistema, não apenas por conta dos valores apresentados nos parágrafos anteriores, mas o impacto que causam na evolução dos negócios existentes.

Saiba  aqui o que os profissionais de grandes empresas, especialistas  e empreendedores falaram sobre o tema no painel de entrevistas do estudo

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