Confira como as startups e novas tecnologias podem otimizar os processos de produção e auxiliar na integração de sistemas inerentes à Indústria 4.0
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A entrada de inovações nos processos produtivos não é algo recente. Desde a primeira Revolução Industrial, novos equipamentos e técnicas chegam às fábricas e causam grandes e importantes transformações. As primeiras máquinas, quando introduzidas nos processos, foram as principais responsáveis pela mudança na economia agrária predominante existente até o século XVIII. O mesmo aconteceu no período da segunda e terceira revoluções industriais, que foram marcadas, respectivamente, pelo aperfeiçoamento de tecnologias desenvolvidas na primeira fase e a implantação de tecnologias da informação nos processos de produção industrial.
Muitos já falam sobre estarmos vivenciando uma quarta revolução, que tem como principal característica a integração entre cadeias, dada pela convergência dos mundos físico e digital. As mudanças causadas pela Indústria 4.0, como também é chamada, têm sido palco de discussão sobre o futuro da manufatura global. Com a conexão entre máquinas e sistemas, é possível que a fábrica tenha autonomia para se adaptar a falhas de processos e se auto manter. Algumas das tecnologias que formam a Indústria 4.0 são os sistemas ciberfísicos, como IoT e IoS e as fábricas inteligentes. Uma de suas principais consequências é a descentralização tanto da produção quanto dos processos decisórios.
Veja o que Bruno Soares, Planning Manager na ABDI, fala sobre o assunto:
Na indústria hoje há a integração de sistemas e cloud, que usam inteligência artificial para otimização de tempo, custo e maior produtividade e têm o objetivo de monitorar e controlar os processos de produção. Algumas empresas já estão adotando tecnologias emergentes em seus processos. O desenvolvimento delas dependerá do nível de maturidade que têm no setor. Há empresas que estão preparadas para interagir com essas tecnologias e tem outras que não estão. A questão é que indústria não permite erros. Os donos das empresas precisam ver retorno financeiro da aplicação tecnológica no processo. A adoção das tecnologias na indústria está andando, mas em uma velocidade menor do que em outros setores. As corporações estão, de fato, olhando para as startups como novidades tecnológicas. Entretanto, há uma dificuldade em adaptar os processos internos para recebê-las por conta do receio em correr riscos.
As novas tecnologias podem auxiliar no aumento de produtividade, introdução a novos modelos de negócio, flexibilidade e redução do tempo de produção, além da diminuição de custos. De acordo com dados do European Parliament Research Service, a Indústria 4.0 tem potencial para gerar ganhos na eficiência entre 6% e 8%. São por essas e outras razões que grandes empresas, como a General Electric, investem em startups que desenvolvem ou apresentam serviços utilizando tecnologias emergentes para a indústria.
A GE fundou, em 2013, a GE Ventures, que, de acordo com o levantamento realizado pelo Crunchbase, já realizou mais de 130 investimentos em aproximadamente 100 empresas. A startup Freightos recebeu, em março de 2017, um investimento de 25 milhões de dólares da GE Ventures. A startup, que tem o objetivo de digitalizar e minimizar a fricção existente nos processos de logística internacional, já captou um total de 50 milhões de dólares.
No Brasil, as indústrias ainda estão caminhando na introdução das tecnologias em suas fábricas e processos. De acordo com a Confederação Nacional da Indústria CNI, 58% das empresas reconhecem a importância das inovações tecnológicas para a produtividade e, consequentemente, para a competitividade. Entretanto, somente 48% delas efetivamente as implantam e utilizam pelo menos uma das tecnologias avaliadas pela Confederação. Isso ocorre porque o baixo conhecimento ainda é um fator que dificulta o total ingresso. Ainda de acordo com a pesquisa, 43% dos entrevistados não conseguiram identificar qual das 11 tecnologias teria o maior potencial para impulsionar a competitividade.
Quando cruzamos o assunto tecnologias emergentes com a Indústria 4.0, a sinergia entre os temas é quase instantânea. Em nosso estudo preliminar, identificamos mais de 65 tecnologias sendo trabalhadas ao redor do mundo com aplicação neste setor. Entre elas, temos conceitos como manufatura descentralizada, robôs industriais colaborativos, impressões 3D em metais, robótica avançada, inteligência artificial alinhada a big data para análises preditivas, entre outras.
Apesar de ainda ser um movimento novo, já há empresas brasileiras que estão revendo os processos e investindo em tecnologias em suas plantas. A Gerdau é uma delas. A empresa criou o projeto Usina Digital, que tem como objetivo digitalizar as usinas. Uma das ações do projeto consiste na utilização de smartphones para classificação de sucatas. Com o monitoramento do processo da cadeia de produção, é possível que haja uma eficiência maior, além da redução do tempo de trabalho. Grandes empresas, como a Votorantim e a Ambev, também abriram programas para investimento em startups para modernização de fábricas.
Veja o que Wellington Moscon, CEO da GoEpik, fala sobre o assunto:
Nosso primeiro contato com a tecnologia de realidade aumentada aconteceu há 7 anos. Eu e minha sócia fomos à Paris fazer uma parceria tecnológica com uma empresa que estava muito avançada em RA. Voltamos ao Brasil com a parceria firmada, o que nos tornou pioneiros neste campo no país. Recentemente tivemos um contato maior com a indústria por meio de um processo de incubação no SENAI. O fato de estudarmos a fundo a indústria 4.0 e de estar em contato com a indústria por meio do SENAI nos levou a fundar a GoEpik. Hoje trabalhamos por meio de parcerias com grandes empresas como Epson, Murrelektronik e Microsoft, além de participar eventos com foco em 4.0. A indústria já está preparada para receber e interagir com tais tecnologias disruptivas. A procura é crescente e os cases de sucesso também. As mudanças causadas pelas tecnologias emergentes já são realidade e podem ganhar ainda mais força à medida que diretores e gestores fiquem cientes de todos os benefícios que esta disrupção traz.
Além do engajamento e envolvimento das grandes corporações brasileiras neste processo de evolução para a Indústria 4.0, startups também vêm sendo criadas para assumir riscos e abrir portas para as mudanças mais disruptivas deste mercado. É o caso da startup paulista Peerdustry, que vem desenvolvendo em parceria com o SENAI o conceito de manufatura colaborativa, reunindo e oferecendo opções para a descentralização de processos das indústrias.
Segundo um estudo feito pela Consultancy UK, estima-se que a Indústria 4.0 mundial receberá, até 2020, cerca de 4.5 trilhões de dólares em investimentos. Isso mostra não só uma tendência, mas a real atividade para a transformação dos processos industriais, conectando e interagindo recursos físicos e digitais em benefício das variáveis de produção.
A Sight Machine é uma startup americana de análise e acompanhamento de processos industriais conectados. Já levantou mais de US$30 milhões em investimentos, tendo como um dos seus investidores a GE Ventures, fundo da GE.
A Desktop Metal é uma startup americana de hardware, software e design para impressão 3D em materiais metálicos. Captou mais de US$200 milhões em investimentos, tendo BMW i Ventures e GE Ventures como investidores.
A Aquarela é uma startup brasileira com expertise em desenvolvimento de ferramentas de análise e modelagem de dados, usando de AI e outras tecnologias cognitivas. Recebeu recentemente um aporte do Fundo Aeroespacial, composto por Embraer, Finep, BNDES e Desenvolve SP.
A GoEpik é uma startup brasileira que desenvolve aplicações em realidade virtual e aumentada focada na indústria, atuando como ferramenta desde a manutenção, montagem e operação de equipamentos. A startup têm ganhado destaque com premiações nacionais.