Nesse post, aprofundamos a análise sobre o conceito de Sustentabilidade no mercado de alimentação e os desafios para colocá-lo efetivamente em prática
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Não é exagero afirmar que Sustentabilidade é a ou uma das palavras de força dentro de mercados de consumo, principalmente no de alimentos. Com a velocidade e abrangência da disseminação de informações, os consumidores adquirem muito mais conhecimento sobre os produtos que compram, como eles são produzidos e como se posiciona a marca fabricante em relação a essa questão. Assim, por mais óbvia e clichê que seja esta afirmação, empresas que não se preocuparem com esses aspectos em seus processos de produção serão, aos poucos, deixadas de lado pelos consumidores.
Um dos assuntos em voga atualmente é a questão das embalagens. De acordo a pesquisa global Environment Research, da Tetra Pak, cujas informações foram publicadas com exclusividade no jornal O Globo, divulgada no final de 2017, os consumidores estão atribuindo mais valor a produtos sustentáveis e que não possuam impacto negativo no meio ambiente. Entre os entrevistados brasileiros, 95% deles acreditam que questões ambientais vão ser ainda mais relevantes nos próximos anos.
Além disso, quase metade dos respondentes (47%) procuram por selos certificadores quando compram bebidas e 81% consideram relevante a presença do selo FSC® (Forest Stewardship Council) – que certifica empresas e produtos cujas embalagens respeitam critérios ligados à sustentabilidade – no momento de decisão de compra.
Segundo a Profa. Dra. Valéria Monteiro da Silva Eleutério Pulitano, Coordenadora do curso de Tecnologia em Alimentos do IFSP-Matão, as embalagens utilizadas para envolver os alimentos estão ligados a eles desde a finalização da produção, mas normalmente é com o descarte que as pessoas se preocupam mais, já que isso está normalmente ligado a prejuízos ao meio ambiente. De acordo com ela, a tecnologia representa uma virada na indústria de embalagens, apesar de ainda ser um processo caro de produção.
“Não são todas as empresas que possuem capital para investir em uma embaladora de última geração, por exemplo. Mas, ao mesmo tempo, essa é uma preocupação que está crescendo. Existem novos tipos de embalagens, controladas, de menor tamanho, que possibilitam um transporte menos complicado de alimentos e conferem uma validade mais prolongada. A evolução é notória. No entanto, existe uma grande preocupação com os impactos do descarte, em questões de sustentabilidade. Os consumidores estão muito atentos a isso, é uma tendência e também um grande desafio”, afirma.
Mundialmente, a Nestlé é uma empresa que tem reunido esforços globalmente para um futuro mais sustentável. Por meio do Henri, uma plataforma colaborativa de idealização de projetos, em conjunto com startups, pesquisadores e especialistas no tema que está sendo tratado. Lançado em 2016, o programa atua apenas com projetos de impacto positivo, que envolvam questões de saúde, bem estar e sustentabilidade.
Conforme Gerardo Mazzeo, Diretor Global de Inovação da marca, em um press release divulgado após o lançamento da plataforma, “com a criatividade e espírito inovador das startups, o Henri pode ajudar a resolver alguns dos maiores desafios de nutrição, saúde e bem-estar do mundo, criando oportunidades de financiamento para conduzir impacto real positivo em grande escala”. Durante os projetos, a Nestlé oferece um suporte financeiro de US$ 50 mil e o acompanhamento e apoio de um patrocinador da marca.
Em 2019, a empresa lançou seu primeiro projeto no Brasil, com o objetivo de repensar a utilização dos canudos de plástico nas embalagens que utilizam. O desafio é idealizar uma solução que mitigue ou até mesmo elimine o impacto ambiental causado pelo plástico dos canudos. O lançamento do desafio não poderia ser mais pontual e importante, visto o atual cenário.
Em pronunciamento realizado em 2018, no Dia Mundial do Meio Ambiente, o secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu que o mundo se una para vencer a poluição causa pelo plástico, já que mais de oito milhões de toneladas têm os oceanos como seu destino final. Além disso, afirmou que se as tendências de consumo continuarem, em 2050 os oceanos terão mais plástico do que peixes.
Apesar da importância do consumo consciente de materiais que impactam de forma negativa o meio ambiente, como é o caso do plástico, clara e obviamente a sustentabilidade dentro de processos de produção vai muito além disso. Com o esperado crescimento da população, é consequente a necessidade de maior produção de alimentos.
Segundo estimativas da FAO, em 2050 haverá água suficiente para a produção da quantidade de alimentos necessários para suprir as demandas, mas o excesso no consumo, a degradação e o impacto climático reduzirá a disponibilidade de água principalmente em regiões de países em desenvolvimento. Uma declaração do pesquisador Antonio Gomes Soares (da Embrapa Agroindústria de Alimentos), em palestra durante o 8º Fórum Mundial da Água, realizado em 2018, em Brasília, mostra como o conceito de sustentabilidade ainda não é disseminado como deveria.
“Quando se fala em sustentabilidade do ambiente, pensamos em quais ações devem ser realizadas para não poluir, preservar áreas naturais, reciclar o lixo, economizar água, dar preferência às fontes alternativas de energia. Entretanto, raramente lembramos que o ato de nos alimentar também pode causar impactos negativos ao meio ambiente”, afirmou.
Pensando nisso, a Electrolux Professional, linha da marca que oferece equipamentos e maquinário profissional para os setores de Cozinha e Lavanderia, posiciona-se como uma empresa que inova ao oferecer ferramentas que vão de acordo com princípios de sustentabilidade e produtividade. Com um direcionamento B2B, afirma ter “um compromisso firme com a sustentabilidade, melhorando a eficiência em água e eletricidade para economizar custos”.
Segundo Ronaldo Portella, Sales Manager South of Latin America, Brazil & Cuba na Electrolux Professional, a empresa busca desenvolver produtos tecnológicos na cozinha profissional que facilitem a vida de cozinheiros e donos de negócio, sem impactar negativamente o ambiente em aspectos de água, energia e utilização de recursos.
“Por meio da tecnologia é possível maximizar a velocidade de produção, redução da perda de matéria-prima e melhorar o resultado final. O nosso objetivo é que os nossos produtos possibilitem diminuir o uso de recursos, como óleo, gás, água e eletricidade necessários para a produção. Os nossos equipamentos são compostos 98% por materiais recicláveis. O grande desafio é produzir mais, mas com menos impacto”, diz Portella.
De acordo com ele, existe ainda uma grande tendência relacionada à sustentabilidade, que é a utilização, controle e consequente diminuição do descarte, um redirecionamento aos resíduos produzidos pela indústria. Conforme informações da ABRELPE, publicadas no site EcoCircuito, os resíduos orgânicos gerados no Brasil representam 50% do total de resíduos sólidos urbanos (RSU).
Como grande parte desses resíduos são originários do setor de alimentação e em volumosa quantidade, existe uma grande oportunidade de reaproveitamento desses materiais que, seriam descartados, transformando-os, por exemplo, em novos alimentos.
Uma iniciativa que enxergou oportunidade de negócio nesse cenário é a Gran Moar, fundada em 2017, em Belo Horizonte (MG). A startup, do setor de biotecnologia, transforma o bagaço de malte, matéria residual da produção de cerveja, em um produto alimentício, a farinha de malte. O coproduto, além de se apresentar como uma alternativa ao descarte tradicional, carrega consigo um alto teor nutricional, com fibras, proteínas e minerais.
“Em empresas convencionais, 85% dos coprodutos gerados pelas cervejarias são compostos de bagaço de malte. Com base nessa informação, começamos a pesquisar o que poderia ser feito para agregar valor e torná-lo comercial. Então, desenvolvemos um processo, por meio do qual, conseguimos manter as propriedades funcionais do bagaço de malte, e o produto final pode ser utilizado em receitas de pães, biscoitos, barras de cereais e outros”, conta Carlos Viana, Fundador e CEO da startup.
Em estágio de produção laboratorial, a Gran Moar está em um processo de ganho de escala. Atualmente, o bagaço de malte é fornecido por uma cervejaria artesanal de grande porte, que produz em torno de 800 mil litros mensais de cerveja, que acarreta em dezenas de toneladas de insumo que seria descartado.
“Fechar essas parcerias não é simples, mesmo que se trate de um descarte. As cervejarias querem saber mais detalhes do que está sendo desenvolvido a partir do que elas nos fornecem e quais benefícios nós podemos entregar. Além disso, é muito gratificante perceber que os nossos clientes olham para os produtos feitos com a farinha, como a barra de cereais, de outra forma. É a questão de saudabilidade unida à de sustentabilidade, no contexto de economia circular, trazendo algo que seria descartado de volta para a cadeia produtiva com valor agregado. Isso é muito bem visto e relevante nos dias de hoje”, finaliza Viana.
A Gran Moar é uma startup de Belo Horizonte (MG), da área de biotecnologia, que atua transformando o bagaço de malte descartado pela produção de cerveja em uma farinha nutricional e funcional, que pode ser utilizada para a produção de outros alimentos.
A Desperdício Zero, por meio de um app, oferece aos consumidores finais alimentos e produtos que estão com a data de vencimento próxima, ainda em boa qualidade, por preços até 75% mais baixos. A plataforma conecta varejistas e consumidores, otimizando os serviços por filtros de localização.
A israelense Hinoman desenvolveu, por meio de um sistema tecnológico próprio e sustentável, o Mankai, uma planta nutricional, altamente proteica, que pode ser consumida em seu estado original ou utilizada para a produção de novos alimentos. Captou US$ 15 milhões em investimentos.
A Regrained, que já captou US$ 2,5 milhões, é uma startup americana, que se utiliza do descarte de grão resultante da produção da cerveja para produzir uma farinha proteica e nutritiva, utilizada para a produção de barras de cereais em embalagens sustentáveis.