Confira como as novas tecnologias e startups podem ajudar a transformar e otimizar os processos inerentes ao setor da agropecuária.
por
A agropecuária tem um papel fundamental para a economia brasileira. Entre 1990 e 2015, o setor contribuiu com US$ 942 bilhões para a balança comercial, sendo um dos responsáveis pelo superávit nesse período. Em 2016, representou 5,5% de todo o PIB brasileiro. No segundo trimestre de 2017, a agropecuária apresentou um crescimento de 14,9%. Segundo a CNA, esse resultado, que foi o maior da história na comparação entre os segundos trimestres, “foi favorecido não apenas pelo clima, mas também pelo elevado investimento dos produtores rurais na safra 2016/2017”.
Para garantir a sustentabilidade e o crescimento desses números, a ciência e a tecnologia ocupam atualmente um lugar importante no desenvolvimento do país e, em particular, na agropecuária. A relação entre tecnologia e o setor se tornará ainda mais essencial no futuro. Muitas tecnologias foram desenvolvidas ou estão em desenvolvimento com o propósito de estabelecer novos modelos de negócios. Podem servir, também, novas fontes de recursos, energia e produtividade.
No Brasil, inúmeros produtores já as identificaram como um meio para ganhos na agropecuária. Os drones são uma das tecnologias usadas por eles atualmente. Segundo Emerson Zanon, diretor da MundoGeo, com base nos dados da consultoria PWC, o setor é responsável por 25% do faturamento global dessa inovação, estimado em US$ 127 bilhões. Eles auxiliam no monitoramento do campo para segurança por meio da telemetria, que permite melhor avaliação e eficiência, facilitando na redução de custos. Os drones também podem auxiliar na pulverização de fertilizantes, acompanhamento de safra, entre outras aplicações.
Internacionalmente, as inovações também tomam o propósito de serem as solucionadoras para problemas futuros e já existentes. De acordo com uma projeção feita pelas Nações Unidas, a população urbana acompanhará o crescimento populacional. Espera-se que, até 2050, a proporção de pessoas em áreas urbanas crescerá para 66%, cerca de 2,5 bilhões de pessoas a mais.
Assim, fazendas verticais, núcleo de negócios da startup Plenty, tornam-se soluções. A startup recebeu investimento de US$ 200 milhões do fundo de investimentos japonês SoftBank, que tem Jeff Bezos, CEO e fundador da Amazon, como um de seus investidores. As fazendas verticais têm como objetivo auxiliar no desenvolvimento sustentável e permitem que a agricultura seja descentralizada. Mais próxima do centro urbano, diminuiria, assim, as emissões de gás carbônicos dos caminhões transportadores.
Ainda de acordo com o estudo da ONU, a população mundial chegará a 8,5 bilhões de pessoas até 2030. Até 2050, a organização estima que existirão 9,8 bilhões de pessoas. Por fim, em 2100, estima-se que esse número chegue a 11,2 bilhões. Um dos desafios futuros da agropecuária será, portanto, atender à demanda para a alimentação humana de forma sustentável. Segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), seria necessário que a produção aumentasse em 70%.
Veja o que Júnior Rodrigues, Consultor na CDC, O setor de agronegócio não só está pronto, como necessita de novas tecnologias. Entretanto, é operado da mesma forma há anos e as pessoas têm medo do novo. A era antes e pós internet dividiu o mundo, e a comercialização no mercado agro ainda resiste a essa mudança. Observamos que o mercado de agro é imenso. Hoje há no Brasil milhões de pessoas negociando. Pensando nisso, refletimos sobre as seguintes questões: onde eles estão? Com quem fazem negócio? Como se comunicam? A internet permite que a relação entre o comprador e os vendedores se estreite. Identificamos que elas poderiam, por meio das tecnologias, ampliar suas redes de contato para fazerem negócio. Assim, criamos uma plataforma que funciona como um market place e trabalhamos para melhorar essa comunicação para conectá-los. É preciso criar esse meio de conectividade entre as pontas.
Tecnologias emergentes de alta complexidade, como a carne in vitro, apresentam-se como algumas das primeiras alternativas. O primeiro hambúrguer artificial foi produzido a partir de células-tronco por cientistas da Universidade de Maastricht. Apesar de ainda ser um protótipo, a inovação se tornou uma grande aposta. Chamou a atenção de grandes empresários, como Richard Branson, Bill Gates, Jack Welch e Kimbal Musk, que, entre outros, investiram em um fundo que concedeu US$ 17 milhões à startup norte-americana Memphis Meats, que produz carnes artificiais.
No Brasil, grandes empresas seguem o mesmo movimento e também estão investindo em startups com inovação no setor de agropecuária. A Monsanto, uma das maiores empresas de agricultura e biotecnologia do mundo, anunciou, em julho de 2016, sua entrada no fundo de investimentos Brasil Aceleradora de Startups (BRStartups). Os investimentos serão entre R$ 250 mil a R$ 1,5 milhão. A BASF, outra grande das áreas de química e agro, também apresentou em 2017 seu programa de aceleração de startups do setor de agropecuária.
[toggle title=”Veja o que Giuliano Bittencourt, CEO da BeGreen, fala sobre o assunto” state=”close”]Em 2015 iniciamos uma produção de hortaliças convencional em Betim para verificar nossa tese de que, no Brasil, mais de 70% de todos os produtos perecíveis são desperdiçados devido a longa cadeia que existe. Durante 2 anos produzimos em uma fazenda arrendada e conseguimos validar esta hipótese. Hoje um produto perecível demora 3 a 4 dias para chegar à mesa das pessoas. Ele viaja do produtor, passa por entreposto, vai para o supermercado e só depois chega ao seu prato. Pensando nisso, trouxemos a fazenda para dentro da cidade com cultivo 28 vezes mais produtivo que na fazenda convencional. Construímos, em 3000 m2 dentro de um shopping, 4 estufas de produção aquapônica, um restaurante de comida saudável e um hortifruti de alimentos agroecológicos. Hoje vendemos nossas hortaliças diretamente ao consumidor, em restaurantes e supermercados de Belo Horizonte. O custo das tecnologias de monitoramento e controle de produção disponíveis no mercado atualmente é proibitivo. Pensando nisso, estamos desenvolvendo nossa tecnologia de maneira que outros produtores também possam ter acesso e possam aumentar sua produtividade. A solução importada custa quase sete vezes mais do que a desenvolvida dentro da BeGreen. Além disso, os produtores atuais não conseguem ter acesso à informação de produção que os capacite a utilizar tais tecnologias. Partindo desta premissa, disponibilizaremos uma tecnologia facilmente plugada e que tenha uma base grande de conhecimento para transmitir aos produtores.
Outras inovações na área de agropecuária englobam os sensores, como a biometria para gado, automação, como robôs agrícolas e a conectividade entre as máquinas. Essas aplicações de tecnologias no setor agropecuário podem representar não só um desenvolvimento no modo de produção, mas também podem ser um fatores cruciais no aumento de produtividade, impactando diretamente na melhoria de produção e renda.
A Plenty é uma startup americana que já levantou mais de US$220 milhões e tem como um dos seus investidores Jeff Bezos, da Amazon. Sua tecnologia está em prover o máximo aproveitamento em fazendas indoor, usando de IoT, inteligência artificial e big data.
A Memphis Meats é uma startup americana que desenvolve tecnologias para a produção de “clean meats”, carnes que são produzidas sem o abate do animal. Captou mais de US$20 milhões em investimentos, tendo Bill Gates como um dos investidores.
Bovcontrol, startup brasileira pioneira no segmento denominado por eles de Internet das Vacas, é uma plataforma que auxilia os produtores na captação e organização de dados de produção bovina e já captou mais de US$1.3 milhões em investimentos de fundos.
A BeGreen é uma startup mineira pioneira na América Latina na criação do modelo de fazendas urbanas. A startup captou R$ 600 mil em uma rodada seed, que tem a Liga Ventures como participante, e já possui uma fazenda ativa no Boulevard Shopping, em Belo Horizonte, com produtividade 28 vezes maior que o cultivo convencional.