Nesse post, aprofundamos a análise sobre a tendência de alimentação saudável, movimentação presente não apenas no Brasil, mas também no mundo todo
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Existem inúmeras evidências que mostram que o mercado de alimentação saudável é uma das principais tendências que cada vez mais se torna uma realidade no Brasil e no mundo. Esse movimento, claramente disruptivo, não é, de forma alguma, negativo para a indústria e empresas do ramo de alimentos, apenas demanda mudanças nos processos de produção e idealização de novos produtos. Para um futuro próximo, é comum o pensamento de que aquelas que não se adaptarem, ficarão para trás, visto a velocidade de mudança de mentalidade dos consumidores.
Apesar de possíveis dificuldades, adaptar-se a essa demanda deve trazer ótimos resultados para a indústria de alimentação. De acordo com informações do estudo Nielsen’s 2015 Global Health & Wellness Survey, que entrevistou mais de 30 mil pessoas, públicos de mercados em desenvolvimento pretendem pagar mais por produtos com atributos saudáveis. Essa é a opinião, por exemplo, de 94% dos respondentes da América Latina, 93% do público pacífico-asiático e 92% dos entrevistados da África e Oriente Médio.
E, apesar de ser um aspecto que importa mais à Geração Z (que será maioria em 2019), a tendência também é adotada por outras gerações, desde os Baby Boomers. Ainda de acordo com a Nielsen, consumidores estão procurando por alimentos funcionais que forneçam benefícios que possam reduzir o risco de doenças ou promovam uma boa saúde. Assim, produtos com alto teor de fibras (36%), proteínas (32%), integrais (30%) e fortificados com cálcio (30%) e vitaminas (30%) são os principais elencados pelos entrevistados.
No Brasil, o crescimento desse mercado também é notável. De acordo com informações do Euromonitor, publicadas no portal do SEBRAE, o segmento cresceu 98% entre 2009 e 2014; em 2016, as vendas desse segmento totalizaram um valor de R$ 93,6 bilhões, resultado que coloca o Brasil na 5ª posição no ranking de países quando se trata de alimentação saudável. Ainda conforme o Euromonitor, até 2021, esse mercado deve crescer 4,41% por ano, em média, no país.
Presente no mercado desde 1987, a Flormel tem origem familiar e, 18 anos atrás, inovou ao entregar ao público consumidor uma paçoca totalmente sem açúcar; desde então, tem focado seus esforços em produtos saudáveis e inovadores.
De acordo com David Afonso, Coordenador de Inteligência Competitiva da empresa, a Flormel está em um processo de transformação digital, buscando estar mais próxima de seus públicos, cujos interesses dentro do segmento de alimentação saudável mudam rapidamente.
“Temos uma filosofia de trabalho como de uma startup, muito dinamismo e alto fluxo de comunicação entre as equipes. Nosso time comercial, por exemplo, atuam no mercado como consultores de negócio focados em saudabilidade , fomentando os elos da cadeia para o novo universo de alimentação saudável. Estamos o tempo todo ouvindo os consumidores e entendendo os problemas de alimentação do dia a dia”, conta Afonso.
Para que possa entregar uma oferta que vá ao encontro dos desejos de seu público, a Flormel criou o Comitê de Produtos, um projeto interno que, em resumo, apresenta-se como um movimento colaborativo para gerar insights sobre diversos produtos a respeito de textura, sabor, embalagem ou quaisquer outros aspectos que possam ser alterados, de modo que resolvam problemas dos nossos consumidores.
Isso, segundo Afonso, possibilita uma resposta rápida, de forma a agregar mais valor àquilo que produzem. Nos últimos três anos, em acompanhamento à prosperidade do mercado, a Flormel registrou um crescimento de 30%, em média.
No entanto, realizar mudanças internamente para se adequar ao cenário não se apresenta como tarefa fácil para a grande maioria das empresas já bem estabelecidas no segmento (e que não possuíam, no passado, foco no mercado de alimentos saudáveis), dada a velocidade de mudança de mindset dos consumidores.
Segundo Kelly Galesi, Fundadora do Food Academy – uma plataforma de educação e desenvolvimento voltada para empreendedores do mercado de alimentação – e consultora, as grandes marcas ainda estão barrando inovações pelo pensamento de produção em grande escala, quando deveriam olhar de forma mais assertiva e objetiva para os desejos do público.
“Vejo uma dificuldade muito grande de customização, segmentação e atendimento de necessidades específicas das pessoas. São necessárias uma flexibilização maior de produção e uma conexão maior com os consumidores, estabelecer um diálogo. Hoje em dia, existe uma relação emocional das pessoas com os alimentos, cada vez mais isso fica nítido, elas querem saber o que estão ingerindo, querem entender quem produziu, como isso foi produzido, os cuidados envolvidos. Essa questão mais social surge como um desafio”, afirma Galesi.
De acordo com ela, a ascensão de startups nesse mercado é um ponto positivo exatamente nessa questão, visto que, por sua flexibilidade e por terem pequena escala, conseguem estar mais próximas do público e, consequentemente, atender às necessidades mais rápida e apropriadamente.
Conforme o estudo Top 5 Trends in Health and Wellness, do Euromonitor, uma das principais tendências dentro do segmento é a de assinaturas de kits de refeições saudáveis. Segundo análise feita pela companhia, a disposição por parte dos consumidores em gastar dinheiro se isso lhes poupar tempo impulsiona a inovação, em um cenário mais aberto e flexível. Isso representa uma oportunidade enorme para modelos de negócios alternativos na indústria de alimentação, com a emergência veloz de kits de refeições.
Entre os participantes da pesquisa (que responderam se já haviam se utilizado ou se utilizavam desse tipo de serviço), que contou com 11 nacionalidades, apenas os americanos e chineses ficaram à frente dos brasileiros. Isso, consequentemente, cria uma competição maior entre os players, que devem criar pacotes cada vez mais sofisticados e segmentados para se diferenciar no cenário.
No Brasil, a união de aspectos de saudabilidade, conveniência e praticidade se mostra uma tendência forte e que já é realidade por conta de presença de alguns atores importantes. Para se ter uma ideia, segundo informações da Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (Abia) publicadas no DCI, o setor de supergelados e congelados faturou, em 2015, um total de R$ 14,5 bilhões, valor R$ 1,3 bilhão maior em comparação a 2014.
Da convergência entre esses mercados, nasceu a Liv Up, startup brasileira de produção e entrega de alimentos saudáveis, sob uma tecnologia de ultracongelamento, que mantém suas propriedades sensoriais e nutricionais.
De acordo com Victor Santos, Fundador e CEO da Liv Up, a empresa foi criada a partir de uma percepção de que não havia produtos saborosos, saudáveis, práticos e com preços acessíveis no mercado, muito por consequência da falta de conexão entre indústria e consumidores. Atualmente com um modelo Direct to Consumer, a startup conta com operações verticais, controlando desde a produção até a entrega das refeições na casa dos clientes, realizando as vendas por canais próprios.
“Verticalizar o negócio possibilita que estejamos sempre em contato com os clientes, entendendo o que eles precisam e do que sentem falta. Sempre vai existir esse desafio, porque os hábitos mudam constantemente. Capturar todas essas tendências resulta em uma evolução da empresa, do serviço e portfólio de produtos que nós oferecemos”, conta Santos.
Para ele, as tecnologias nesse mercado surgem como uma maneira de oferecer melhores experiências para o consumidor final, em um cenário com inúmeras oportunidades, por conta de se tratar de um setor muito tradicional, que mudou pouco nas últimas décadas.
Para Santos, a configuração atual dos canais de venda é um ponto que atrapalha na necessária ponte que precisa existir entre empresas e consumidor final; a etapa de venda no varejo, por exemplo, acaba por bloquear um fluxo de informações que podem ser úteis para a indústria. “Estamos vendo modelos de negócios que estão surgindo justamente para dar mais voz aos clientes, levar isso para dentro das atividades cotidianas dentro das companhias, isso em todos os mercados. Além disso, fazer a conexão entre os mundos digital e físico é um grande desafio, mas necessário”, diz.
Fundada em 2016, já conta com uma equipe com aproximadamente 200 funcionários e registrou um crescimento de 400% de 2017 para 2018. Hoje, o cardápio disponibilizado pela empresa conta com uma grande variedade de refeições, feitas a partir de produtos orgânicos, de agricultura familiar e ingredientes naturais, sem uso de conservantes e outros aditivos químicos.
No fim das contas, hábitos de alimentação saudável se ligam ao mercado como um todo e à grande parte dos desafios e oportunidades inerentes ao setor. Tal preocupação está diretamente ligada aos comportamentos da cadeia de Food Service, a questões de sustentabilidade, desperdício, desenvolvimento de novos produtos e, também, à necessidade de maiores investimentos na área, de forma que se transforme em um mercado mais acessível à população de forma geral.
A Raízs é uma plataforma de venda online que conecta consumidores e pequenos produtores de alimentos orgânicos. A startup atua com um modelo de assinaturas ou pedidos avulsos de produtos como frutas, verduras, ovos e laticínios, captando mais de R$ 300 mil em investimentos.
A startup BeLeaf ,de São Paulo, oferece serviços de delivery de alimentação saudável, com entrega de pacotes – número que varia conforme a demanda do cliente – de refeições plant-based e orgânicas, sob tecnologia de ultracongelamento. Recebeu mais de R$ 1 milhão em investimentos.
A Sugarlogix é uma startup californiana da área de biotecnologia, cuja tecnologia permite a criação de açúcares funcionais, com benefícios para a saúde e que se diferencie dos adoçantes convencionais. A startup já captou aproximadamente US$ 3 milhões em investimentos.
A americana Miraculex produz proteínas naturais adoçantes e modificadores de sabor por meio de plantas, frutas e tecnologias de fermentação, que podem ser utilizados para a produção de alimentos sem açúcar. A startup já recebeu investimentos, com valores não revelados, por fundos relevantes no setor como a H1 Investors.