Conheça as iniciativas tecnológicas de startups que buscam otimizar a logística por meio de IA, blockchain e realidade aumentada
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Neste artigo discutiremos três eixos de inovação centrais que podem influenciar a logística dos próximos anos. O primeiro deles envolve blockchain e deve contribuir para o aumento da segurança no compartilhamento de dados dentro das cadeias de supply chain.
No plano das tecnologias capazes de potencializar o controle de empresas e de operadores logísticos sobre seus dados, o blockchain surge como uma ferramenta que já conta com algumas aplicações sendo realizadas por grandes empresas globais e que tem como principal benefício o aumento da transparência e confiabilidade em uma cadeia que, como vimos, é muito ampla e fragmentada.
Uma reportagem da Forbes de 2018 destaca alguns cases do uso de blockchain na logística, como o Walmart, que utiliza o blockchain para aumentar o controle de produtos importados da indústria de food (uso que, como destaca o texto, vem sendo aplicado de modo semelhante por outras companhias globais como Unilever e Nestlé) ou a Tomcar, fabricante de veículos australiana que utiliza a tecnologia para transferir fundos e pagar fornecedores por meio de bitcoins.
Um estudo da Allied Market Research aponta que “o aumento da necessidade de transparência dentro da cadeia de suprimentos” e por “maior segurança nas transações” entre os agentes e empresas do setor logístico são alguns dos principais fatores que devem acelerar o crescimento do mercado de blockchain especificamente voltado para a área logística.
Não à toa, a consultoria aponta que a vertical de investimentos de blockchain na logística deve crescer de pouco mais de US$ 93 milhões em 2017 para US$ 9,8 bilhões em 2025, o que representaria um crescimento médio de mais de 80% no período.
O aumento da segurança propiciado pelo blockchain tem potencial, inclusive, para aumentar a digitalização de um mercado que, como vimos, ainda depende muito de processos manuais e conta com altos níveis de regulação. Neste sentido, a indústria portuária é um segmentos logísticos que tem acompanhado com mais atenção o advento do blockchain na indústria de supply chain.
Segundo matéria de portal especializado nas indústrias navais, de energia, óleo e gás, o blockchain já vem sendo utilizado no Brasil no monitoramento da navegação comercial e deve se estabelecer, nos próximos 10 anos, como uma das principais referências tecnológicas para o setor marítimo.
Seguindo esta tendência, a DriveOn utiliza o blockchain como uma ferramenta para garantir a segurança dos dados compartilhados em sua plataforma de gerenciamento de informações sobre o comportamento de motoristas. É o que explica Expedito Belmont, cofundador e CEO da Logtech amazonense com atuação no ecossistema de Santa Catarina.
“Se o fornecedor utiliza a DriveOn é possível saber, exatamente, o que acontece em sua frota, identificar o perfil de comportamento de motoristas e de veículos, bem como, a carga que está sendo levada e as condições de ambiente. Dentro deste contexto, utilizamos o blockchain aplicado a área logística em sua função primordial, que consiste em oferecer uma camada de segurança para todos estes dados com um custo total de propriedade consideravelmente baixo. Este modelo serve tanto para monetizar o uso do dado, quanto para premiar o bom uso da frota.”
Sobre o aspecto de monetização, o CEO da DriveOn explica que a ideia da startup é criar uma rede baseada na remuneração a motoristas e outros players que desejarem compartilhar seus dados de mobilidade na plataforma da DriveOn.
Para tanto, a empresa desenvolveu um criptoativo para ser utilizado em diferentes transações asseguradas por meio do blockchain.
“Nós criamos um criptoativo digital e, enquanto o usuário estiver conectado a plataforma, maior a remuneração dele. Entendendo que os dados de mobilidade são importantes para as empresas, por que não pagar os motoristas e outros players por seus dados de mobilidade? Como o dado é pessoal, eles têm a opção de tornar público esse dado. E o que o usuário pode fazer com o ativo digital? Estamos construindo uma rede de empresas que se interessam por esses ativos, então, futuramente, o usuário poderá trocar seus “Cryptomiles” por descontos de combustível, descontos no seguro de automóvel, e até trocar por dinheiro ou por outras criptomoedas”, conclui Belmont.
Só em 2018, vale apontar, o mercado de criptomoedas atingiu valor de mercado de US$ 400 bilhões, de acordo com dados divulgados pelo Wall Street Journal.
Pensando agora no eixo de rotinas internas do segmento de logística, é importante comentarmos sobre duas tendências tecnológicas que podem otimizar a operação das empresas do país.
A primeira delas consiste na aplicação de inteligência artificial para uma melhor distribuição de cargas em veículos, ação que, além de gerar economia, tende a tornar os processos organizacionais de transportadoras e embarcadoras mais rápidos e eficientes.
Fundada em 2017, a JettaCargo é uma Logtech brasileira que desenvolveu uma solução web, que pode ser integrada com os ERPs das indústrias e empresas de logística, e que oferece uma visualização 3D que fornece uma prévia virtual da distribuição das cargas em caminhões, paletes e contêineres. Diego Rörig, fundador e CEO da startup, explica um pouco mais sobre a infraestrutura tecnológica da solução da JettaCargo.
“O JettaCargo é um software de otimização logística que ajuda as empresas a otimizarem a formação de cargas em 3D para caminhões e contêineres. O software aplica algoritmos de otimização e inteligência artificial para calcular a posição exata de cada mercadoria na carga. Aplica regras e restrições como, controles de empilhamento, distribuição de peso por eixos e escolha de veículos por custo”, explica Rörig, comentando ainda que a solução foi desenvolvida inteiramente no Brasil, por uma equipe de matemáticos e engenheiros de software.
Com crescimento de 400% nos últimos dois anos, a startup participa, atualmente, do programa de aceleração Liga AutoTech da Liga Ventures, e conta com clientes como JSL, Gerdau, Mercedes-Benz e Saint-Gobain. Outra grande vantagem oferecida pela JettaCargo, segundo o CEO da Logtech, consiste na redução de multas por excesso de peso nos eixos para os caminhões.
“O JettaCargo ajuda as empresas a reduzirem custos em diferentes cenários: aumento da taxa de ocupação de volume e peso, escolha dos caminhões corretos para cada carga e redução de avarias no transporte. Outra grande redução de custo é em multas de excesso de peso por eixos, com projetos indicando redução de mais de 50% das multas, sem necessidade de instalação de balança física”, conclui Diego Rörig.
A logística, vale reforçar, é um dos principais setores para aplicação de soluções de inteligência artificial. Até 2023, este mercado deve atingir investimentos na casa de US$ 6,5 bilhões, segundo estimativa recente que indica, ainda, um crescimento médio de 42,9% dentro do período de 2017 a 2023 deste segmento.
Outro processo que pode ganhar em eficiência dentro da área de logística é o de picking (rotina de separação e preparação de uma mercadoria para uma entrega ao destinatário-final/cliente). A startup carioca, Media Glass, que atua com realidade virtual e aumentada, desenvolveu uma solução para otimizar o processo de separação e preparação de produtos por meio de um óculos de RA. É o que explica Flávio França, fundador e CEO da startup.
“Na etapa de picking, mesmo empresas grandes e multinacionais ainda se baseiam em processos manuais, neste sentido, é preciso que se faça um trabalho de transformação cultural e digitalização, pois, quanto mais rápido esse processo ocorrer, melhor para as empresas, uma vez que ele é um gargalo relevante da logística atual. Por meio de um óculos de realidade aumentada, o operador logístico consegue acessar dados de estoque, sabendo exatamente onde está determinado item no CD e visualizando o endereçamento e um mapa do centro de distribuição. Além disso, é possível ler o código de barras direto pelo óculos. Com nossa solução, é possível aumentar significativamente a eficiência de todo o processo de picking”, comenta França.
Para Fabrício Nobre, diretor de criação e sócio da Media Glass, o principal desafio para uma maior aplicação da realidade virtual no mercado de logística brasileiro consiste no desconhecimento, de parte do segmento, sobre o potencial desta tecnologia para os processos de supply chain.
“É um trabalho comercial muito complexo, porque não envolve apenas o convencimento, mas uma didática sobre a tecnologia – o que ela pode trazer e quais são os benefícios. Temos de provar que a tecnologia se paga e que o investimento vale a pena. Além disso, a maioria das startups de RV e RA do Brasil estão focadas no mercado de games. Neste sentido, é um desafio e uma oportunidade desbravar o universo B2B nos segmentos de logística, indústria 4.0 e varejo”, aponta Nobre.
A Ideas Farm é uma startup especializada em realidade aumentada que desenvolveu um app que permite uma visualização melhorada da capacidade de estoque e gera relatórios sobre custos e disposição de mercadorias. Conta com clientes como Gazin, Mitsubishi e HTH.
A Logpyx oferece uma solução para a otimização de pátios logísticos com foco na geração de dados e análise da real utilidade de cada ativo. A startup de Minas Gerais conta com clientes como ArcelorMittal, Ypê e Lubrificantes Ipiranga.
A Cargo42 é uma startup fundada nos Estados Unidos pelo brasileiro Murilo Amaral focada no melhor uso do espaço de caminhões na redução de fretes por meio de entregas realizadas com cargas compartilhadas. A startup faz parte do programa de aceleração da Universidade da Flórida.
A Bluecargo é uma startup americana que conta com um algoritmo preditivo que conecta e integra plataformas de dados para uma melhor visualização geral e otimização da gestão de contêineres em terminais portuários. Já recebeu mais de US$ 3 milhões em investimentos.