Startup investe na tecnologia IPS para gerar mapas digitais em ambientes fechados, otimizando o tempo dos clientes e fornecendo dados.
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Da rota a ser percorrida a pé à solicitação de um motorista ou o pedido de um delivery, a tecnologia do sistema de posicionamento global (GPS) não só faz parte do dia a dia de muitas pessoas, como possibilitou o surgimento de novos negócios. Esse sistema de navegação por satélite responsável por tantas novas oportunidades, contudo, tem uma limitação: o espaço externo. Ou seja, dentro de shoppings, supermercados, hospitais, fábricas e qualquer outro espaço fechado, o GPS não proporciona uma boa experiência aos usuários.
Foi pensando nisso que, em 2016, Paulo Alvim e Bruno Carneiro começaram a estudar o mercado de Indoor Positioning System (IPS) — uma espécie de GPS que consegue fazer o rastreio entre quatro paredes. No ano seguinte, o CEO e o CTO, respectivamente, fundaram a Zapt Tech, startup especializada em geolocalização indoor e totalmente integrada com o outdoor, cuja missão é oferecer soluções baseadas no posicionamento de pessoas e/ou ativos em ambientes físicos.
Para conseguir passar a informação em tempo real, o IPS processa sinais de Bluetooth, Wi-Fi, acelerômetro, giroscópio e outros sensores, o que ajuda a melhorar diferentes aspectos da localização, como acurácia, estabilidade e sentido dos movimentos. Isso permite, por exemplo, identificar o andar de um prédio no qual o item ou o indivíduo se encontra. “A Zapt Tech surgiu para trazer uma experiência para o usuário de forma contextualizada, para usar o digital no ambiente físico de forma prática”, afirma André Raccah, diretor de Marketing da startup.
Segundo Raccah, a tecnologia também auxilia os usuários a economizar tempo — um “bem” extremamente valioso neste mundo acelerado. “Quando falamos na experiência do usuário, temos que considerar esse fator. A sensação de perder tempo é muito ruim! Não saber se você deve virar para direita ou esquerda, para onde deve ir, causa certa angústia.” Não à toa, a primeira solução oferecida pelo negócio foi o Zapt Amazing Maps & Wayfinding.
Na rota dos mapas digitais
Desenvolvida a partir da combinação de diferentes tecnologias, o Zapt Amazing Maps and Wayfinding é uma plataforma de mapas-interativos multi-idioma — outdoor e indoor — ilustrados em 2D, modelados em 3D ou com uma apresentação realista. São rotas que levam até produtos, postos de serviço, atrações, utilidades e ativos por meio da orientação em texto e/ou voz, o que confere maior acessibilidade ao produto. “Nossa intenção é ter uma ferramenta para uso universal, não só para pessoas com alguma deficiência visual, mas também auditiva, motora etc. Se o usuário é cadeirante, por exemplo, e está usando o mapa digital no shopping, não posso sugerir uma rota em que ele tenha que subir as escadas, preciso pensar em alternativas como rampas e elevadores”, diz André Raccah.
A solução foi criada com o intuito de otimizar o tempo e melhorar não só a experiência de clientes, mas de turistas e colaboradores de uma organização. O sócio da startup destaca ainda que os mapas do Zapt Amazing Maps & Wayfinding podem ser incorporados em sites, totens e aplicativos. “Fizemos um para o Parque Ibirapuera, em São Paulo. Na entrada, tem um QR Code, a pessoa escaneia, abre um web app e busca tudo dentro do parque em tempo real”, conta. Vale explicar que o diferencial do IPS em relação ao GPS neste caso, que não se trata de um ambiente fechado, é o nível de precisão, o qual permite levar o usuário de uma das entradas do parque até um museu ou café que faz parte deste “complexo”.
Outro exemplo, desta vez indoor, são os mapas interativos em hospitais, que podem servir para inúmeras finalidades: rotas até áreas de exame, de cirurgia e administrativas; roteiros multiponto para sequências de procedimentos; e traslados assistidos entre pisos e prédios de complexos hospitalares. “Temos outra gama de serviços voltados ao rastreamento de pessoas ou de ativos com foco em gestão. No caso desses estabelecimentos, serve para fazer o controle de equipamentos e localizar, por exemplo, onde está o respirador”, explica o diretor da startup.
Esta solução que localiza em tempo real cadeiras de rodas, macas, bombas infusoras e outros equipamentos foi batizada de Zapt People & Asset Tracking e pode ser aplicada também ao monitoramento dentro de indústrias, hotéis e centros turísticos. “Toda história nossa começa a partir de um mapa, que vira o pano de fundo de muita coisa”, afirma Raccah. E foi assim, por meio de um mapa, que começou também a parceria da Zapt Tech com as Casas Bahia.
Sobre o cliente e o desafio
Em novembro do ano passado, a Via inaugurou uma megaloja da Casas Bahia na cidade de São Paulo. A construção de três andares e mais de 18 mil metros quadrados reúne diversas marcas parceiras (no modelo store in store) e foi pensada, antes de tudo, como um espaço de experiência. Trata-se de um laboratório para testar soluções diversas, da oferta de novos produtos à aplicação de tecnologia que ampliem as possibilidades de venda.
Segundo reportagem da Folha de S. Paulo, 60% das vendas da Via, dona das marcas Casas Bahia e Ponto (ex-Pontofrio), passaram pela internet no terceiro trimestre de 2021 — e a megaloja vem justamente para aproveitar esse fluxo de forma “figital”, misturando conceitos das vendas físicas e digitais.
Lá, o consumidor pode degustar vinhos no “estande” do e-commerce Wine, pintar o cabelo com o produto adquirido na Soneda, testar bicicletas e patinetes na pista circular, configurar produtos eletrônicos comprados no local com a ajuda de um serviço de assistência e por aí vai. São muitas possibilidades e, para que o visitante não se sinta perdido ou deixe de conhecer uma área que o interesse, o mapa digital é mais um elemento para apoiar essa vivência. “Na Casas Bahia, o primeiro desafio foi essa questão: como melhoramos a experiência do usuário nesse ambiente que é tão grande, tão versátil, multi-plataforma e com soluções diversas? Como ajudamos uma pessoa que está buscando alguma coisa específica?”, conta André Raccah.
Soluções aplicadas
O diretor da Zapt Tech explica que, mesmo antes da inauguração do espaço, a marca já tinha consciência da necessidade de proporcionar uma experiência guiada, ou seja, um serviço que permitisse o consumidor chegar na megastore e navegar por aquele local amplo de diversas formas, seja buscando um produto específico, seja à procura de uma marca, seja guiado pelo interesse em uma categoria de consumo, como móveis e eletrônicos. Por isso, o primeiro passo do projeto foi mapear a loja inteira digitalmente. “Definimos os departamentos, os produtos dentro de cada departamentos e tagueamos os principais formatos de busca”, explica.
Sobre a criação de tags, Raccah faz a ressalva de que, por se tratar de um processo orgânico, novas palavras-chave devem ser inseridas no sistema de busca do mapa digital à medida que os dados de uso mostrarem como os visitantes têm interagido com a ferramenta, se eles têm utilizado outros termos para procurarem as mercadorias. Por enquanto, a solução ainda não tem insumos o suficiente para gerar análises, mas a ideia é que, em breve, a marca entenda quais são os produtos mais consumidos na megaloja; quais itens as pessoas estão procurando, mas não encontram lá; quais são os horários de pico e assim por diante. “Com isso, a Casas Bahia pode tomar decisões baseadas em dados para incluir novas categorias de produto”, exemplifica.
A partir, então, desse mapeamento digital, foi criado um mapa 3D com ilustrações, que gera rotas em tempo real até os produtos e espaços de experiência e, inclusive, cria visitas guiadas personalizadas. Para utilizar esse GPS indoor, basta o visitante escanear um dos QR codes espalhados pelos totens da loja, acessando, assim, um web app — sem a necessidade de instalar um aplicativo no celular.
Como o outro desafio do cliente era fazer os visitantes percorrerem toda a loja — ou boa parte dela — para conhecerem a gama de ofertas, uma solução de gamificação foi incorporada à ferramenta. “Ao acessar o mapa, a pessoa é convidada a participar de uma brincadeira para encontrar o personagem da Casas Bahia”, conta o diretor da Zapt Tech. Inspirado no Pokémon Go, o jogo consiste na busca de 21 “clones” do personagem CB (o antigo “Bahianinho”, que passou por um rebranding em 2020). Ao encontrar todos, o cliente ganha um brinde.
Raccah ainda explica que, no caso deste cliente, não foi necessário instalar sensores pela loja para possibilitar o serviço de geolocalização indoor. “Estamos usando a própria movimentação das pessoas com o recurso do celular para poder captar movimentação e orientar o visitante dentro do ambiente.”
A partir dessa experiência, a rede de varejo deve fazer análises para replicar as boas práticas desta unidade nas mais de mil lojas espalhadas pelo Brasil. No caso específico do web app da Zapt Tech, a ferramenta já foi utilizada por mais de 2.000 visitantes até o momento.
Hoje, a startup também possui projetos em outros segmentos, com clientes como o Hospital Beneficiência Portuguesa, o Centro Cultural Banco do Brasil em Belo Horizonte (CCBB BH) e o Club Med Rio Das Pedras. Aeroportos, shoppings e até cemitérios também procuraram a Zapt Tech para o desenvolvimento de serviços de geolocalização baseada em IPS.