Os caminhos da inovação nas empresas: saiba como as startups se tornaram essenciais para inovar na velocidade que o mercado exige.
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Inovação nas empresas é um tema cada vez mais noticiado. “Startup X capta R$ 400 milhões de investimento e se torna um unicórnio”. O noticiário sobre o mundo dos negócios tem explorado largamente os temas da inovação e do empreendedorismo, materializados nas startups (aquelas empresas de crescimento acelerado com soluções e modelos de negócio inovadores, muitas vezes baseadas em tecnologia). Mais recentemente, um outro tipo de manchete também começou a aparecer com regularidade: “Empresa A compra startup Y por R$ 100 milhões”. E não é só a empresa A, mas a B, C, D… será uma nova modinha?
Assim como há cerca de 15-20 anos nós assistimos com a mesma desconfiança o surgimento das tecnologias mobile e também as mídias sociais (toda empresa queria um app e uma fanpage para chamar de sua) e, hoje, já percebemos que são realidades presentes e fundamentais para a sobrevivência das companhias, ir atrás de startups despontou como uma forma de assegurar inovação nas empresas no ritmo que o mercado pede. É a chamada inovação aberta.
Um estudo da Innosight, sobre as empresas no ranking S&P 500, apontou que o ciclo de vida das grandes corporações está cada vez encolhendo mais, a ponto de companhias que esperavam viver séculos agora vão viver em média 12 anos. De fato, é um cenário desesperador se você é acionista ou executivo de uma dessas empresas! Isso se dá por 3 principais fatores: não acompanhar as mudanças no comportamento de consumo, avanços tecnológicos mais rápidos que levam a empresa à obsolescência, e a entrada de novos competidores já nativos digitais e inovadores, criando disrupturas no mercado.
Há quem pense: “as grandes empresas têm marca, dinheiro, mercado; elas podem competir e sufocar essas startups que as ameaçam”. Não é o que o mercado está mostrando, e o problema está na escala. Os pesquisadores James Burley e Greg Stevens identificaram lá em 1997 que é preciso gerar cerca de 3 mil ideias brutas para se alcançar um sucesso comercial dentro do ambiente corporativo. Se estamos num mundo com cada vez menos barreiras de acesso para empreender, ou seja, se tem mais acesso a capital, mais pessoas empreendendo por propósito, mais tecnologias permitindo criar negócios rapidamente, então é mais provável que surjam 3 mil startups executando e validando essas ideias. Então como fica a inovação nas empresas? Uma corporação gastaria um tempo maior somente para gerar tais ideias.
Essa tese se sustenta quando verificamos que não foram redes hoteleiras e imobiliárias que criaram o Airbnb ou o braço de imóveis da OLX, nem montadoras e locadoras de carros que fundaram a Tesla ou a Uber, tampouco grandes varejistas ou redes de shopping center que criaram a Rappi ou o MercadoLivre. Sem falar nas inúmeras fintechs de sucesso que têm ameaçado bancos tradicionais, a Nubank entrou para a lista da Time das 100 empresas mais influentes do mundo tendo menos de 10 anos de vida e em meio a um oligopólio do setor no Brasil. A estimativa de um relatório da XP é de que a Nubank ultrapasse o Banco do Brasil, fundado em 1808, em número de correntistas até 2023. A inovação nas empresas cai, então, num problema que eu chamo de “escala de inovação”.
O livro “Organizações Exponenciais”, dos autores Salim Ismail, Michael S. Malone e Yuri Van Geest, aborda como empresas da Nova Economia se valem de tecnologia para criar soluções de alto impacto e escalabilidade, descolando de seus concorrentes justamente por criarem inovações com mais rapidez. Isso só é possível quando a companhia entende que o time interno sozinho não é mais capaz de dar vazão a todas as possibilidades de criação e execução de ideias.
Essa constatação nos leva a um novo paradigma baseado no trabalho em rede para acelerar a inovação nas empresas, envolvendo outras pessoas e empresas que já estejam desenvolvendo tais ideias – mesmo que em diferentes estágios de desenvolvimento, seja tirando do papel, testando protótipos, ganhando os primeiros clientes ou já alavancadas. Essa capacidade de trabalhar inovação em rede, em escala, fora das fronteiras da própria corporação, é o que chamamos de inovação aberta, conceito proposto pelo professor Henry Chesbrough em sua obra de 2006.
Porém, como expliquei anteriormente nos casos análogos de mobile e social media, nem todo executivo está convencido de que inovação aberta já seja uma realidade. A inovação nas empresas ainda enfrenta desconfianças e inseguranças. Uma pesquisa da McKinsey apontou que mais de 84% dos líderes de grandes empresas têm inovação entre as prioridades da estratégia, mas que apenas 6% se sente seguro de que estão conduzindo bem o tema.
A própria Liga Ventures fez uma pesquisa em 2019 com RHs de grandes empresas, em vários níveis hierárquicos, e chegou a uma conclusão similar: fala-se muito em inovação nas empresas (até usando a máxima de que “é na crise que é preciso inovar”), mas que as pessoas não reconhecem que sua corporação está no caminho certo quanto ao tema. Por outro lado, Magalu, B2W, Locaweb, Tivit e até empresas mais novas como XP e iFood têm ganhado atenção justamente por movimentos agressivos de investimentos e aquisições de startups, por terem percebido que elas, sim, são o futuro da inovação corporativa.
Tão perigoso para a longevidade dos negócios quanto essa desconfiança é a lentidão de muitas empresas em modelar estratégias de inovação arrojadas. Ainda escuto muitos executivos pensando se devem fazer algo. Quando decidem, querem fazer algo pequeno, pontual, para experimentar. O receio é que a inovação nas empresas não feche a conta. Porém, uma análise da Bain & Company mostrou que empresas inovadoras experientes veem seu valor de mercado crescer a uma taxa de 9,5% ao ano contra apenas 0,5 das iniciantes. O mundo VUCA (volátil, uncertain/incerto, complexo e ambíguo) está ainda mais presente em tempos de isolamento social e já comprovou a urgência de grandes empresas dedicarem grande energia para inovar.
Se você continua (um pouco) cético, note que o admirado Jorge Paulo Lemann recentemente reconheceu que seu vasto legado de eficiência e crescimento via consolidação de mercado com a Ambev e a Kraft-Heinz não dá mais conta do mundo de inovação centrada no cliente. E, convenhamos, muitos de nós não temos uma fração da experiência e da visão privilegiada de negócios do Lemann para duvidar que ele esteja tão errado ao falar tão bem das startups.
Esse artigo escrito por Guilheme Massa, confundador da Liga Ventures.
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