Confira um levantamento sobre os desafios que o setor de turismo nacional enfrenta e as oportunidades que podem levar à superação
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Para além dos impactos relacionados à necessidade de isolamento social – que, como vimos, foram significativos para o turismo global como um todo e, conforme observado por especialistas entrevistados para este estudo, devem perdurar, em maior ou menor grau, ao longo de 2021 – o fato é que o mercado de viagens e de hotelaria nacional apresenta outras questões importantes que devem ser superadas para que o processo de recuperação do setor seja mais ágil.
Além disso, estamos falando de um segmento que apresenta oportunidades intrínsecas a um país de dimensões continentais como o Brasil e que conta com ecossistemas turísticos dos mais diversos.
Uma prova da consistência e do potencial do mercado turístico brasileiro pode ser observada quando analisamos dados anteriores a pandemia do coronavírus. Segundo um estudo do Conselho Mundial de Viagens e Turismo (WTCC na sigla em inglês), por exemplo, em 2018, o mercado de viagens nacional movimentou US$ 152,5 no país, um valor que correspondeu a 8,1% do PIB brasileiro no ano correspondente. Ainda segundo a pesquisa, o turismo foi responsável pela geração de 6,9 milhões de postos de trabalho (7,5% de todas as vagas de emprego disponibilizadas pelo país) e, pelo oitavo ano consecutivo, cresceu mais do que a média de expansão da economia global.
Em 2019, por sua vez, a taxa de ocupação nos hotéis cresceu 3,3% no Brasil (Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil); enquanto o número de viajantes por todo o território nacional – entre brasileiros e estrangeiros – chegou a 97,1 milhões de passageiros (Agência Nacional de Aviação Civil), o que representa um aumento de 1,8% em comparação com o já positivo ano de 2018.
Apesar disso, um longo caminho ainda precisa ser percorrido para que o Brasil aumente sua representatividade, sobretudo no ambiente de negócios do turismo internacional. Pensando em desafios, vale destacar a necessidade de avanços na infraestrutura – apontado como um gargalo pelo próprio ministro do turismo, Marcelo Álvaro Antônio, em matéria da Agência Brasil –, além da alta carga tributária aplicada ao setor que pode chegar até a 33% dos custos de um pacote de viagem internacional. Leonardo Rispoli, Vice-Presidente de Marketing e Vendas do Atlantica Hotels, ressalta o peso deste “Custo Brasil” na competitividade global do turismo brasileiro.
“O “Custo Brasil” é o maior entrave ao turismo no País. Ou seja, a burocracia e o ambiente de negócios desfavorável são hoje obstáculos maiores para o turismo do que a imagem negativa do Brasil no exterior e mesmo internamente. O setor sente as amarras da burocracia brasileira que, com inúmeras normas e restrições, impede seu crescimento. Para um desenvolvimento sustentável do turismo, temos que melhorar o ambiente de negócios do Brasil, incluindo as condições para o investimento no turismo nacional. Esta realidade faz com que, apesar de o Brasil estar entre as 10 maiores economias do planeta, não figure no ranking dos maiores destinos de viajantes internacionais“, comenta Rispoli.
Em reportagem recente, o presidente da Embratur, Gilson Machado Neto, destaca ainda uma maior necessidade de divulgação dos destinos brasileiros no exterior, fator que impulsionaria o número de viajantes internacionais no país. Por outro lado, quando pensamos no processo de retomada, Neto comenta que o turismo interno será um grande motor para as empresas de viagens e para os hotéis, pois, com a adesão das pessoas que não irão ao exterior, já é possível ver, em vários hotéis do país, “as reservas para o final deste ano e para janeiro e fevereiro do ano que vem em níveis iguais aos do ano passado.”
No terreno das oportunidades, um estudo do Sebrae sobre as tendências de comportamento dos turistas ao longo dos próximos meses, indica, dentre outros pontos:
Para Valéria Lima, Diretora de Gestão e Desenvolvimento da Secretaria de Estado de Turismo do Rio de Janeiro (SETUR) e Professora da ESPM, para que estas oportunidades sejam aproveitadas, será necessário retomar a confiança do turista e o poder público tem um papel decisivo neste sentido.
“No mundo inteiro, confiança é, mais do que nunca, princípio fundamental para o turismo. Para tanto, fizemos nossos protocolos de retomada da atividade, exaustivamente discutidos com os principais players do mercado. O Ministério do Turismo lançou o Selo do Turismo Responsável. A Secretaria de Estado de Turismo do Rio de Janeiro instituiu o Selo do Turismo Consciente. Vários destinos estão buscando estratégias para conquistar a confiança do turista, mas sempre com modelos de autodeclaração dos empreendimentos sobre a adoção das práticas recomendadas pelas autoridades de saúde e sanitárias“, aponta Lima, ressaltando que a tendência do turismo interno e com foco ambiental devem se fortalecer neste processo de retomada.
Com tudo isso, podemos observar o contexto de um mercado que, embora seja robusto e tenha oportunidades em vista da reabertura econômica, ainda possui pontos importantes que devem ser superados, sobretudo para que conquistemos maior credibilidade no ambiente de negócios internacional. Dito isso, o desenho do futuro de curto e médio prazo do turismo no Brasil será construído pelas empresas que melhor souberem decifrar os anseios dos viajantes, sem abrir mão do respeito e dos cuidados que o cenário atual exige.