Conheça soluções e estratégias que estão auxiliando empresas no processo de integração da cadeia logística dentro do país
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A dificuldade de integração da cadeia de supply chain é um agente potencializador de custos, que diminui a eficiência e, consequentemente, a competitividade das empresas do país frente a nações com estruturas logísticas mais bem conectadas.
É importante apontar, dentro deste contexto, que uma integração eficiente dos elos de uma cadeia logística pode aumentar os ganhos das organizações. É o que aponta uma pesquisa da consultoria Bain, que indica que empresas com redes de distribuição otimizadas tem aumento de margem total de até 10%.
Mas quais são as principais razões para essa fragmentação da cadeia logística no Brasil?
Um primeiro ponto envolve a questão da infraestrutura: em um país de geografia tão extensa quanto o Brasil, conectar os elos da gestão de supply chain já se impõe como um desafio estrutural de alto custo para as empresas atuantes no país. Ligada a esta questão, temos o baixo volume de investimentos direcionados para obras de infraestrutura, conforme explica Rodrigo Salgado, gerente de supply chain da Sodexo.
“Infelizmente nos últimos 20 anos o Brasil investiu, em média, pouco mais de 2% do PIB em obras de infraestrutura, percentual considerado abaixo do razoável quando comparado com as demais economias emergentes – as quais investem entre 4 e 5% do seu PIB. Além disso, nossas dimensões continentais aumentam os custos exponencialmente para as empresas brasileiras.”
Além disso, “a própria ausência de pesquisas para efetivamente medir o grau de integração dos processos e sua relação com medidas de desempenho em situações reais de cadeias de suprimentos”, conforme atesta tese do professor do Centro Universitário FEI, Wilson de Castro Hilsdorf, dificulta a análise deste cenário no Brasil e o consequente desenho de estratégias para superá-lo.
Outro fator que torna complexa a integração logística no país envolve o número extenso de players e órgãos envolvidos em todas as etapas de uma cadeia de distribuição, ponto este que torna os processos mais lentos e gera perda de eficiência, questão, aliás, pode dificultar a adesão das empresas a outros modais de transporte.
É o que explica Tahiana Gurgel, coordenadora de negócios do Complexo Industrial Portuário de Suape.
“Quando pensamos no transporte marítimo, vários players são envolvidos. A gente tem que passar pelo órgãos anuentes, Receita Federal, Polícia Federal, Ministério da Agricultura, e diversos outros órgãos, dependendo do tipo de carga e movimentação. Isso demanda tempo, sim. Além disso, nem todos esses órgãos têm o mesmo tempo de liberação. O grande desafio é fazer com que o ritmo deles seja similar ao que as empresas têm. Muitas vezes, a questão dos custos facilita a adesão ao transporte marítimo, mas, quando a carga chega no porto, o desembaraço pode sofrer com atrasos. Por cada órgão ter seus procedimentos e regulação próprios e não integrados, isto pode demandar mais tempo na liberação das cargas e estas podem não ser liberadas no mesmo dia.”
De fato, mesmo com os entraves que apresentamos aqui, o lado positivo desta discussão envolve o fato de que muitas empresas têm buscado criar novas metodologias logísticas para adquirir ganhos de eficiência e produtividade na gestão de cada elo de sua cadeia.
A Sodexo, por exemplo, tem apostado na distribuição de operadores logísticos em todo o país e integração com uma rede de parceiros de modo a otimizar sua cadeia de supply chain.
“A Sodexo tem operadores logísticos em diversas regiões do Brasil, cobrindo praticamente todo o território nacional. Contamos com parceiros logísticos estratégicos especializados na indústria de Food Service. Desta forma reduzimos a necessidade de aquisições em pequenos volumes de fornecedores locais, reduzindo também a necessidade de gerenciar grandes estoques nas nossas filiais, pois as mesmas são abastecidas pelos nossos operadores logísticos frequentemente”, explica o gerente de supply chain da Sodexo, Rodrigo Salgado.
O Porto de Suape, por sua vez, tem investido em um processo de transformação digital, incluindo a aproximação com Logtechs e aplicação de novas tecnologias capazes de potencializar a eficiência das operações do canal. É o que explica Brunna Lyra, assessora técnica de inovação do Porto de Suape.
“Estamos começando a enxergar de uma nova forma a logística e o quanto a tecnologia pode agregar aos projetos maior produtividade, menor tempo gasto, maior integração e outra série de ganhos. Dentro deste contexto, há alguns meses nós fizemos um levantamento sobre a logística mundial e percebemos a existência de um mercado que está começando a prestar atenção nas necessidades de plataformas digitais, que facilitem a comunicação, a transparência e o tratamento de dados. Temos acompanhado tendências tecnológicas que podem ajudar muito o modal marítimo e, quanto mais a gente participa, lê e troca ideias, vemos quantas oportunidades existem.”
A sensibilização para uma mudança de perspectiva quanto a tecnologia é um ponto importante, sobretudo em um contexto de corte de custos para ciência e tecnologia, como o anunciado pelo Governo Federal no início do ano, que congelou 42% dos investimentos no Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações para 2019.
Do ponto de vista tecnológico, aliás, algumas tecnologias podem contribuir com esse processo de integração da cadeia logística brasileira ao longo dos próximos anos.
As chamadas torres de controle (control towers), por exemplo, são uma tecnologia relativamente estabelecida no exterior, mas podem chegar com mais força no Brasil neste momento de transformação digital da cadeia logística do país. Basicamente, estamos falando de soluções utilizadas para oferecer uma visibilidade ampla e em tempo real da cadeia de supply chain.
Funcionando, essencialmente, como uma base de controle informacional, no qual gestores logísticos podem ter acesso aos processos, pessoas e tecnologias envolvidas em uma operação, as control towers tem como principais benefícios o favorecimento de uma tomada de decisões mais assertiva, bem como, o acompanhamento detalhado da eficiência de uma operação, uma vez que rastreiam a cadeia de ponta a ponta.
Neste sentido, as torres de controle, conforme report da Nucleus Research, “são uma ferramenta cada vez mais vital para as empresas ganharem visibilidade sobre suas cadeias de valor estendidas”.
Segundo dados da One Network, uma das principais empresas provedoras globais de torres de controle, esta tecnologia tem potencial de reduzir, em até 90%, as faltas de abastecimento em um estoque, eliminar até 75% dos custos de expedição e aumentar a visibilidade de ponta a ponta de uma cadeia logística em até 90%.
“A cadeia logística é muito complexa, são diversos agentes, com muitos elos e diferentes sistemas que não se conversam. Isto causa muita ineficiência, lead times elevados, estoques desbalanceados, altos custos e grandes ricos. Na Quattro, nosso objetivo é conectar e integrar todo esse fluxo de informações em uma plataforma única de Torre de Controle, multimodal, que envolve toda a cadeia, de ponta a ponta, abrangendo desde a logística internacional, o transporte e armazenagem, até a distribuição, trazendo visibilidade e gestão para as operações”, explica Anna Valle, diretora de operações da Quattro, startup que desenvolveu uma torre de controle que atende a realidade da logística brasileira.
Fundada no final de 2017, a Quattro possui clientes como Mercedes-Benz, Fiorde Logística Internacional e FTA Transportes, trazendo como benefícios principais de sua tecnologia, um melhor fluxo de informações, a redução do lead-time de entregas e a otimização do giro de estoque das empresas. Anna Valle destaca alguns pontos centrais sobre a infraestrutura tecnológica da solução disponibilizada pela Quattro.
“Com flexibilidade, trabalhando com tecnologias da indústria 4.0, nós integramos diferentes dados, automações e integrações em função da necessidade específica de cada solução, pois acreditamos que a Logística deva ser um fator de diferencial competitivo e estratégico dos nossos clientes e não apenas um “centro de custos”, conclui Valle.
O desenvolvimento de Logtechs como a Quattro pode contribuir, por fim, para o desenvolvimento de um ambiente de negócios mais dinâmico e com a abertura para a inovação logística. Rodrigo Salgado, gerente de supply chain da Sodexo, ressalta esse aspecto de dinamismo advindo das Logtechs.
“Em um ambiente de muita concorrência, precisamos testar rápido – se errarmos, que seja rápido para corrigirmos e estarmos sempre à frente de nossos concorrentes. O ambiente de startups tem oportunizado o acesso a ferramentas tecnológicas de forma mais rápida, barata e customizada. Aplicar métodos e ferramentas mais ágeis no dia a dia nos permitirá tomar as melhores decisões. Neste sentido, não há dúvidas sobre o papel essencial da tecnologia e da contribuição das startups neste processo de melhoria contínua da cadeia de supply chain”, conclui o executivo.
Focada em redução de custos, a Frete Rápido desenvolveu um app para cotação, integração de fretes e dropshipping. Os pedidos podem ser coletados de modo individual ou coletivo conforme necessidade do usuário. A startup foi selecionada para o programa de aceleração da Tegma em 2018.
A Logiun é uma startup focada na redução de custos que conta com uma solução para o gerenciamento de aquisições, manutenções e perdas dentro das rotinas de logística reversa. Foi vencedora da final regional do Amchan Arena – Joinville/SC.
A Convoy é uma startup americana que conecta uma rede de caminhões com transportadoras para reservas rápidas de fretes que conta com estratégias de precificação e processos automatizados para redução de custos. Já recebeu US$ 265,5 milhões em investimentos.
A TradeGecko é uma startup de Singapura que fornece uma solução para o gerenciamento de inventários, estoques e pedidos, que gera dados em tempo real para as melhores decisões em gestão financeira dentro da logística. A startup já recebeu investimentos de US$ 17,7 milhões.