12 de setembro de 2022 Artigos

O uso de inteligência de dados no setor Agropecuário

Entenda como plataformas e soluções de análise e inteligência de dados são importantes para a digitalização e automatização de processos no setor

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Após a captação dos dados na fazenda, outro ponto de atenção que os produtores precisam ter ao tentarem tornar suas fazendas mais inteligentes é a implementação de sistemas de gestão. A importância de uma gestão digitalizada se dá pela interpretação de uma vasta quantidade de dados gerados, captados por dispositivos IoT, sensores, drones, entre outras tecnologias.

A Business Insider estima que, até 2020, mais de 500 mil pontos de dados serão gerados por fazenda em um dia. Até 2034 esse número poderá chegar a quatro milhões de pontos de dados. Sem uma análise desses dados de forma automática, torna-se praticamente impossível retirar insights assertivos e rápidos. Além disso, assim como Glauber Vicari, Head of Digital Labs LatAm da Yara, comentou no capítulo anterior, há uma necessidade em integrar as plataformas, de forma que o produtor rural possa concentrar todas as informações em um só local, facilitando a sua tomada de decisões.

Arte sobre o aumento no número de pontos de dados que serão gerados em fazendas nos próximos anos.

O movimento das corporações em direção à digitalização e consequente ganho de eficiência

A Monsanto, empresa multinacional de agricultura e biotecnologia, é um exemplo de corporação do setor que vem buscando tecnologias para tornar os processos agrícolas mais eficientes e rentáveis. Além de terem investido na Grão Direto, startup que se propõe a digitalizar o processo de compra de grãos, e na Tbit, startup que usa inteligência artificial para análise de qualidade das sementes, em 2013, a Monsanto fez a compra por US$ 1 bilhão da Climate FieldView, uma plataforma que interpreta dados, gerando insights aos produtores.

Por meio da equipe de campo, que é composta por mais de 1000 profissionais, captam os desafios enfrentados pelos mais de 300 mil agricultores clientes da plataforma. Segundo Bernardo Nogueira, Investor Partner da Monsanto Growth Ventures, a MGV, uma das principais dificuldades é a gestão de propriedades. “Entender o que acontece dentro da porteira é uma demanda muito grande. O produtor precisa ter velocidade, inteligência de plantio e entender novidades do solo e a qualidade de aplicação de defensivos agrícolas”, diz.

Além disso, ele afirma que a revolução no setor, que vem sendo uma pauta recorrente, não acontecerá sozinha. De acordo com Nogueira, é importante haver colaboratividade entre grandes corporações e startups. O desafio nesse relacionamento, entretanto, é as startups terem fôlego financeiro e foco para não desistir.

“É importante haver bons agentes financiadores, como nós, interagindo com as startups e dando oportunidade para elas se desenvolverem. O ecossistema brasileiro tem amadurecido e, com um pouco mais de amadurecimento, poderemos ver o primeiro unicórnio brasileiro do setor de Agro”, afirma Nogueira.

A Valid, que atua nos segmentos de meios de pagamento, sistemas de identificação e telecomunicações, compartilhou da mesma visão da Monsanto e, em 2018, adquiriu a Agrotopus, uma startup paranaense de gestão integrada de maquinário, atividades de manejo, microclima e saúde de propriedades rurais, além de automação para armazém e indústria de rebeneficiamento, por R$ 6,5 milhões.

Por meio de um aplicativo, portal, loja virtual e marketplace, os produtores têm acesso a informações das cooperativas ou do mercado de forma rápida e fácil. De acordo com Gustavo Henrique Busnardo, Cofundador e COO da startup, a Agrotopus nasceu a partir da percepção de que era preciso ter uma visão unificada de todas as frentes e aplicações de IoT no mercado.

“Usamos tecnologias semelhantes às apresentadas no mercado, mas as integramos e distribuímos de forma muito mais inteligente. Permitimos que os produtores de pequeno e médio porte tenham acesso a uma série de serviços de tecnologias digitais sem ter que contratar quatro, cinco ou seis empresas para isto”, diz.

Segundo Busnardo, também geram benefícios mútuos das associações para os produtores. “Com posse dos dados da produção armazenada e monitorando em tempo real os produtores, as associações oferecem novos serviços ou melhoram a eficiência dos serviços já prestados. Já o produtor, além de se beneficiar desses serviços, têm um custo muito menor devido ao rateio com todos os aderentes e cria uma fidelização com a associação. É um ciclo virtuoso”, explica.

A Agrotopus tem clientes como as Cooperativas de café Minasul e Expocaccer, além da usina de rebeneficiamento UCOM. Juntas somam uma base de mais de 20 mil produtores associados, com percentual crescente de uso da plataforma de forma recorrente.

As empresas clientes representam 50% do mercado interno e 85% do share de exportação de café, no qual o Brasil é o maior produtor global em volume. A Agrotopus está em 12 armazéns, com mais de três milhões de sacas de café gerenciadas, sendo 8% do volume total de café na plataforma.

AgTechs e soluções de integração para o mercado

Fundada em 2014, a Agrosmart é uma das principais AgTechs que trabalham com gestão de integrada de fazendas. Por meio de sensores que são instalados no campo, a startup gera recomendações ao capturar dados no campo e integra com diferentes fontes, interpretando as necessidades da planta em tempo real em relação a irrigação, aplicações, plantio, colheita, doenças e pragas.

Arte que elenca motivos que estão atraindo startups para o setor agropecuário.

Ao entender a necessidade da lavoura por meio da plataforma, o produtor toma decisões mais assertivas na irrigação, economizando até 60% de água e em 30% o uso de energia. Segundo Mariana Vasconcelos, CEO da Agrosmart, o setor está mudando em relação às tecnologias. Ela afirma que, aos poucos, está vendo mais aceitação e estão vendo novas oportunidades para agregarem valor na cadeia de produção. “A redução gradual de custo dessas tecnologias e o alto potencial de ganhos faz com que a agricultura digital se tornasse uma das grandes revoluções no campo, disseminada em todas as fazendas”, diz.

Atualmente o foco da startup está no lançamento de novas funcionalidades, consolidação da liderança no Brasil e avanço no processo de internacionalização para diferentes países da América Latina. São a plataforma de agricultura digital líder na América Latina e tem entre seus clientes empresas como Raízen, Syngenta, Coca Cola, Café Orfeu e Água de Coco Obrigado.

Outra startup que atua solucionando o desafio de gestão digitalizada de fazendas é a InCeres, fundada em 2013, que permite a gestão de usuários, de atividades, planejamento inteligente de amostragens e análise de dados coletados do solo, com mapas de fertilidade, produtividade e dashboards interativos.

A startup entrega, aos consultores agrônomos, uma redução do tempo de recomendação; aos agricultores, um aumento na produtividade e melhoria no esforço de compra de insumos; e, aos fornecedores, um aumento na área abrangida, gerando também maiores vendas a eles. De acordo com o Diretor de Operações da InCeres, Edson Aguilera-Fernandes, a startup atua principalmente no desafio de integração. Isso, pois os players estão localizados em regiões geograficamente distribuídas.

Entendendo essa dificuldade, a startup criou uma plataforma que permite a interação entre todos os atores do setor, como consultores, agrônomos e fornecedores de insumo, para que gerem valor uns aos outros. Os clientes se logam na plataforma e podem fazer recomendações, comprar e buscar informações. Aguilera ainda afirma que, para superar a digitalização no Agro, é preciso que haja uma aliança inclusiva dos players.

“A sincronia dos diversos players é o que permitirá que nós alcancemos um nível de digitalização e, consequentemente, de produtividade, demandados pelo mercado mundial”, afirma. “Por sermos uma empresa independente, conseguimos aproximá-los e fazer com que a relação deles no mercado seja transparente e ética. Ao invés de oferecermos soluções tecnológicas para o agricultor, oferecemos soluções para as suas dores do dia a dia”, continua Aguilera.

Atualmente a InCeres atende a seis milhões de hectares na plataforma, o que representa 12% da área total do Brasil.

Desafios e entrega de valor por parte das startups

A sincronia dos players não é o único desafio enfrentado pelas startups. Segundo José Damico, CEO da SciCrop, outra AgTech brasileira de destaque no setor, o maior desafio que enfrentam é fazer com que os tomadores de decisão entendam que a adoção correta das tecnologias de análise de dados aumenta a receita e diminui os custos. E, para isso, é preciso que haja uma união da gerência agrícola e da área de TI.

“No setor de Agro temos uma estrutura hierárquica quase que padrão, na qual a gerência agrícola não tem o conhecimento dos tomadores de decisão, que também não têm o conhecimento técnico. Ao mesmo tempo, em muitos casos, a equipe de TI é vista como ferramental e não estratégica e portanto não participa das decisões de compra de equipamentos e tecnologias do Agro, em grande parte geradoras de dados de extrema importância para a empresa. Para que as soluções sejam implementadas de forma integral nas corporações, é preciso uma união desses três atores”, afirma.

A SciCrop permite que as agroindústrias analisem todos os dados relacionados à sua produção agrícola em um só dashboard para que possam monitorar a produtividade e as atividades do campo por meio de um assistente digital. Ainda de acordo com Damico, o principal valor que entregam a seus clientes é a certeza de qual será a oferta, demanda e riscos de produção. Capazes de monitorar um novo hectare por dia, a SciCrop já avaliou remotamente mais de um milhão de hectares.

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A Aegro é uma startup fundada em 2014, em Porto Alegre, que desenvolveu um software de gestão agrícola. Por meio de um painel de controle, os produtores são capazes de ter uma visão holística dos insumos, das atividades realizadas, dos custos e da colheita.

Fundada em 2005, o FalkerMap é um software para gestão da agricultura de precisão, com o qual é possível trabalhar com mapas de condutividade do solo, NDVI, imagens aéreas, entre outros recursos. Permite também recomendações e análises por meio do software.

A Agrilyst é uma plataforma fundada em 2015, em Nova Iorque, que ajuda pequenos produtores a gerenciar suas colheitas por meio de sensores e de um dashboard completo com informações sobre a evolução das plantações. Já arrecadou investimentos no total de US$ 2,5 milhões.

A solução da Arable, fundada em 2013 em Nova Jersey, gerencia riscos climáticos e saúde da plantação em tempo real, além de gerar insights baseados na própria fazenda. Com produtos voltados para irrigação, clima e colheita, a Arable já captou investimentos no total de US$ 9,8 milhões.

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