12 de setembro de 2022 Artigos

A Nova Mobilidade Urbana

Entenda a nova mobilidade urbana e como os novos serviços de transporte baseados em plataformas estão transformando a mobilidade no país.

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A mobilidade urbana se apresenta como terreno fértil para a inovação. No mercado, algumas tendências se destacam, tais como mobilidade compartilhada, transportes integrados, mapas de trânsito, meio de pagamento unificado, mobilidade elétrica, transporte por aplicativo, plataformas de carona, transporte público sob demanda e mobilidade corporativa. Tudo isso vem sendo incorporado ao dia a dia da população por meio de tecnologias como navegação por satélite, internet das coisas, comunicação de veículo com veículo e com sensores, big data e inteligência artificial.

Buscando responder aos desafios, a nova mobilidade propõe um olhar inovador e conectado para o deslocamento das pessoas, focando na praticidade para o usuário.  O  Índice de Mobilidade Urbana da Deloitte de 2019 mostra temas, métricas e dados que serviram para avaliar 50 cidades do mundo, levando em conta diversidade de distribuição geográfica, tamanho da população, área de extensão e níveis de desenvolvimento econômico. A pesquisa mostra que o sucesso, em termos de mobilidade urbana, tende a se basear em integração inteligente e em inovação, muito mais do que em puro investimento.

A mobilidade é um direito dos cidadãos, por isso existe uma esfera pública que garante a infraestrutura do ponto de vista viário para os meios de transporte, pedestrianismo incluso, e também é garantidora dos transportes coletivos públicos.

Na esfera privada, uma forte noção de propriedade predominou por muito tempo no relacionamento da população com o acesso aos meios de transporte, especialmente incentivada por uma cultura voltada para o automóvel. Para ilustrar,  em 2018 o Brasil tinha 1 carro para cada 4,7 habitantes, de acordo com o Relatório de Frotas Circulantes. Dados da Fenabrave mostram que no entre janeiro e setembro de 2020 foram comercializados 1.298.630 carros, cerca de 32,8% a menos que no mesmo período de 2019, a retração vem sendo atribuída à pandemia do novo coronavírus.

O que o surgimento da Nova Mobilidade expressa é a oportunidade da esfera privada de oferecer concorrentes para o carro e para o transporte público ao mesmo tempo que favorece a experiência do usuário, que tende a buscar conforto e rapidez para se mover nas cidades. As startups que começaram a olhar para este setor até então carente de inovação, encontram usuários em busca de diferentes opções de transporte e dispostas a experimentar.

Na composição do que estamos chamando de Nova Mobilidade, o conceito de mobility as a service (MaaS), traduzido como “mobilidade como serviço”, está em evidência. As plataformas de MaaS consistem na integração de diferentes serviços de transporte em uma única plataforma disponível em aplicativo para celular. Esse tipo de aplicativo oferece informações sobre todas as opções de transporte disponíveis na cidade, como ônibus, metrô, trem, caronas, carro ou bicicletas compartilhadas, táxi, aluguel de carros etc – além da combinação entre eles.

O aplicativo Whim foi o pioneiro no mundo na categoria de mobilidade como um serviço em Helsinki, capital da Finlândia.  O App foi idealizado pela startup finlandesa MaaS Global que somou US$ 53,7 milhões em investimentos desde 2015, seu ano de fundação, até hoje. Os últimos investidores, em 2019, foram a Mitsubishi Corp. e a BP Ventures.

Para que esse tipo de aplicativo possa oferecer informações sobre todas as opções de transporte da cidade, as plataformas de MaaS trabalham com provedores de dados para oferecer informações em tempo real sobre o trânsito, além de entidades governamentais, como departamentos de trânsito,  empresas de gestores de frotas e fabricantes de veículos, tudo isso para garantir um funcionamento eficiente da plataforma.

De acordo com estudo do Business Wire, o tamanho estimado do mercado global de mobility as a service foi de US$ 195.04 bilhões em 2019. No mercado brasileiro, esse tipo de inovação vem ganhando espaço impulsionada pela contribuição de startups de mobilidade compartilhada que trouxeram a escolha do meio de transporte para a palma da mão dos usuários.

Para exemplificar o movimento, vale resumir como duas startups de compartilhamento de veículos ou “carona por aplicativo” impactaram a mobilidade brasileira. A 99, que surgiu em São Paulo em 2012, foi a primeira unicórnio brasileira e representou um marco para o mercado da Nova Mobilidade no país em 2018. Já a Uber, que chegou ao Brasil em janeiro de 2014, ao completar 5 anos no país anunciou o marco de 2,6 bilhões de viagens. Após o surgimento dessas startups, não demorou para vermos matérias comparativas entre os gastos para comprar e manter um carro e os gastos de usar carro por aplicativo como principal serviço de transporte.

Outro exemplo de startup que se baseia na economia do compartilhamento é a TemBici, é uma startup de bicicletas compartilhadas que já está presente em 8 cidades brasileiras (Rio de Janeiro, Salvador, Recife, Porto Alegre, Belém, Manaus e Vila Velha) e em duas cidades no exterior, Buenos Aires na Argentina e Santiago no Chile. A TemBici nasceu em 2009, passou em um edital da prefeitura do Rio de Janeiro com financiamento do Banco Itaú em 2011 e até hoje mantém a parceria.

Esses exemplos mostram o começo da incorporação do conceito de mobilidade como um serviço, onde o usuário pode optar por trajetos que conectam mais de um meio de transporte e têm a opção de usufruir sem ser o proprietário por meio do compartilhamento. O táxi já possuía um desenho de produto semelhante ao de aplicativos de ride-hailing. O diferencial dos aplicativos é que conseguiram resolver um antigo problema de comunicação, consolidando a demanda por meio da conexão rápida entre o usuário e o prestador de serviço.

Dentre inúmeros exemplos, a Nova Mobilidade é um conceito recente e, segundo Sergio Avelleda, Diretor de Mobilidade Urbana da WRI, pode ser definida como “serviços de transporte baseados em plataformas”. Na prática, também percebe-se que esse conceito está aliado à noção de economia compartilhada. No contexto da crise mundial de 2008, Lawrence Lessig, fundador do Creative Commons, usou o termo pela primeira vez para explicar a procura por reduzir custos de consumo através do compartilhamento. Foi graças à combinação da massificação do uso de  smartphones e à criação de aplicativos que a economia compartilhada ganhou escala. Hoje temos acesso a serviços como carpool, ride-healing e shared mobility, exemplificados como soluções de carona, motorista por aplicativo e aluguel de bicicletas.

O conceito de compartilhamento está sendo bem aceito pelos usuários desses serviços. No entanto, a ascensão do compartilhamento ainda não foi capaz de quebrar o estigma dos ônibus e metrôs, que são os meios de transporte que oferecem a experiência mais “compartilhada” que uma pessoa pode ter. De fato, o transporte público é essencial para o funcionamento da cidade, sendo o principal meio de transporte de 25% da população brasileira, segundo levantamento encomendado pela Confederação Nacional da Indústria divulgado em 2015 pela Agência Brasil.  No caminho para superar desafios do trânsito através do aumento de usuários do transporte público, surgem oportunidades no setor para a atuação das startups. Atualmente, o transporte público precisa encontrar um caminho para melhorar o serviço e se tornar mais atrativo, uma vez que estão sendo ameaçados pela concorrência marcada pelas iniciativas privadas de serviços de transporte.

Ao observar a maneira com que a Nova Mobilidade se configura, percebe-se que ela impulsiona a digitalização da gestão de processos administrativos e operacionais de trânsito nos municípios, uma vez que concentra um grande volume de dados que podem ser usados pela gestão pública para tornar a mobilidade urbana mais eficiente. Nesse sentido, o setor público que precisa de soluções inovadora para corresponder às demandas da população por transporte público de qualidade deve buscar saídas para conversar melhor com as startups. A falta de integração dos diferentes meios de transporte  ainda é um desafio a ser superado para atingirmos a eficiência necessária para que as cidades sejam mais inteligentes.

Para que seja possível um olhar inovador, o setor também precisa de mais vontade política e iniciativas municipais que fomentem a inovação. Editais das prefeituras de São José dos Campos e do laboratório de Mobilidade Urbana da cidade de São Paulo, o MobiLab, são bons exemplos de como os governos podem incorporar inovação à mobilidade urbana pública. Existe um caminho para encaixar o olhar resolutivo para as dores o cliente, característica forte o modelo de negócio das startups, ao desenho de serviços públicos de transporte. Assim, a nova mobilidade vem para atender a demanda da população por mais eficiência para os meios de transporte, por meio de iniciativas privadas ou da gestão pública.

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