Drones, dark stores, caixas postais inteligentes, uberização do transporte de carga. Conheça iniciativas que prometem acelerar a distribuição logística
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Quais as principais tendências tecnológicas capazes de trazer benefícios significativos para a as operações de supply chain e acelerar a distribuição logística no Brasil?
Para responder a esta pergunta, além da consulta em fontes de pesquisas do mercado de logística, conversamos com diversos especialistas do segmento e, a partir desta base de informações, conseguimos chegar a dois eixos centrais de inovações que se complementam e que podem, a curto ou médio prazo, transformar a cadeia de distribuição no país – algumas destas tendências, vale salientar, já estão se tornando uma realidade concreta do mercado logístico.
Dito isso, no primeiro eixo, discutiremos a criação de novos modelos de distribuição e armazenagem de produtos, com potencial para gerar benefícios que vão desde uma maior segurança para as cargas até a otimização da malha last mile nacional.
Pensando, inicialmente, na armazenagem de produtos, algumas tecnologias tem se fortalecido globalmente e começam a dar os primeiros passos no Brasil, como os centros inteligentes de distribuição ou os fulfillment centers, que estão ganhando tração na cadeia logística de mercados como o varejo e o de alimentação.
Outro exemplo é o chamado dark store (também conhecido no Brasil como armazém oculto), conceito utilizado para descrever espaços exclusivamente utilizados para as etapas de armazenamento, separação e distribuição de produtos adquiridos via e-commerce.
Conforme destaca matéria da BBC, esta tendência vem ganhando a adesão de gigantes do varejo como Walmart e Carrefour e já movimentou US$ 2,8 trilhões em 2018, podendo chegar a US$ 4,9 trilhões até 2021.
Felipe Betancourt, cofundador da Liftit, destaca alguns dos benefícios deste modelo de armazenamento e distribuição.
“O dark store é uma tendência muito forte do mercado de logística, pois abre a possibilidade de utilização de espaços ociosos no comércio e até de residências para a chegada e saída de mercadorias. O dark store é um centro de distribuição com um modelo semelhante ao chamado ‘dark kitchen’, restaurantes que não atendem ninguém pessoalmente – só clientes online. A grande vantagem desta tendência consiste no fato de que é possível concentrar esforços na operação logística em si, aumentando a produtividade e reduzindo, consideravelmente, custos operacionais.”
Diferentemente dos centros de distribuição tradicionais, os dark stores costumam estar localizados nos grandes centros urbanos e contar com estrutura mais enxuta, contribuindo assim, por exemplo, para a oferta de uma experiência mais positiva aos clientes no âmbito da logística last mile.
No Brasil, já em 2017, o Carrefour inaugurou um armazém oculto em uma antiga loja do grupo localizada na Zona Sul de São Paulo e criada para facilitar os processos de distribuição de seu e-commerce online. O Carrefour utiliza o espaço para entregas da última milha, envolvendo um raio de até 10km da localização do dark store, conforme indica artigo da IstoÉ Dinheiro.
Outra tendência que contribui para os novos modelos de distribuição e que também gera impactos positivos para o last mile engloba as caixas postais inteligentes e os lockers, utilizados na logística para facilitar a entrega de encomendas para os consumidores que não podem ou não tem disponibilidade para receber mercadorias em seus respectivos endereços.
A utilização de lockers na cadeia de supply chain tem sido um dos principais drivers para a expansão deste mercado de modo global. Uma análise da Market Watch aponta que [highlight=”pink”]o segmento de lockers deve apresentar crescimento médio de 4,5% até 2024, angariando investimentos na casa de US$ 1,5 bilhões[/highlight]. O estudo aponta também o aumento da adesão deste modelo por parte de grandes empresas logísticas. Só na Alemanha, por exemplo, a DHL, um dos principais nomes da logística global, conta com 250 mil lockers espalhados pelo país.
Outra potencial oportunidade para o mercado de lockers é o modelo de clique e retire, no qual os clientes fazem uma compra via e-commerce e retiram nas lojas, uma vez que os lockers podem tornar este processo ainda mais ‘self-service’ para os clientes. Segundo matéria do Diário do Comércio, [highlight=”pink”]para 20% dos consumidores brasileiros, o clique e retire já é a principal opção de entrega escolhida[/highlight].
Desde 2011, a Amazon também oferece um serviço de ‘self-service delivery’, por meio dos Amazon Lockers. Presente em mais de 900 cidades dos Estados Unidos, o Amazon Locker é distribuído em pontos estratégicos como condomínios, lojas de conveniência e shopping-centers, segundo informações da própria Amazon.
Não à toa, o mercado de caixas postais inteligentes e lockers tem movimentado também o segmento de Logtechs no Brasil e no mundo. A uCella, startup americana fundada em 2016, que criou uma caixa postal inteligente para consumidores do e-commerce já captou US$ 1 milhão em investimentos, segundo o Crunchbase.
No Brasil, a Logtech EntregAli, fundada em no ano de 2017, utilizou o potencial do IoT para desenvolver uma caixa postal inteligente que pode ser encontrada em condomínios com portaria eletrônica da cidade de São Paulo, além de estar em fase- piloto com o Grupo Pão de Açúcar, no prédio do Cubo Itaú, na capital paulista.
Para utilizar nos condomínios, o usuário precisa, basicamente, criar uma caixa postal que será aprovada pelo síndico do condomínio. Já no ponto de retirada do Pão de Açúcar Adega no Cubo, o cliente deverá escolher a opção de Clique e Retire ao comprar pelo aplicativo.
“A caixa de correio inteligente possui um modelo de utilização muito simples e conveniente para o cliente. Neste sentido, os principais benefícios que oferecemos são ganhos na experiência do cliente. Também contribuímos com a redução das taxas de insucesso nas entregas e, outro grande apelo, é ter um ponto físico para a devolução de encomendas, facilitando a logística reversa”, explica Raquel Schramm, CEO e cofundadora da EntregAli.
A CEO da EntregAli comenta também que as caixas postais inteligentes também contribuem com o aumento da segurança de cargas e com a redução de custos para consumidores que moram em áreas de risco.
“Hoje, aproximadamente 29% das residências em São Paulo estão em áreas de restrição de entrega. Nestas áreas as entregas demoram até 21 dias para chegar e os consumidores pagam cerca de 30% a mais pelo delivery. Em outras palavras: a entrega demora mais e o cliente paga mais. Estamos falando de um consumidor que está sendo onerado na logística. Neste sentido, temos uma gordura, um espaço para trabalhar, na melhora da experiência deste cliente, no aumento da conveniência, e, ainda assim, viabilizando a operação e aumentando a segurança para as empresas.”
Dentro do contexto atual do mercado, quando pensamos em novos tipos de transporte, é quase inevitável não pensar nos drones. Mas, afinal de contas, até que ponto estes veículos podem contribuir com o ambiente logístico brasileiro?
Quando paramos para analisar a expansão do mercado global de drones, temos bons motivos para acreditar que esta tecnologia deve gerar impactos positivos também no segmento logístico nacional. [highlight=”pink”]Em todo o mundo, o mercado de drones obteve investimentos de US$ 14 bilhões em 2018[/highlight], podendo alcançar expansão média de 20,5% até 2024, segundo a PR Newswire.
Thiago Calvet, CEO e fundador da startup MyView, que produz diferentes projetos com drones, incluindo desde filmagens até um núcleo de delivery, lista algumas das vantagens das entregas com os veículos aéreos.
“Na minha visão, o delivery por drone vai ajudar, principalmente, na entrega last mile. Você vai ter entregas mais rápidas, mais sustentáveis e, consequentemente, mais eficientes. Quando pensamos no varejo, acredito que vá contribuir de modo significativo e tirar um gargalo de espera ainda muito longo. Além disso, os drones aumentam a segurança das operações, afinal, estamos falando de um modelo automatizado, sem necessidade de tripulantes”, comenta Calvet.
De modo geral, o grande obstáculo para uma expansão massiva dos drones na logística envolve o cenário legislativo, não só no Brasil, mas em outros países do mundo. Para o CEO da MyView, no entanto, com as mudanças do mercado, os governos devem criar condições para uma maior aplicação dos drones nos próximos anos.
“O maior entrave para o crescimento dos drones na logística brasileira é a legislação. Afinal, a legislação nacional para operações de aeronaves remotas ainda não permite que você faça entregas. Você pode cadastrar uma aeronave na ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil) para transporte de carga externa, porém, o DECEA (Departamento de Controle do Espaço Aéreo) ainda não emite autorizações de voo para além da linha de visada. Do ponto de vista tecnológico, já alcançamos um patamar seguro e viável. Atualmente, você também não consegue fazer em cidades grandes, porque a legislação também proíbe que você faça operações de sobrevoo acima de pessoas ou veículos não envolvidos na operação. Mas este é um cenário que está evoluindo rápido”, conclui Calvet.
O modelo de veículos autônomos vem atraindo investimentos também no âmbito da mobilidade urbana. Conforme reportagem, do Correio Braziliense, gigantes da tecnologia como Apple, Google e Amazon têm investido em startups especializadas em carros autônomos.
Apesar disso, especialistas do mercado, como o CEO do Toyota Research Institute, Gill Pratt, apontam que ainda há um longo caminho para que a indústria automobilística atinja um nível de infraestrutura tecnológica compatível com a expansão massiva dos carros autônomos.
Por sua vez, tendências como a chamada “uberização” do transporte de cargas, no qual empresas podem manter um sistema saudável de supply chain sem, necessariamente, contar com ativos físicos em sua operação, tem se fortalecido de modo relevante no segmento logístico, de acordo com diversas publicações especializadas nacionais e internacionais.
A Accenture destaca, por exemplo, que os benefícios do contato direto entre empresas e agentes de carga incluem a redução de custos e a otimização dos processos logísticos. Carlos Mira, CEO da TruckPad, startup pioneira na implantação deste modelo no Brasil, explica alguns dos benefícios que sua plataforma oferece para motoristas e transportadores.
“Somos uma ferramenta disruptiva porque estamos inovando a relação entre os transportadores e os motoristas. Provocamos reações, assim como o Uber, e a nossa proposta é dar ao motorista um modo econômico e eficaz de buscar o seu próximo frete. Já para os transportadores, oferecemos uma alternativa real para encontrar um caminhão terceiro para suas cargas. Esses são os nossos principais pilares para continuar inovando e trazer soluções cada vez mais inteligentes e competitivas”, aponta Mira.
A B2log é uma startup focada em entregas nos modelos same-day e next-day delivery. Fundada em 2013 e especializada no mercado de e-commerce, a startup conta com clientes como Livraria Cultura, Dafiti e Kanui.
A Budbee é uma startup sueca focada na melhoria da experiência do consumidor dentro do âmbito do last-mile. A empresa oferece acompanhamento em tempo real das entregas desde o início do pedido. Fundada em 2016, conta com US$ 16,1 milhões em investimentos.
A Jugnoo é uma das principais startups de delivery da Índia e já possui US$ 16 milhões em investimentos. Em 2017, a startup adicionou bicicletas a sua base de entregas, focadas na distribuição last-mile em cidades da Índia.