Nesse post, aprofundamos a discussão a respeito da importância das APIs, que servem de base tecnológica para o funcionamento do Open Banking
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Como muitas das movimentações que estão acontecendo em outros mercados e segmentos, a revolução esperada pelo Open Banking é pautada, principalmente, por tecnologia – além, claro, dos aspectos relacionados a negócios e processos inerentes ao setor. Por trás disso tudo estão as já bem conhecidas APIs (Application Programming Interface, ou Interface de Programação de Aplicativos), que, de forma resumida, representam um conjunto de padrões de programação que, a partir do momento em que é aberto, permite a integração, acesso e conversação entre duas ou mais plataformas.
Sendo assim, as bases tecnológicas do Open Banking se resumem à abertura das APIs de bancos e instituições financeiras, de forma que as informações de clientes sejam compartilhadas no mercado, de forma segura e, claramente, mediante a autorização dos consumidores.
Com o passar do tempo, a tecnologia de APIs tem adquirido uma importância crescente, sendo utilizada por grande parte das empresas no Brasil. De acordo com uma pesquisa divulgada em 2019, realizada pela Sensedia em parceria com a PwC, e que contou com 130 empresas brasileiras, 76% delas pretendem aumentar os investimentos em APIs e 95% dos respondentes afirmaram que a quantidade de APIs em produção aumentou.
Em relação a benefícios gerados por essa tecnologia, o principal esperado é que ela possibilite expandir a oferta de valor de produtos e serviços para 57% das grandes empresas e 80% das médias e também criar um ecossistema para aumentar a quantidade de integrações com parceiros (60%).
Em 2017, conforme um levantamento também realizado pela Sensedia, 79% das empresas afirmaram que o principal caso de uso das APIs se referia a integrações internas; agora, no estudo mais recente, revelou-se que o uso dessa aplicação visa, majoritariamente, a possibilidade de integração com clientes (77%), o que mostra uma tendência de abertura das APIs para outras empresas. Por fim, para 57% das de grande porte e 45% das médias, as APIs possibilitam um fomento à inovação.
Assim, a partir do aumento de relevância dessa tecnologia, criou-se o conceito de Economia de APIs, consolidada principalmente por conta da revolução e consequente transformação digital que impactaram o mercado de forma geral.
Conforme publicação da Forbes, 2017 foi tido como o ano da Economia de APIs, em um contexto em que “mais CIOs (Chief Information Officer) teriam o valor de seus bônus diretamente ligados à quantidade de novos modelos de negócios que eles ajudassem a criar a partir de plataformas de tecnologia já existentes”, uma tendência que só viria a crescer nos três anos posteriores à afirmação. Dentro disso, seriam as APIs o combustível para que isso fosse possível, fato visto como verdadeiro e primordial também dentro do cenário de Open Banking.
Se antigamente tal tecnologia era limitada em aspectos técnicos, hoje em dia se tornou uma ferramenta e um motor significante para o crescimento de um negócio, visto que, segundo estudo da McKinsey, possibilita a monetização em cima de dados, o estabelecimento de parcerias lucrativas e abre novos caminhos para a inovação e expansão.
Além de setores como varejo e automotivo, o bancário e financeiro também começam a tirar proveito das APIs, por meio de parcerias com fintechs, varejistas e outros, de forma a desenvolverem sistemas que auxiliem, por exemplo, na integração de informações para a otimização de serviços contábeis e em produtos de investimentos, já que também agilizam o acesso a informações dos clientes.
A partir de uma evolução das funcionalidades seria possível, ainda, a entrega de serviços mais avançados e complexos, como a utilização mais ampla de carteiras digitais e serviços de câmbio, utilização de machine learning para a entrega de operações mais sofisticadas e a criação de marketplaces para a visualização de diferentes ofertas.
A Sensedia é uma empresa brasileira, fundada em 2017, reconhecida como líder global especialista em estratégias de negócios de APIs e serviços de design, construção e operação de APIs, além de oferecer uma plataforma para ajudar as empresas na gestão de suas APIs, segurança e análises de consumos, de forma a entregar insights do negócio.
Segundo Fábio Rosato, Head de Serviços Profissionais da Sensedia, a transação de dados que circulam por sistemas baseados em APIs é bastante volumosa e poder entendê-las é essencial dentro do contexto de Open Banking.
“Não é possível discutir sobre esse assunto e não falar de APIs. Dados abertos sobre transações financeiras, de crédito, conta corrente, são muito valiosos. O Open Banking abre muito espaço para que novos negócios surjam e consigam entregar para os consumidores produtos interessantes a partir do consumo das APIs abertas. Existem desafios relacionados à segurança, acesso controlado aos dados e a governança das APIs por conta da criticidade do negócio. As instituições financeiras que expõem os dados devem gerenciar as APIs, capturar o comportamento de consumo dos dados para extrair algum insight de negócios”, diz Rosato.
De certa forma, o Open Banking surge aos bancos tradicionais como um movimento que praticamente os obriga a inovar, de maneira que consigam absorver os benefícios propiciados pela abertura de suas APIs e, consequentemente, dos dados que sempre estiverem sob sua posse.
Além disso, marca uma mudança intensa no cenário de regulamentação, em que não sobram muitas opções a essas instituições além da adaptação, de modo a entregar aos consumidores opções e ofertas que sejam competitivas dentro de um mercado que só tende a crescer, principalmente com a chegada de novos entrantes.
Segundo um estudo realizado pela Contino, existem dois caminhos que os bancos e instituições financeiras podem tomar para tornar o Open Banking, que pode ser visto como uma possível ameaça, em oportunidade. Primeiro, precisam rapidamente chegar ao mercado com as melhores APIs em termos de funcionalidade em relação a seus principais concorrentes, de forma que sua plataforma possa ser “a escolhida”, o que atrai inovação em cima de suas ofertas.
Além disso, em um segundo momento, será necessária a construção de melhores experiências digitais para o consumidor – como melhores aplicações mobile e front-ends em seu internet banking – e interfaces ágeis, para que sempre estejam em contato direto com seus clientes. A partir da combinação de iniciativas como essas, tornar-se-ia possível a atração de novos consumidores a partir de ofertas disponibilizadas pela abertura de informações.
Apesar da tecnologia de APIs não ser exatamente uma tecnologia nova ou inédita no mercado, tratá-la abertamente e de forma que figure como uma oportunidade é um movimento de mudança disruptiva, que exige uma transformação digital em grande escala.
De acordo com Rogério Melfi, API Program Manager da Gr1d – startup focada em transformação digital, que oferece soluções baseadas em sistemas de API, com diferentes produtos de gestão –, trazer esses sistemas de forma ampla para o mercado financeiro é um desafio que ultrapassa os aspectos tecnológicos.
“Plataformas de comunicação por APIs são algo antigo, já bem utilizadas no mercado de tecnologia. Trazê-las de forma mais abrangente para o setor bancário e financeiro é um desafio cultural, de escalabilidade, segurança também. O Open Banking estabelece, como deve ser, que o dono da informação é o correntista, não a instituição. O desenvolvimento de tudo isso vai depender da vontade das empresas em ter um relacionamento com parceiros e, a partir disso, entregar benefícios aos clientes e usuários. E entender que quanto mais facilidade e conectividade for proporcionada tiver com segurança, mais os serviços e produtos vão ser utilizados”, afirma Melfi.
Sendo assim, torna-se essencial que o mercado perceba a importância da tecnologia de APIs dentro do contexto de Open Banking, não apenas como uma ferramenta a mais a ser utilizada, mas como um dos motores que guiam o movimento em direção à abertura esperada.
Em mudanças de cenário como essas, os desafios inerentes que surgem são complexos, mas abrem espaço para novas oportunidades de mercado claramente atreladas ao Open Banking e que podem ser aproveitadas por todos os players já bem estabelecidos e também novos entrantes desse mercado.
A Nexoos é uma fintech brasileira que oferece uma plataforma online para conectar pequenas e médias empresas que buscam empréstimos a investidores. Desde a sua criação, em 2014, já intermediou mais de R$ 155 milhões em transações.
O Stark Bank é uma startup fundada em 2018, que oferece uma plataforma Open Banking voltada para a simplificação de pagamentos, transferências e emissão de boletos, com baixas tarifas. A fintech atende desde PMEs até grandes corporações.
Fundada em 2016 na Inglaterra, a Flux é uma fintech para gestão digital de recibos e de programas de fidelidade, e ofertas digitais customizadas, por meio dos aplicativos de mobile banking dos bancos. Em três rodadas de investimentos, captou US$ 9,1 milhões.
A Monzo é uma fintech britânica, fundada em 2015, que opera no formato de banco digital, mobile-only. Inicialmente, oferecia apenas um cartão de débito, controlado por um aplicativo no celular; em 2017, passou a oferecer também a opção de conta corrente. Já captou mais de £ 324 milhões.