O Venture Debt mostra-se como uma opção atraente para aquelas empresas que precisam se capitalizar nesse momento.
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Por: Gabriela Gonçalves / CEO da Brasil Venture Debt
A crise deflagrada pela disseminação do covid-19 implica mudanças de comportamento de mercado e de expectativas muito relevantes para praticamente todos os negócios, inclusive para as startups. Embora certos negócios estejam se beneficiando dessas transformações, grande parte das empresas já sente seus efeitos dolorosos, os quais incluem projeções de receitas reduzidas, adiamento de lançamento de produtos, entre outros.
Muitos investidores institucionais de capital de risco ao redor do mundo têm anunciado publicamente uma lista de recomendações para suas investidas, sempre encabeçadas pela concentração de esforços nos cortes de custos não estritamente essenciais, focando no aumento de runway.
Empresas que não possuem caixa suficiente entre 18 e 24 meses, precisam começar a pensar em como captar novos recursos. É importante que tenham caixa para se manterem durante a crise sem cortes relevantes nos investimentos. Assumindo que a crise será além do esperado, as empresas conseguirão se segurar com tranquilidade, e, caso seja mais curta, terão fôlego para investir no crescimento durante a retomada da economia.
Os fundos de Venture Capital estão mais do que nunca concentrando seus esforços nas melhores empresas de seus portfólios, dedicando relativamente menos tempo e recursos para novas empreitadas. Apesar de vários deles já estarem captados e com bastante “dry powder”, não se sabe como será o ambiente de captação no curto e médio prazo.
O foco de muitos, agora, é manter o maior volume possível de dinheiro disponível para garantir que ainda tenham caixa para investir no seu portfólio, caso a retomada de captação demore mais do que o esperado. A tendência é preservar o caixa disponível para uma possível piora no cenário. Com isso em mente, a recomendação de vários fundos é de que as startups procurem outras fontes de recursos disponíveis no momento.
A própria captação de equity, especialmente por novos investidores, apresenta alguns pontos de atenção. Os últimos anos do mercado de capital de risco foram marcados por valuations inflados, de magnitudes jamais antes observadas. Essa constatação, somada ao fato que o risco de grande parte dos negócios aumentou substancialmente, resulta, para empresas que buscam captar via equity, uma diminuição de valuation e, até mesmo, possíveis down rounds.
Dessa forma, os fundadores deverão abrir mão de uma parte maior da sua empresa para captar a mesma quantidade de recursos que iriam captar anteriormente, implicando uma diluição precoce, que por si só pode acarretar efeitos devastadores para a startup.
A estratégia de novas fontes de financiamento, que não equity, foi confirmada nas últimas semanas, quando o Airbnb levantou um total de 1 bilhões de dólares em dívida. Esta captação permitiu um fortalecimento da estrutura de capital da empresa, a qual deve enfrentar sérias consequências pela retração do mercado de turismo global. Seu valuation partiu de USD 31 bilhões, em março de 2017, para USD 18 bilhões reportados no início de abril, representando um corte de praticamente metade do valuation da empresa nesse período.
A captação foi feita através de um Venture Debt encabeçado por investidores norte-americanos, entre eles o Sixth Street Partners e o Silver Lake. O custo da dívida foi fixado em 10% mais a taxa referencial LIBOR (London Interbank Offered Rate), além de warrants (opção de compra dos papéis da empresa) no total de 1% das suas ações. Uma captação do mesmo valor, feita exclusivamente via equity, implicaria uma diluição de cerca de 5.5% de todos os sócios, diluindo o seu atual quadro e diminuindo drasticamente a atratividade para próximas rodadas de Series E e Series F.
Por naturalmente não implicar na diluição dos sócios, possuir liberação mais ágil do que de investimentos de participação, e na maioria dos casos ser uma alternativa mais barata do que o equity, o Venture Debt mostra-se como uma opção atraente para aquelas empresas que precisam se capitalizar nesse momento. Através do aporte, os negócios conseguem manter uma segurança muito maior de caixa e criar espaço para investirem em crescimento no período de retomada da economia, criando estruturas para melhores resultados e condições mais favoráveis de negociação dos futuros investimentos de equity.
Como as startups que levantaram capital por dívida precisam dedicar menos tempo e esforços, abdicando das longas triagens características de investimento de equity e negociações de valuation, seus executivos conseguem posicionar o negócio de volta aos trilhos rapidamente e fortalecer os seus programas.
O produto, amplamente consolidado no mercado americano, é voltado para empresas com certa maturidade em fase já de scale-up ou de growth que, via de regra, já receberam aportes de investidores institucionais como fundos de Venture Capital. Além disso, empresas inovadoras, com grande potencial de crescimento e com equipes engajadas são fortes candidatas ao Venture Debt, independente dos setores em que atuem. Quanto à modelos de negócios, modelos SaaS e de subscrição, por possuírem boa recorrência em suas receitas, são especialmente atraentes.
O Brasil ainda possui poucas opções de financiamento que oferecem este instrumento, porém, como qualquer outra parceria de longo prazo que a empresa venha a fazer, é sempre importante entender quem é o credor e como ele se comporta. Políticas “founder friendly” são críticas, assim como nos fundos de Venture Capital. Ter como parceiro um fundo que entenda a realidade das startups e que venha agregar valor, ao invés de engessar a estratégia da empresa, é fundamental. Empresas do portfólio do fundo tendem a ser a melhor fonte de referência.
A lição que fica é que as empresas precisam sempre se informar sobre os diversos modelos disponíveis, antes de tomarem sua decisão de financiamento. É importante lembrar do potencial de sua empresa e escolher por alternativas e parceiros que irão agregar mais no longo prazo.
Cada modelo é mais adequado a certos momentos da empresa, mas quando escolhida a sua alternativa, e também o seu parceiro, de maneira correta, um futuro de sucesso é garantido.
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Sobre o Follow-On:
Com uma rede que já conta com mais de 90 parceiros, o Follow-on é uma iniciativa organizada pela Liga Ventures que tem como objetivo reforçar a crença no ambiente empreendedor e de inovação do Brasil diante do cenário atual. O Follow-on quer contribuir para a discussão de uma Agenda Positiva de retomada, pautando as ações de inovação com startups como algo fundamental também em momentos de crise. A nossa rede está organizando uma série de apresentações de pitches de startups, conteúdos especiais, painéis com especialistas, cases estruturados, artigos de opinião, entre outros formatos para que possamos fundamentar ainda mais nossas decisões para uma Agenda Positiva de retomada.
Sobre a Liga Ventures:
Criada em 2015, a Liga Ventures é uma das maiores aceleradoras de startups do país e pioneira no mercado de aceleração corporativa e corporate venture, com parceiros como Porto Seguro, GPA, Banco do Brasil, Brink’s, Embraer, Mercedes-Benz, TIVIT, Saint-Gobain, Unilever, Vedacit, Souza Cruz, Suvinil, Bauducco, Ferrero, Colgate-Palmolive, Unimed FESP e Sodexo. A Liga também já acelerou mais de 200 startups nos ciclos de aceleração e criou mais de 25 estudos inéditos por meio do projeto Liga Insights, apontando startups que estão inovando nos setores de AutoTech, Retail, Tecnologias Emergentes, HR Techs, Health Techs, IT, Real Estate, Food Techs, MarTechs, AgroTechs, EdTechs, entre outros.