12 de setembro de 2022 Artigos

A importância da discussão sobre Sustentabilidade no setor Agro

Analisamos a discussão acerca do tema Sustentabilidade entre corporações e startups dentro do mercado agropecuário brasileiro

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A questão da sustentabilidade no setor agropecuário tem ganhado cada vez mais espaço. Quando refletido sob o ponto de vista das fazendas inteligentes, a importância da sustentabilidade se dá pela necessidade de redução os impactos gerados durante toda a cadeia, retroalimentando a indústria. Assim como aponta Éder de Souza Martins, pesquisador da Embrapa, integrante da Rede Mapeamento Digital de Solos e especialista no uso de recursos regionais no manejo da fertilidade do solo, a sustentabilidade do setor depende intrinsecamente da sustentabilidade econômica.

Segundo ele, um dos maiores problemas enfrentados é a limitação econômica do modelo vigente. A solução é buscar insumos que são gerados no próprio local ou na região em que é feita a agricultura.

“Fizemos um Zoneamento Agrogeológico do Brasil no qual descobrimos que 20% do país é rico em agrominerais regionais e qualquer área agrícola do país está a menos de 300km de uma zona com potencial de fornecer esses nutrientes. Dessa forma, podemos afirmar que é preciso pensar não só na questão de resíduos, mas também em como criar cadeias produtivas baseadas em insumos que são produzidos regionalmente”, diz Martins.

Além disso, segundo Martins, é importante pensarmos em como podemos trazer inteligência para o uso de produtos utilizados no campo.

Fazendas mais inteligentes = fazendas mais sustentáveis

A Yara, uma das maiores empresas especializadas em fertilizantes, tem trabalhado na redução dos impactos. A empresa adquiriu uma solução no Vale do Silício chamada AdaptEn, que consegue determinar o melhor uso e distribuição de nitrogênio no solo. A solução permite que os produtores possam controlar melhor a quantidade da substância, que pode prejudicar inclusive o lençol freático.

Além disso, o aumento da produtividade e maior eficiência nas produções agrícolas têm sido uma das formas de as fazendas serem mais inteligentes e, consequentemente, mais sustentáveis. Entretanto, o reaproveitamento de espaços ociosos para plantações agrícolas e o aumento de produtividade nelas têm sido outro assunto recorrente no setor.

Isso porque 25% de todas as terras agrícolas são classificadas como altamente degradadas e 44% delas estão moderadamente degradadas, segundo o relatório Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira, publicado pela Embrapa. As fazendas urbanas e verticais são exemplos de como é possível tornar espaços não originalmente agrícolas em pontos de produção de alimentos.

Arte com informações sobre a degradação de terras agrícolas.

Maior produtividade em plantações e produção indoor

Estudos mostram que produções indoor são capazes de ser mais eficientes do que as tradicionais. Shigeharu Shimamura, em parceria com a GE Reports, fez uma experiência na qual transformou uma fábrica de semicondutores em uma floresta urbana. Essa nova fazenda foi capaz de produzir até dez mil cabeças de alface orgânicas por dia, com uma perda 40% menor do que em produções de orgânicos convencionais. Além disso, usou somente 1% da água normalmente gasta na produção.

No Brasil, vemos iniciativas como a BeGreen, startup mineira, que nasceu a partir desse conceito de fazendas urbanas e verticais. Ela constrói e opera fazendas urbanas, fornecendo produtos frescos e de qualidade. O primeiro projeto foi a construção de uma fazenda convencional em Betim. Utilizaram essa primeira experiência para testar tecnologia e mercado, até abrirem a primeira fazenda urbana, no Boulevard Shopping, em Belo Horizonte.

Além disso, a percepção do alto nível de desperdício de produtos frescos foi a outra grande razão da fundação da BeGreen. Estudos estimam que 70% da produção é jogada fora. O valor desses alimentos que são jogados fora é estimado em US$ 1 trilhão. Desperdício de alimentos dos Estados Unidos representa 1,3% de todo o PIB mundial. 800 milhões de pessoas passam fome. Cada uma poderia ser alimentada com menos de ¼ de todo o alimento desperdiçado nos EUA, UK e Europa todos os anos.

Arte com informações sobre o desperdício de alimentos no mundo.

Assim, além de estarem mais próximos aos consumidores, evitando a ineficiência da cadeia logística, a BeGreen consegue praticamente zerar esse desperdício e aumentar a eficiência de produção. Produzem utilizando 90% menos água, sem emissão de CO2. De acordo com Giuliano Bittencourt, CEO da BeGreen, toda a produção é monitorada por um software e hardware proprietários, que aumentam a produtividade por m². Bittencourt acredita que “o setor precisa repensar a utilização de recursos e a destinação do produto final”, diz. Em dois anos de operação, a BeGreen já comercializou mais de um milhão de pés de alface.

O desafio da gestão de energia

O alto nível de desperdício de alimentos frescos por conta da ineficiência da cadeia logística, como citou Bittencourt, não é a única preocupação no setor, em termos de sustentabilidade. A gestão energética é outra temática que chama a atenção. De acordo com o relatório Energy, Agriculture and Climate Change, da FAO, os alimentos gerados pela cadeia agrícola consomem em torno de 30% da demanda mundial por energia.

Esse número se torna ainda mais relevante, uma vez que é esperado que a população mundial cresça para 9,7 bilhões de pessoas, segundo a ONU – o que impacta em um aumento de pelo menos 60% da produção de alimentos. Em 2017 o setor foi responsável por 4% do consumo de energia do país, segundo o Balanço Energético Nacional, publicado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE).

Se comparado com outros setores, a participação é pequena – indústrias 33,3%, transportes 32,5%, setor energético 10%, residências 9,6% e serviços 4,8%. Entretanto, esse número tende a crescer. As emissões brasileiras do setor aumentaram 165% entre 1970 e 2016. Hoje, o setor agropecuário brasileiro é o terceiro maior emissor global, ficando atrás somente de China e Índia.

Startups como a GreenAnt trabalham com essa problemática de gestão energética. Por meio de um medidor inteligente, que pode ser instalado no quadro de disjuntores, dados sobre o consumo de energia elétrica são captados, processados na nuvem e entregues aos clientes em forma de um painel de controle, no qual podem ver, em tempo real, as rotinas do uso de energia. Em 2018 a GreenArt recebeu um investimento de R$ 1,6 milhão por meio da EqSeed, tornando-se a maior rodada de investimento para uma startup via equity crowdfunding no país.

Empresas como a São Martinho, um dos maiores grupos sucroenergéticos do país, também enfrentam tais desafios. A empresa tem tido como foco de inovação a melhoria de processos por meio de projetos para suas operações agrícolas, que são analisados por comitês técnicos e financeiros com características consultivas e deliberativas. Os projetos são conduzidos por um grupo gestor, que tem a responsabilidade de implementar as tecnologias no prazo e custo estimados.

Após a implementação, a companhia acompanha o desempenho e confirma os números previstos pelo estudo inicial. Atualmente possuem uma estrutura de novos negócios que atua em conjunto com a equipe de Inovação e, juntos, procuram identificar ativamente startups alinhadas com o negócio da empresa.

“Estamos estruturando um hub de inovação, que assumirá essas iniciativas de forma mais recorrente, e nos envolvemos com startups nacionais e internacionais, não somente do Agronegócio. O intuito é resolver desafios e gargalos internos e criar novas oportunidades de negócios”, afirma Walter Maccheroni Junior, Gestor de Inovação da São Martinho.

Economia compartilhada no setor Agro

As formas de plantio alternativas e eficiência energética não são as únicas práticas adotadas pelo setor de agro para tornarem as fazendas inteligentes mais sustentáveis. Outra temática que vem ganhando atenção dos produtores rurais é a de economia compartilhada. A Alluagro, startup mineira, fundada em 2016, atua justamente neste conceito.

A startup desenvolveu um marketplace com inteligência de geolocalização de máquinas agrícolas, por meio do qual conectam prestadores de serviço e produtores rurais com o objetivo de profissionalizar o mercado de aluguel de maquinários.

Saiba o que os profissionais de grandes empresas e especialistas estão falando sobre o tema em entrevistas completas aqui

Fundada em 2015, em São Leopoldo, atua na produção de silos sustentáveis para a armazenagem de commodities e rações animais. Dando mais proteção aos seus clientes, a Silo Verde não gera lixo ou resíduos, reduz custos, aumenta a rentabilidade e diminui perdas.

A Alluagro é uma startup fundada em 2016, em Uberlândia, que desenvolveu um marketplace com inteligência de geolocalização de máquinas agrícolas. Conectam prestadores de serviço e produtores rurais com o objetivo de profissionalizar o mercado de aluguel de maquinários.

A startup Vermigold, fundada em Mumbai, trabalha com biotecnologia e vermicompostagem, transformando resíduos orgânicos em compostagem. Capaz de reduzir em até 90% dos resíduos, a Vermigold opera com custos baixíssimos de operação.

Fundada em Berlim, em 2012, a InFarm desenvolve serviços utilizando o conceito de fazendas urbanas para o varejo, restaurantes e centros de distribuição locais, sendo capaz de produzir qualquer tipo de erva, alface, vegetais e frutas. A startup já captou, US$ 34,1 milhões em investimentos.

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