Saiba como as plataformas de suporte ao aprendizado, desenvolvidas por EdTechs brasileiras, estão contribuindo para a democratização do ensino no país
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As plataformas de suporte ao aprendizado exercem uma função crucial para uma maior expansão da acessibilidade à educação no país.
De acordo com números do INEP/MEC em parceria com a consultoria Hoper Educação, já são mais de 1,5 milhão de alunos matriculados em cursos de ensino superior a distância no Brasil. E, enquanto o número de ingressantes em cursos presenciais caiu 3,7% em 2016, os cursos a distância tiveram um aumento de 21,4% no mesmo ano.
Por ora, falamos somente do ensino superior a distância. Se abarcamos o plano do ensino não regulado pelo MEC – de cursos livres ligados ou não a corporações – a expansão do segmento EAD é ainda mais expressiva.
De acordo com dados do Censo EAD da Associação Brasileira de Educação a Distância (ABED), o número de cursos livres não corporativos teve crescimento de mais de 129% no número de matrículas de 2016 para 2017, chegando a mais de 3,8 milhões de alunos matriculados em plataformas EAD.
Por sua vez, o número de profissionais matriculados em cursos corporativos não presenciais teve aumento de quase 14% no mesmo período.
A modalidade semipresencial foi outra que obteve crescimento considerável no Brasil, passando de pouco de 217 mil alunos matriculados em 2016, para quase 1,2 milhão em 2017.
Em comparação com outras nações, pode-se dizer que o Brasil conta com um universo de educação a distância e de plataformas de suporte ao aprendizado maduro.
Nos Estados Unidos – que, de acordo com diversos índices, é o principal ecossistema EAD do planeta -, por exemplo, o número de alunos matriculados exclusivamente em cursos online foi de pouco mais de 3,1 milhões, ao passo que alunos matriculados em cursos online de modo não exclusivo foi superior a 3,5 milhões, números não tão distantes da realidade brasileira, levando em conta os dados do National Center for Education Statistics.
Outro número que vai ao encontro da realidade brasileira envolve a queda, nos Estados Unidos, das matrículas em cursos presenciais. Segundo o mesmo estudo do NCES, de 2016 para 2017, tivemos uma queda 3,31% no número de matrículas em unidades presenciais.
Fatores como a flexibilidade, custos reduzidos e, certamente, a própria possibilidade de estudar a partir de qualquer localização impulsionam o crescimento expressivo do ensino a distância e das plataformas de suporte ao aprendizado nos últimos anos.
Para além destes pontos, a tecnologia, naturalmente, é indispensável para uma inserção ainda mais profunda do EAD no ambiente educacional brasileiro.
Não à toa, os investimentos no mercado de LMS (Learning Management Systems – Sistemas de Gestão de Aprendizado) devem crescer em até 19.6% até 2023, chegando ao patamar de US$ 22.4 bilhões a nível global, segundo informações do LMS Market – Global Forecast to 2023.
Apenas para reforçar, os LMSs são ambientes virtuais de aprendizado que, na prática, sustentam uma plataforma de ensino EAD, permitindo o compartilhamento de conteúdo e o acesso a uma série de recursos de gestão, controle e planejamento de atividades de aprendizagem.
Para Jânyo Diniz, Diretor-Presidente do Grupo Ser Educacional, esta aceleração do mercado de educação a distância é extremamente positiva para a realidade nacional.
“A conectividade é uma grande aliada da educação, principalmente no Brasil. Basta imaginarmos os benefícios do ensino EAD para crianças e jovens que não têm escolas próximas às suas casas e, muitas vezes, precisam andar por quilômetros e enfrentar cenários adversos só para conseguir chegar às escolas. Claro que tudo isso precisa de regulamentação e acompanhamento, mas a tendência é que este ambiente se fortaleça como no ensino superior.”
É importante salientar que, atualmente, o modelo de educação a distância ainda é proibido para alunos do ensino fundamental, exceto na forma de supletivo ou quando tratamos de atividades complementares para o ensino presencial.
Por sua vez, no ensino médio, até 20% da carga horária pode ser realizada a distância no período diurno, ao passo que no período noturno e na modalidade EJA (Educação de Jovens e Adultos), respectivamente, 30% e 80% da carga horária podem ser realizadas no modelo EAD, de acordo com as Novas Diretrizes do Ensino Médio aprovadas no fim do ano passado pelo Conselho Nacional de Educação.
Dentro da discussão sobre acessibilidade e tecnologia, Jânyo Diniz explica que o Grupo Ser Educacional iniciou, em 2018, a implementação do projeto SER DIGITAL, que conta com investimentos robustos e pilares estratégicos visando uma maior expansão da cultura digital e um aprimoramento da experiência dos alunos quanto ao uso de recursos tecnológicos dentro das instituições do Grupo Ser Educacional.
Para o executivo, este movimento de transformação digital é indispensável em face do momento atual do mercado de educação.
“A tecnologia é uma realidade para o segmento educacional como um todo. Aqueles que não se adequarem a esse novo momento, dificilmente irão permanecer no mercado. No ambiente educacional, a tecnologia precisa ser uma aliada tanto na sala de aula, quando no ambiente administrativo. Neste sentido, o principal desafio para as instituições ainda é conseguir acompanhar as mudanças rápidas que a tecnologia proporciona e manter-se atualizadas a tudo para proporcionar aos alunos a melhor experiência possível”, conclui.
Veja como Levi Guimarães, diretor acadêmico no Instituto de Ensino Superior LeaNorte, utiliza a tecnologia para otimizar processos e manter o foco em um ensino de excelência:
O objetivo do Instituto de Ensino Superior LeaNorte sempre foi o de formar cidadãos através de um ensino de excelência, favorecendo a aquisição de habilidades e competências, e a construção do conhecimento e o sucesso profissional. Somos especializados na oferta de pós-graduação, treinamentos, consultorias e cursos livres nas áreas de educação, gestão e direito.
Como toda instituição de ensino superior, temos uma série de desafios, e hoje, um de nossos principais problemas é a inadimplência. Para reverter este cenário, aderimos ao Quero Pago, solução oferecida pela Quero Educação que busca otimizar a gestão financeira das universidades, melhorando a relação entre instituições e alunos.
Tal processo de automatização da gestão do aluno foi uma ideia genial. Através da plataforma, geramos o boleto, fazemos a matrícula e realizamos cobranças, e essa atuação é fundamental, pois não faz parte de minha expertise. Eu não estou lá para cobrar aluno. O nosso negócio é dar aula e formar o profissional com qualidade.
Além de um centro próprio de inovação, o Grupo Ser Educacional mantém parceria com outras EdTechs, como no caso da Samba Tech, eleita pela Fast Company, em 2014, como uma das 50 empresas mais inovadoras do planeta e que está presente, inclusive, no robusto mercado americano de educação – em 2016, a Samba Tech recebeu aportes da Microsoft e do empresário José Augusto Schincariol para se inserir nos Estados Unidos.
“Hoje utilizamos a solução Samba Vídeos e integramos a elas algumas features da própria Samba, de parceiros e também de desenvolvimento próprio. Com isso, oferecemos ao nosso aluno, além do consumo de vídeos sob demanda, legendas e libras, indexação inteligente com criação de playlists, transmissões ao vivo com interatividade. A experiência tem sido muito boa, tanto que nossa parceria tem crescido ao longo dos últimos anos. A ferramenta nos dá segurança e escalabilidade. Atualmente estamos avaliando outras soluções da Samba para oferecer ao nosso aluno uma experiência digital ainda mais imersiva e completa”, explica Joaldo Diniz, Diretor Executivo e Líder de Transformação Digital do Grupo Ser Educacional.
Fundada em 2004, a Samba Tech é uma das principais plataformas de vídeos online da América Latina.
Tendo como principais alvos ao longo de sua história os grupos de mídia e grandes corporações, atualmente, a Samba tem direcionado seu foco para o mercado de educação, no qual atende clientes como Damásio Educacional, Kroton, Estácio, PUC, além do próprio Grupo Ser Educacional.
Apesar de ser otimista quanto ao potencial do mercado EAD no Brasil, Pedro Filizzola, CMO da Samba Tech, aponta que as instituições de ensino ainda precisam superar dois desafios centrais para que este ecossistema se fortaleça, de fato, no Brasil.
“Retenção e atração de alunos são os principais pontos a serem superados. Atração está muito mais relacionado com a chancela da instituição de ensino e com o próprio conteúdo oferecido, mas a retenção está muito ligada à tecnologia e ao modelo pedagógico. As tecnologias entram para auxiliar no engajamento, na personalização do conteúdo e integração de Inteligência Artificial. É isso que fará com que os alunos tenham uma experiência diferenciada.”
Dados do Censo EAD 2016, confirmam que tais desafios estão as principais questões a serem vencidas pelas instituições de ensino.
Segundo a pesquisa, as taxas de evasão nas diferentes modalidades de ensino a distância chegam até a 25%.
Bernardo de Pádua, CEO da Quero Educação, explica como a plataforma está contribuindo para a democratização do ensino:
A Quero Educação foi fundada em 2010 com o propósito de transformar o mercado de educação por meio de tecnologia e inteligência.
Somos uma plataforma que conecta alunos às instituições de ensino. Além disso, a empresa oferece ao mercado soluções para que universidades maximizem seus resultados e para que os estudantes encontrem as melhores opções de estudos.
É o caso de nossas ferramentas de admissão e pagamento digital, e do nosso marketplace, o Quero Bolsa. Além disso, ampliamos nossa atuação com soluções de admissão e pagamento digital (Quero Pago) e Inteligência Educacional – essa última, uma plataforma completa para instituições de ensino que queiram tomar decisões com base em dados.
A empresa cresceu 100 vezes em faturamento nos últimos 5 anos e vem mantendo crescimento próximo de 100%. Somos também a primeira startup de educação do Brasil acelerada pela Y Combinator, onde nasceram Airbnb, Dropbox e Reddit. O Quero Bolsa conta com 1.300 instituições de ensino parceiras e já matriculou quase meio milhão de brasileiros em universidades pelo país.
Para superar este cenário, Pedro Filizzola explica que a própria Samba Tech tem desenvolvido estudos, visando auxiliar as instituições do ensino a diminuir a aumentar o engajamento de seus cursos a distância.
“Temos um analytics muito forte, que ajuda a melhorar a estratégia de conteúdo de nossos clientes. Temos percebido, por exemplo, que conteúdos excessivamente longos tendem a gerar mais evasão de alunos. Por meio do analytics, conseguimos perceber também a partir de que momento a taxa de rejeição ou engajamento com um conteúdo aumenta ou diminui. A ideia é de que, com todos esses estudos, as instituições possam moldar melhor seus conteúdos com base em dados e estatística”, conclui o CMO da Samba Tech.
A startup de Curitiba, Eadbox é especializada no desenvolvimento e comercialização de software para o ensino à distância, com diversas ferramentas para a gestão de cursos. Em 2017, a startup recebeu aporte de R$ 4 milhões da gestora de fundos catarinense, Bzplan.
A WeeGet é uma plataforma que oferece cursos para estudantes e professores, na qual instituições têm a possibilidade de fazer a gestão de seus portfólios educacionais. A startup recebeu aporte de R$ 500 mil no início da operação, em 2015.
A EduKart é uma startup que oferece um marketplace com uma oferta ampla de cursos de graduação, MBAs e certificados. Fundada em 2011 e com mais de US$ 2 milhões em investimentos, a EduKart é o maior ecossistema de ensino à distância da Índia.
WizIQ é uma edtech americana que oferece uma plataforma de LMS completa para a oferta de aulas ao vivo, gestão de conteúdo e possibilidade de criar cursos adaptados para o universo mobile. Fundada em 2012, já recebeu US$ 4 milhões em investimentos.