Entenda como as tecnologias e inovações estão mudando a maneira como os usuários estão se relacionando com suas saúdes, médicos, planos e hospitais.
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A cadeia da saúde é composta por vários elos, que envolvem desde os usuários e suas necessidades de consulta, diagnóstico, prevenção e tratamento, até agentes intermediadores, realizadores e fabricantes. Com uma convergência de preocupações do setor sobre o equilíbrio das operações, os atores de cada elo vêm atuando cada vez mais ativamente na busca de soluções para os desafios atuais e na construção das oportunidades futuras. Para isso, apoiam-se principalmente na exponencialidade e na descentralização propiciadas pelo mundo digital.
Um exemplo importante de relacionamento digital com a área, principalmente na saúde pública, é a questão crítica sobre a obesidade e o sobrepeso. A Organização Mundial da Saúde prevê que, até 2025, mais de 2,3 bilhões de pessoas estarão com sobrepeso, representando mais de 30% da população mundial. No Brasil, o relatório Panorama da Segurança Alimentar e Nutricional na América Latina e Caribe 2017, desenvolvido pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e a Organização Pan-americana de Saúde (Opas), aponta que esses índices também vêm aumentando no país – o sobrepeso passou de 51,1% em 2010, para 54,1% em 2014, e a obesidade, em 2010, tinha uma taxa de 17,8% e, em 2014, chegou a 20%.
Como uma tentativa de atuar ativamente no problema, o Governo brasileiro lançou, em novembro de 2015, o Pacto Nacional para Alimentação Saudável, que tinha como principal objetivo ofertar e incentivar a disponibilização de alimentos orgânicos, agroecológicos e provenientes de agricultura familiar. Campanhas de conscientização sobre essas e outras questões relacionadas à saúde podem fazer com que haja mudanças no comportamento das pessoas.
Um estudo desenvolvido pela Nielsen, Global Health and Wellness Report, aponta que há uma tendência na percepção da importância das atividades físicas e alimentação natural, com o mínimo de processamento industrial possível. Segundo o relatório, 50% dos entrevistados afirmaram estar se exercitando com o objetivo de perda de peso para se tornarem mais saudáveis. Além disso, 94% dos entrevistados da América Latina afirmaram estar dispostos a pagar a mais por produtos naturais.
A consolidação dos meios digitais como formas de comunicação torna esse processo de disseminação sobre a seriedade dessas temáticas muito mais preciso, pois permite que os indivíduos tenham mais acesso às informações e recursos. A ampla disponibilidade de informações pode, muitas vezes, ser um dos impulsionadores das mudanças de comportamento.
E foi justamente pensando nessa oportunidade que a Nutrisoft foi fundada em 2013. Utilizando-se de crowdsourcing e inteligência artificial para coletar dados e transformar em informações, a startup entrega conteúdos ricos sobre reeducação alimentar e vida saudável aos usuários, que podem ser conectados com nutricionistas. Com a solução, o usuário aprende a como cuidar da sua própria saúde, analisar seus hábitos e a perceber detalhes pequenos que o corpo mostra e como ele reage, por meio de informações personalizadas baseadas em localização e comportamentos dos usuários.
Aos profissionais da saúde parceiros entregam um software de gestão, que trabalha em conjunto com o programa educacional sobre saúde. Tendo a vantagem da portabilidade e a possibilidade de embarcar inteligência artificial, Gustavo Silva, fundador da Nutrisoft, afirma que o surgimento de novos meios, como os aplicativos, foi essencial para a área de saúde.
Os aplicativos são uma solução barata, rápida e muito prática para tentar atingir esses objetivos. Nós procuramos engajar nossos usuários a longo prazo, criando um vínculo de aprendizado sobre a importância da saúde. A digitalização como um todo foi importante para o movimento de vida saudável. Esse é um movimento natural baseado em políticas públicas de saúde, em propagandas e na relação que as pessoas têm uma com as outras. Os aplicativos se integram nesse crescimento e, de alguma forma, estimulam isso que vem acontecendo e nós vemos isso na Nutrisoft. Cerca de 32% dos downloads é por indicação boca a boca. As pessoas que passam a ter uma vida mais saudável acabam influenciando as outras do convívio. E as redes sociais também são importantes influenciadores nesse cenário”, conta Silva.
Outro exemplo de startup que ganhou espaço nesse meio foi a MyFitnessPal, criada em 2005 nos Estados Unidos. Também com a proposta de disponibilizar aplicativo e site para monitorar e melhorar a saúde e bem-estar, foi adquirida em 2015 pela Under Armour por US$ 475 milhões. Com mais de 80 milhões de usuários, a compra fora feita para formar a maior comunidade fitness do mundo. A MyFitnessPal havia recebido um investimento de US$ 18 milhões de um fundo liderado por Kleiner Perkins em 2013. Além da MyFitnessPal, a Under Armour foi responsável pela aquisição de outras duas startups de saúde: MapMyFitness e Endomondo.
A mudança também pode ser percebida em relação às buscas por informações relacionadas à saúde como no próprio Google. Após a divulgação na mídia sobre casos confirmados e mortes por conta da febre amarela, o número de pesquisas pelo termo e por postos de vacinação aumentaram 100 vezes entre a primeira (31 de dezembro de 2017 a 6 de janeiro de 2018) e a terceira (14 de janeiro de 2018 a 20 de janeiro de 2018) semanas de 2018, segundo pesquisa feita no Google Trends. Os estados que mais realizaram as buscas foram Rio de Janeiro, São Paulo e Espírito Santo, que, segundo o boletim epidemiológico da febre amarela, também foram os que tiveram as maiores quantidades de casos e mortes confirmados pela doença.
As buscas online também permitem que os usuários tenham conhecimento de patologias comuns, como gripe, dengue e colesterol, por exemplo, e seus sintomas e tratamentos. E, por 5% do volume das buscas no Google serem relacionadas à saúde, a empresa lançou, em 2016, uma parceria com o Hospital Israelita Albert Einstein para a oferecer um quadro de informações de doenças quando algum termo é buscado no Google, com o objetivo expandir esse tipo de conhecimento com garantia de credibilidade e qualidade de conteúdo.
Entretanto, apesar de ser levantado como uma problemática alarmante pelos profissionais da área, o autodiagnóstico por meio de buscadores, como o Google, está cada vez mais se tornando um hábito. Um levantamento realizado pela Pew Research em 2013, indicou que 35% dos americanos fazem buscas online com o objetivo de identificar as possíveis doenças para seus sintomas. Assim como é apontado por uma reportagem da Business Insider, a vasta disponibilidade de informações pode ter um efeito negativo: a geração de uma possível ciberhipocondria.
O termo foi utilizado pela primeira vez em 2000 por pesquisadores britânicos e consiste na busca online excessiva e compulsiva de diagnósticos pessoais. Pesquisadores da Imperial College London estimaram que visitas médicas realizadas por conta de ansiedades induzidas pelas buscas online custaram ao Instituto Nacional de Saúde britânico mais de 420 milhões de libras por ano.
Além disso, a possibilidade de estar em contato com diversos tipos de informações permite que recursos digitais, como as redes sociais, tenham um resultado de causa-efeito quanto ao progresso do movimento de cuidados individuais. Podem fazer com que haja um movimento de descentralização da responsabilidade da saúde, que antes era concentrada somente nos profissionais da área e, atualmente com o maior acesso às informações, passa a ser também uma tarefa do indivíduo. As novas gerações, por exemplo, por estarem inseridas de forma quase que natural no ambiente digital, acabam sendo influenciadas a terem vidas mais saudáveis e a cuidarem da saúde de forma preventiva.
A Goldman Sachs, por meio do levantamento Data Story Millennials, identificou que a saúde e bem-estar para os millennials é uma busca ativa diária. Para eles, ser saudável não significa somente não estar doente; ser saudável é ter o comprometimento com alimentação boa e exercícios regulares. Segundo o estudo, os millennials estão se exercitando mais, se alimentando melhor e aderindo ao autocuidado e tendo menos à hábitos não saudáveis, como fumar, do que as gerações passadas. Uma das razões apontadas pelo estudo foi justamente a conectividade entre eles.
A união desses novos comportamentos e o crescimento de inovações impacta também na geração de novos negócios. Os aplicativos de saúde são um exemplo. De acordo com o relatório mHealth App Economics 2017/2018, desenvolvido pela R2G em parceria com a Roche e a Daman:
Está se tornando cada vez mais comum as operadoras de saúde investirem em aplicativos como forma de estratégia de negócios. Segundo levantamento feito pela Celent em 2016, 39% das seguradoras já possuíam aplicativos. Entre 2013 e 2016, o número de empresas que ofereciam aplicativos havia dobrado. Isso, pois perceberam a oportunidade de aproximação dos clientes, ajudando-os a encontrar redes franqueadas, por exemplo, podendo evitar possíveis sinistros.
Saiba o que Fábio Tiepolo, CEO da Docway, fala sobre o assunto:
Com o objetivo de conectar médicos e pacientes, a Docway usa a tecnologia para tornar as integrações mais simples e descomplicadas para os profissionais e entregar facilidade e comodidade aos usuários. Nossos prontuários próprios, que armazenam informações dos pacientes e os quais outros médicos (de outros hospitais, por exemplo) podem ter acesso aos diagnósticos e tratamentos anteriores, também agregam valor às operadoras de saúde, pois, com eles, é possível um controle maior no sinistro do pronto atendimento. Hoje, tendo 3.600 médicos e 90 mil usuários cadastrados em nossa plataforma, que já tem mais de 150 mil downloads, queremos resgatar os atendimentos pessoais e personalizados. Acreditamos que as tecnologias tornam o setor de saúde sustentável. Com elas é possível fazer projeções de custo, tendo mais controle por meio de armazenagem de dados, trabalhar predições e trazer mais rigor aos custos e às fraudes.
Aplicativos voltados para a saúde mental são alguns exemplos. A Headspace, fundada em 2010 em Santa Monica, na Califórnia, é uma das startups que atuam neste mercado. A ideia surgiu em eventos corporativos, nos quais os fundadores perceberam que poderiam levar a experiência de meditação para todos por meio de tecnologias. Hoje, com milhões de usuários em 190 países, tem parcerias com outras grandes empresas, como Spotify, Unilever, GE, empresas aéreas, como Delta Air Lines, Virgin Atlantic e British Airways. Alguns dos problemas que a startup ataca são o estresse e o burnout.
Essas duas condições podem causar um crescimento no número de afastamentos nas empresas. As consequências disso são prejuízos de grandes escalas. De acordo com os cálculos realizados pelo ISMA, a falta de produtividade causada pela exaustão pode gerar um prejuízo de 3,5% do PIB. No Brasil, temos como exemplo a Psicologia Viva, que trata a conexão com psicólogos de maneira remota para atacar esse problema. Assim, soluções como essas podem reduzir o ambiente de estresse e melhorar a resiliência dos funcionários.
Além dos aplicativos, os gadgets que captam informações, como batimentos cardíacos, passos e calorias também estão se tornando ferramentas importantes na área de saúde. Em 2017, o mercado de wearables médicos alcançou US$ 6.2 bilhões e, segundo levantamento feito pela ReportsnReports, até 2022 pode alcançar US$ 14.4 bilhões. A grande razão para esse crescimento se dá pelos aplicativos serem compatíveis com eles. Os wearables voltados para diagnóstico, monitoramento, esporte e fitness dominarão o mercado e, assim como foi apontado pelo estudo, se tornarão ainda mais competitivos com o tempo.
Gigantes da tecnologia, como a Apple e a Samsung, participam desse mercado comercializando seus próprios wearables. Danilo Weiner, Head de Design Research da Samsung, acredita que os smartphones terão um papel importante no futuro da área de saúde. Segundo ele, pelo smartphone ter se tornado o hub de atenção das pessoas atualmente, eles passaram a ser um facilitador de diagnósticos, conhecimento sobre questões da área e atendimento. Assim, “entendendo que a relação entre a área de saúde e as tecnologias faz com que a gente caminhe para algo mais inclusivo e democrático, queremos alavancar o Samsung Health não só para ser um aplicativo de saúde, mas também de bem-estar”, afirma.
Saiba o que Danilo Wainer, Head de Design Research da Samsung, fala sobre o assunto:
Temos investido na área de saúde em produtos como o Samsung Health com o objetivo de empoderar as pessoas a entenderem mais sobre suas próprias saúdes e dar mais acessibilidade aos diagnósticos. Por meio das tecnologias, caminhamos para um futuro em que a saúde se torna mais inclusiva, democrática e com mais equilíbrio de poder entre os médicos e pacientes. Nós, como líderes em fabricação e vendas de smartphones, vemos que poderemos dar às pessoas ferramentas que poderão ser o suporte de informações reais para tratamentos personalizados, além de permitirem que elas tenham autodiagnósticos mais embasados. A relação entre as empresas e as startups é essencial para a construção de uma área de saúde melhor, de forma que possam, em conjunto, criar novos modelos de negócio que beneficiam toda a cadeia por conseguirem entregar soluções escaláveis.
Entretanto, não são apenas os grandes players que estão atuando neste mercado. A FitBit é uma das startups que desenvolvem sensores wearables compactos para acompanhar as atividades diárias dos usuários para promoção da vida saudável. Fundada em 2007, já recebeu mais de US$ 60 milhões de fundos de investimento, tais como a Qualcomm Ventures, a True Ventures e o Foundry.
Os wearables também podem ser usados para detecção de doenças crônicas, como a epilepsia, que atinge mais de 65 milhões de pessoas e, segundo a Sociedade de Epilepsia do Reino Unido, um em cada 10 britânicos possuem a doença e uma em cada 50 pessoas no mundo poderão ter. Startups, como a Empatica, trabalham com soluções para esses tipos de problemas. A Empatica disponibiliza uma smartband, que é uma pulseira inteligente, capaz de identificar convulsões, ataques epilépticos, monitorar o sono e atividades físicas e enviar essas informações aos cuidadores.
Com grandes clientes, como o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), o Boston Children’s Hospital, a NASA e a Fundação Epilepsia, a startup, que foi fundada em 2011, tem aprovação do FDA nos Estados Unidos e já recebeu aproximadamente US$ 8 milhões de investimento. No Brasil, vemos startups desenvolvendo soluções com foco em crônicos, como a Glucogear para diabéticos.
Assim como também será tratado de forma mais aprofundada em outros posts, as inovações, como esses dispositivos de monitoramento de paciente, podem ter um impacto direto em diversos outros atores da cadeia de saúde.
A Empatica é uma startup americana que acompanha e monitora por meio de um wearable as atividades cerebrais do usuário, alertando a rede de cuidadores cadastrado pelo mesmo quando o usuário está em convulsão. A startup já levantou cerca de US$ 8 milhões em investimentos.
A startup sueca Lifesum ajuda os usuários a terem uma vida saudável usando de tecnologia para sugestões de hábitos e dietas conforme o seu perfil. Com mais de 10 milhões de downloads na Google Play, a startups já levantou mais de US$16 milhões em investimentos.
A Docway, startup brasileira, conecta médicos e pacientes para consultas em casa. A startup conta com mais de 3.600 médicos e 90 mil usuários cadastrados em nossa plataforma, que já tem mais de 150 mil downloads. A startup já recebeu investimento do Grupo Garantia e adquiriu a startup Dr. Vem.
Como uma junção de interesses em saúde alimentar das pessoas e gestão remota para acompanhamento nutricional, a startup brasileira Nutrisoft surgiu em 2013 e já acumula hoje mais de 1,8 milhões de downloads, expandindo sua atuação para mais 5 países.