12 de setembro de 2022 Artigos

EdTechs: as startups que estão transformando a educação no Brasil

Confira como as inovações tecnológicas e as EdTechs podem contribuir com a mudança de paradigmas e processos na educação brasileira

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Qual a força do ecossistema de EdTechs no Brasil? A resposta para essa pergunta envolve, antes de mais nada, uma análise mais ampla e global do cenário das startups de educação. Em 2017, por exemplo, os investimentos no mercado de EdTechs atingiram um recorde histórico de US$ 9,52 bilhões, de acordo com informações da Metaari, consultoria de marketing, divulgadas pela Forbes.

De acordo com a análise, mais de 800 EdTechs receberam investimentos em 2017 – o que gerou um aumento expressivo de 30% de aportes em relação a 2016. Outros dados interessantes deste mercado englobam alguns fatos importantes para entendermos os rumos da tecnologia no âmbito educacional.

Primeiramente, vale notar que, nos Estados Unidos, as EdTechs que mais captaram recursos em 2016 atuam com educação corporativa (aproximadamente US$ 593 milhões); por sua vez, somente levando em conta o mercado de aplicativos educacionais, em 2016, temos um ecossistema avaliado em mais de US$ 2,5 bilhões; finalmente, o cenário de EdTechs cresce também em outros mercados robustos.

Na China, por exemplo, as EdTechs devem se expandir, em média, 20% nos próximos anos, tendo atraído mais de US$ 1 bilhão em investimentos, pela primeira vez, em 2017. Todos estes dados foram compilados aqui.

Não é à toa, pois, que as tecnologias direcionadas para a educação devem atrair, até 2020, investimentos na casa de US$ 252 bilhões, conforme projeção da EdtechXGlobal.

Segundo o estudo, o crescimento médio no período deve ser de 17%, denotando um movimento global de distribuição e fortalecimento de soluções inovadoras especificamente voltadas para os processos de ensino e aprendizagem. Com todo esse contexto de crescimento, como posicionar o Brasil no cenário global de startups de educação?

Os desafios das EdTechs Brasileiras

A princípio, é possível apontar que o ambiente educacional brasileiro também atrai os ventos da inovação. Um levantamento da Associação Brasileira de Startups, realizado em parceria com o Centro de Inovação para a Educação Brasileira (CIEB), por exemplo, apontou que o segmento de educação lidera, em quantidade, o número de startups do país.

Todavia, ao observarmos o cenário macro, percebemos que o posicionamento do país ainda é discreto quando pensamos no mercado global das startups de educação.

Em um estudo da Navitas Ventures que analisou 20 cidades e seus respectivos ecossistemas de EdTechs, São Paulo aparece em 18º em relação ao número de startups – a frente apenas de Cape Town na África do Sul e Kuala Lumpur na Malásia.

Como veremos ao longo deste estudo, para que o Brasil possa vencer este cenário e explorar todo o seu potencial tecnológico, será necessário, inicialmente, resolvermos problemas estruturais ainda básicos, inclusive no próprio contexto educacional.

“Existem ainda alguns grandes gargalos para uma maior difusão tecnológica, como o distanciamento entre a escola e a universidade. Ainda que os pesquisadores trabalhem junto com a escola, é muito difícil compatibilizar o tempo da escola com o tempo da universidade e com o tempo da política. Além disso, resultados em educação demoram para ser observados”, explica Maria Elizabeth Bianconcini de Almeida, Doutora em Educação: Currículo e Professora da PUC-SP.

Um exemplo desta problemática pode ser visto na própria difusão da internet. Enquanto na União Europeia, por exemplo, 99,9% das casas já conta, desde 2017, com internet banda larga e a região já discute os implementos necessários para a harmonização da internet 5G, no Brasil, mais de um terço dos domicílios não têm acesso à internet – essa porcentagem chega a 70% em domicílios das classes D e E, o que, além de tudo, evidencia um grave problema de desigualdade e falta de inclusão digital.

No plano da infraestrutura para a internet 5G, vale salientar que as principais operadoras de telefonia do país já adiantaram que esta tecnologia só estará disponível no Brasil após 2021, o que indica que só teremos acesso ao 5G quando o restante do mundo já estiver com esta tecnologia à disposição para explorar as possibilidades de uma internet mais veloz e eficiente.

Em se tratando de produção de inovação de um modo mais geral, também temos que evoluir consideravelmente para atingirmos um nível de competitividade tecnológica de primeiro mundo. Apesar de termos subido cinco posições no ranking mundial de inovação da Universidade de Cornel, ainda ocupamos a posição 64º, atrás de outros países latinos como Costa Rica, México e Chile.

Por outro lado, as políticas públicas voltadas para a inovação – que, em tese, deveriam ser fortalecidas para uma maior expansão da tecnologia no Brasil, – viram uma desanimadora queda dentre os anos de 2013 e 2017. Segundo dados da Mobilização Empresarial para a Inovação (MEI), os investimentos no período, advindos do Governo Federal e específicos para engenharia e desenvolvimento tecnológico, caíram de de 5 bilhões (2013) para pouco mais de 1 bilhão (em 2017).

“Eu vejo o Brasil como um país com uma necessidade de investimentos em infraestrutura muito grande. Sem investimentos em infraestrutura tecnológica, não é possível escalar e tornar mais acessíveis os recursos tecnológicos para as escolas e para a população de um modo mais amplo”, comenta Flavio Marques Azevedo, Professor e Coordenador do Curso de Tech da ESPM.

Estratégias para o desenvolvimento da inovação no ensino

Neste sentido, com tantos desafios estruturais para serem superados, inclusive no universo da educação, como pensar nas soluções digitais voltadas para os processos de ensino e aprendizagem no Brasil?

Para Maria Elizabeth Bianconcini de Almeida, uma união de forças que leve em consideração os contextos educacionais de cada escola pode ser uma rota capaz de trazer frutos positivos.

“Eu acho que parcerias entre escolas, empresas, pesquisadores e governo são fundamentais. A escola não vai conseguir fazer esse trabalho sozinha. Por outro lado, a participação da empresa não pode vir como algo pronto para a escola implantar. Se queremos inovação por meio de novas tecnologias, precisamos dar à escola a oportunidade de desenvolver o seu próprio projeto de inovação. Então, o trabalho com a empresa é bem-vindo quando ela também está disposta a aprender, para poder ajudar a encontrar soluções adequadas dentro de cada contexto educacional”, explica a professora da PUC-SP.

Para comentar a importância do entendimento do contexto de cada escola, Maria Elizabeth comentou a atuação de um de seus grupos de pesquisa na PUC-SP, a Rede de Pesquisa Colaborativa Universidade Escola, que desenvolve núcleos de estudo em escolas com pesquisadores voluntários, sempre partindo da compreensão do ambiente educacional daquela instituição.

Para o professor da ESPM, Flavio Marques, por sua vez, uma das soluções para uma maior difusão da inovação no ambiente educacional brasileiro envolve uma visão mais colaborativa na aplicação de novas tecnologias.

“Uma boa estratégia para que tenhamos mais inovação no ambiente educacional brasileiro se dá por meio do compartilhamento de tecnologias, deste modo, podemos auxiliar, inclusive, escolas que não contam com uma infraestrutura digital mais robusta, como as do ensino público”, diz Flavio, acrescentando que a boa notícia é que, em maior ou menor escala, as principais instituições de ensino já estão se movimentando para ter um braço tecnológico em face da transformação digital.

Na ESPM, a criação do curso de TECH responde a essa demanda por transformação digital. O curso, lançado no segundo semestre de 2014, já conta com duas turmas formadas e, segundo o professor Flavio, oferece uma sólida formação técnica, aliada a disciplinas de marketing, finanças e empreendedorismo.

Perspectivas tecnológicas para o mercado de educação

O fato é que, como veremos ao longo deste estudo, mesmo com uma série de entraves e com um ambiente que nem sempre favorece a produção tecnológica, ainda assim temos inúmeros exemplos que demonstram, primeiramente, o potencial criativo do empreendedor brasileiro e que respondem, por conseguinte, a algumas das principais demandas e especificidades de nosso ecossistema educacional.

E que demandas são essas? Primeiramente, foi possível identificar a necessidade de um maior acesso à tecnologia – tanto do ponto de vista geográfico, quanto socioeconômico. Seguindo esta lógica, o país ainda precisa trabalhar, de modo expansivo, a difusão das chamadas novas habilidades ou soft skills que serão cada vez mais exigidas pelo mercado de trabalho do futuro.

Há, por fim, uma forte necessidade de transformação cultural para uma maior abertura das escolas quanto à tecnologia e na promoção de investimentos para a formação de professores mais aptos a lidar com inovação, quanto no que diz respeito a uma mudança cultural que privilegie uma maior diversidade no ecossistema de tecnologia nacional.

Dentro desse contexto, a boa notícia é que o Brasil já conta com muitas iniciativas no meio das EdTechs que, definitivamente, tem contribuído para uma maior acessibilidade da população brasileira junto à tecnologia – seja por meio de plataformas de suporte ao aprendizado que já atingem as mais diversas geografias nacionais ou mesmo pela oferta de conteúdo relevante para uma conscientização das escolas quanto aos desafios da transformação digital.

Temos também soluções que favorecem a inclusão de alunos com deficiência, minorias e populações economicamente desfavorecidas, contribuindo assim para uma profunda mudança cultural do ambiente educacional brasileiro.

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