12 de setembro de 2022 Artigos

Novos hábitos de consumo: delivery e a comida como experiência

Analisamos a mudança dos hábitos de consumo por parte da população que, mais informada, opta pela pratiidade e passa a enxergar a comida como experiência

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Compreender as novas tendências – que agora já se apresentam como realidade – e˙hábitos de consumo dos consumidores se mostra não apenas como um desafio para as empresas de alimentação, mas também uma necessidade. Isso porque o mundo digital proporcionou a eles uma infinidade de informações, utilizadas como base de comparação e posterior escolha por determinado produto alimentício ou serviço de alimentação. Além disso, existe uma necessidade de conexão maior entre as duas pontas: o consumidor quer ter experiências satisfatórias com as marcas, que por sua vez precisam entendê-lo melhor para atender a esses desejos.

De acordo com o estudo Brasil Food Trends 2020, se movimentos de mudança no comportamento dos consumidores se apresentavam com uma lentidão maior no passado, atualmente o panorama é totalmente diferente: registra-se uma “redução exponencial dos intervalos de tempo necessários a transformações mais significativas”.

Uma ressignificação e a comida como experiência

O estudo elenca as principais exigências e tendências mundiais apresentadas por parte dos consumidores. Uma das principais é a relacionada a Sensorialidade e Prazer, presente em sete das nove pesquisas analisadas para elaboração do estudo. De acordo com a análise, essa tendência é resultado de um aumento do nível de educação, renda e maior exposição a informações por parte da população.

Assim, há uma maior valorização de artes culinárias e experiências gastronômicas por parte do consumidor, que impacta diretamente na prestação de serviços e desenvolvimento de produtos por parte da indústria. Tais aspectos implicam também em um maior valor dado à socialização da alimentação, entregando aos alimentos um poder de conexão entre pessoas. Em suma, tornam o mercado alimentício também em um espaço de entretenimento.

Imagem com informações sobre o fato do consumidor valorizar artes culinárias e experiências gastronômicas.

A Foodpass nasceu dessa percepção da gastronomia como forma de cultura e um produto de entretenimento, com o objetivo de reconectar as pessoas com o alimento. A empresa é uma plataforma digital que promove uma ponte entre consumidor, especialistas e marcas. Atua sobre três pilares: marketplace que vende tickets para eventos gastronômicos; a Comunidade, uma plataforma de conteúdo; e design de projetos que usam o potencial de encantamento da experiência alimentar em ativações de marketing.

De acordo com Priscila Sabará, fundadora e CEO da startup, o consumidor atual busca, cada vez mais, informações sobre a cadeia de produção e querem conectar-se com os produtos que consomem e com as marcas que os produzem.

“A experiência alimentar cria oportunidades de escrever histórias inovadoras com alto engajamento afetivo. Existe uma necessidade latente de repensar o consumo alimentar evidenciado pelos problemas de saúde individual e do meio ambiente. Os consumidores se tornam coprodutores ao se responsabilizarem por suas escolhas de consumo. Vejo o poder de entretenimento da comida como uma ferramenta muito óbvia, sedutora e simples para gerar essa reconexão. Isso possibilita que a indústria se reinvente e proponha ações que efetivamente acompanhem as mudanças do mercado. A nova geração possui uma consciência de consumo totalmente diferente, em busca de mais experiências, e estão conscientes que suas escolhas tem o poder de enriquecer ciclos de produção dentro da cadeia”, declara Sabará.

A mudança nos hábitos de consumo e a busca por conveniência e praticidade

Ainda segundo o estudo Brasil Food Trends 2020, outra principal tendência é a Conveniência e Praticidade (indicada em 78% das pesquisas analisadas) que as pessoas buscam no momento das refeições. Isso significa que os consumidores baseiam suas escolhas de acordo com o ritmo de sua rotina, buscando economizar tempo e esforços para se alimentar. Assim, passam a optar, por exemplo, por refeições prontas, congeladas, alimentos de fácil preparo e, principalmente, pelo delivery.

Se antigamente as opções de pedido se limitavam a pizza, esfihas, lanches e comida chinesa, atualmente serviços como o iFood, Rappi e Uber Eats oferecem uma infinidade de alternativas, com cozinhas cada vez mais especializadas. Uma evidência da maturidade desse mercado é o fato do iFood ter captado, no final de 2018, US$ 500 milhões em investimentos, a maior rodada já registrada por uma startup brasileira – um unicórnio desde março de 2017, de acordo com Fabricio Bloisi, CEO da Movile, empresa dona do aplicativo de entregas.

Conforme informações do portal Computer World, o app registrou 14,1 milhões de pedidos em janeiro de 2019, que representa uma média de 500 mil diários; conta, ainda, com aproximadamente 10,8 milhões de usuários.

Apesar da liderança atual do iFood dentro do mercado de delivery – a empresa é, segundo informações da SimilarWeb publicadas em matéria do portal PEGN, 16 vezes maior do que o concorrente brasileiro mais próximo em número de usuários –, o panorama se mostra favorável para a grande maioria das startups que se inserem nele.

Conforme dados divulgados em 2018 pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), o setor registrou faturamento acima dos R$ 10 bilhões em 2017. Grande parte desse cenário favorável e promissor se dá pela flexibilidade de opções de produtos que podem ser entregues, desde refeições comuns até outras mais especializadas, segmentadas e naturais.

Novas soluções preenchendo o mercado

Uma iniciativa que surgiu nessa onda do delivery e de uma demanda dos consumidores por comidas mais naturais é a Eats for You, criada em 2018, um aplicativo de entrega de refeições caseiras.

De acordo com Nelson Andreatta, Fundador e CEO da startup, a ideia surgiu após uma percepção de que os restaurantes localizados próximos do seu antigo escritório de trabalho não supriam suas necessidades no horário de almoço, situação que ele considera comum em regiões corporativas.

“Quando idealizamos o negócio, percebemos que mais pessoas passavam por isso, um desejo por aquela alimentação feita em casa. Ao mesmo tempo, era um momento de crise, com milhões de desempregados, então era uma opção de renda extra para pessoas que gostam de cozinhar. Hoje existe um propósito muito claro, de levar esse tipo de alimentação às pessoas, por um preço justo e gerar renda para a outra ponta”, conta Andreatta.

Segundo ele, o sistema de logística, baseado em PDDs (Pontos de Distribuição), é um grande diferencial do serviço. São trailers e foodbikes localizados em lugares estratégicos, como prédios empresariais, que contam com grande fluxo de pessoas. Tal opção, conforme Andreatta, reduz o preço da refeição, já que não adiciona a taxa de delivery. Em um ano de operação, a startup comercializou um número superior a 40 mil refeições, que resultaram em mais de R$ 400 mil gerados para donos e donas de casa.

Outra startup que desenvolveu uma solução que foge das convencionais de delivery é a Marmotex, focada em entrega de almoços corporativos em empresas. Atualmente, oferece três tipos de serviço: entrega de refeições unitárias (para um único dia e/ou agendadas), um clube de assinatura de dez ou 20 refeições ou pacotes customizados para as empresas.

As condições necessárias para a realização dos pedidos são duas: que eles sejam feitos até as 11h da manhã e que a empresa cadastrada esteja dentro do raio de entrega das refeições. Atualmente, a Marmotex atua em um formato praticamente D2C (Direct to Consumer), produzindo 80% dos pedidos que recebe e delegando 20% a restaurantes parceiros, principalmente àqueles de cozinhas regionais e étnicas.

“No início, trabalhamos com o mercado de marketplace puro, não produzíamos nenhuma das refeições. Depois começamos a fazer testes com poucos restaurantes, até chegarmos no modelo atual, em que internalizamos a produção. Assim, atualmente nós recebemos os pedidos, produzimos e entregamos, praticamente 100% de forma interna”, conta Pii Chun, Cofundador e CEO da Marmotex.

A startup possui, em 2019, uma base de 15 mil usuários recorrentes mensais, com oito mil empresas cadastradas e seis mil ativas, tendo realizado a entrega de mais de 350 mil refeições.

Segundo Chun, a internalização desses processos permitiu uma padronização da entrega final, desde a produção dos alimentos até a embalagem utilizada, conferindo um maior valor agregado e qualidade ao consumidor, além de um preço mais competitivo. A pivotada fez com que se tornasse menos complicada a entrega de refeições que vão de acordo com as necessidades dos clientes da Marmotex e outros eventuais consumidores.

“Atualmente existe essa procura por personalização, de entregar de acordo com o hábito de consumo da pessoa. As startups têm facilidade em se adaptar a comportamentos. Existe, por exemplo, esse boom de alimentação saudável e nós queremos cada vez mais deixar isso personalizado, porque é claro o interesse nesse segmento”, afirma Chun.

Andreatta também enxerga no mercado um caminho em direção a uma alimentação cada vez mais saudável, que já apresenta seus sinais atualmente.

“Não existe mais a demanda do mercado, só a do consumidor: o que ele quer e como. Acredito que as startups têm facilidade em atender a esses desejos. As pessoas estão em um estágio de conveniência tão grande que não admitem mais alguns aspectos do mercado tradicional. É crescente, por exemplo, o afastamento de produtos industrializados. Atualmente, 40% das nossas vendas são de comidas saudáveis, 10% são de refeições vegetarianas e veganas. As novas gerações têm hábitos muito diferentes e a adaptação é necessária”, finaliza ele.

Assim, aos aspectos relativos à conveniência e praticidade que já fazem parte dos hábitos de consumo das pessoas, unem-se tendências relativas a Saudabilidade e Bem Estar, cuja intensidade resulta em um dos segmentos alimentícios mais crescentes do Brasil: o mercado de alimentação saudável.

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A Apptite é um aplicativo de delivery que conecta consumidores e chefes de cozinha experientes em seu serviço, que preparam cardápios variados, incluindo refeições orgânicas, veganas, vegetarianas e sem glúten. A startup já recebeu R$ 1,3 milhão em investimentos.

A ChefsClub, startup de assinatura para benefícios em restaurantes, com uma base de mais de 2.500 estabelecimentos cadastrados, oferece experiências gastronômicas diferenciadas para os consumidores. Depois de receber R$ 1,8 milhão em investimentos, se fundiu com a Grubster.

O Restorando é uma startup argentina presente no Brasil e em grande parte da América do Sul. Sua solução permite um controle em tempo real das mesas disponíveis e permite a construção de uma base de dados para campanhas de marketing direcionadas. Em quatro rodadas, recebeu mais de US$ 26 milhões e investimentos; em 2019, foi adquirida pela The Fork.

A americana ZumePizza criou uma plataforma automatizada de delivery de pizza e outras refeições, que se utiliza de dados para prever a demanda em determinado dia, região e horário. Além disso, as entregas são realizadas por vans, que funcionam como cozinhas móveis. A Zume Pizza já recebeu um total de US$ 423 milhões em investimentos.

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