O modelo Triple Helix de inovação surgiu em 1990. Veja qual o papel dos seus três agentes (empresa, governo e universidade) para a inovação.
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Por: Danielle Leonel / Gestora de Relacionamentos Institucionais na Liga Ventures e Mestra em Administração Pública pela UFV
O conceito de Triple Helix de inovação vem de meados dos anos 1990, este termo “Triple Helix”, ou Hélice Tríplice, foi usado por Henry Etzkowitz e Leydesdorff para descrever o modelo de inovação baseado na relação do tripé universidade, empresa e governo.
Na minha dissertação de mestrado em Políticas Públicas de Inovação pela Universidade Federal de Viçosa, ao estudar o modelo de triple helix, pude entender que em uma economia baseada no conhecimento, a chave para promover uma sistematização de inovação tecnológica propícia e duradoura é a interação entre esses três atores: universidade, empresa e governo.
O argumento central do modelo da Triple Helix (TH) é que a ciência acadêmica pode contribuir significativa e decisivamente para o desenvolvimento socioeconômico de países e regiões.
No modelo da Triple Helix, as universidades auxiliam no aumento da capacidade de inovação corporativa, isto é, para o progresso técnico, por meio da transferência de conhecimento científico e tecnológico para as empresas e da formação de profissionais altamente qualificados.
Por outro lado, as empresas que transformam os conhecimentos gerados na academia em produtos e/ ou serviços para a sociedade também geram novas demandas de pesquisa às universidades, por meio das necessidades inerentes a seus processos produtivos.
O governo, por sua vez, desempenha o importante papel de implementar políticas públicas de apoio à interação entre os atores da hélice tríplice, bem como de regular e fiscalizar.
Os papéis desempenhados pela triple helix de inovação universidade-empresa-governo não devem ser entendidos de forma isolada e autossuficiente. Isso porque, cada vez mais, essas organizações assumem tarefas que antes eram exclusivas à outra esfera organizacional, essas interseções possibilitam a formação de redes de relacionamento e articulação entre os diversos atores. De tal modo, os papéis secundários desempenhados por uma esfera são os principais das outras espirais do modelo triple helix de inovação.
Nessa perspectiva, as universidades atuam não apenas como geradoras de conhecimento, mas também como agentes de incentivo e suporte de conhecimento para as empresas, seja por meio de pesquisas acadêmicas, transferência de tecnologia e geração de talentos.
Já as empresas, por sua vez, não produzem somente bens e/ou serviços, influenciando também a geração e compartilhamento de conhecimento.
Enquanto que as lideranças do poder público, em suas três esferas, são responsáveis pela formulação e gestão do governo e das políticas públicas, de modo a potencializar os esforços da triple helix. O papel do governo é estimular a transformação da ciência e da tecnologia em inovação, além de fomentar a geração de novos negócios e atuar como capitalistas de risco, exercendo seu tradicional papel de agente regulamentador.
Vale ressaltar a existência das redes colaborativas entre as três esferas da triple helix, onde a efetividade das políticas de inovação configura-se, cada vez mais, resultado da interação entre os atores do ecossistema e não apenas fruto de intervenções estatais.
Assim, a política de inovação deve ser vista como decorrência da interação entre os governos (federal, estadual e municipal), organizações privadas, instituições de ensino e pesquisa e demais organizações que promovem a interação dessas esferas a nível regional, em vez de ser apenas uma iniciativa top-down dos governos nacionais.
Pelas razões citadas, a interação entre as três esferas do modelo triple helix de inovação configura-se, substancialmente, como motor para promoção da inovação e do desenvolvimento socioeconômico em uma economia baseada em conhecimento.
Os elementos chave em torno dessas interações do modelo Triple Helix de inovação estão descritos na Figura abaixo.
De modo a apoiar e promover as interações entre universidade, indústria e governo, diversas organizações (híbridas) que se formam através do elevado grau de interação das três hélices surgiram para coordenar e facilitar tais relações, constituindo uma quarta hélice dentro do modelo.
Uma característica essencial do modelo da hélice tríplice é a importância valorizada e estratégica do papel da universidade, por meio da transferência de tecnologia, criação de empresas e condução de esforços de renovação regional, quando as universidades empreendedoras se esforçam para usar o conhecimento que geram na promoção do desenvolvimento social e econômico.
É nesse contexto que o modelo da triple helix de inovação é importante para a compreensão dos habitats de inovação como organizações intermediárias e, portanto, agentes de inovação, considerando que as startups, que se desenvolvem nos habitats de inovação, como em incubadoras de empresas, em sua maioria surgem dos projetos de pesquisas desenvolvidos nas universidades. Não é raro ver que essas empresas são conhecidas como spin-offs acadêmicas, ou seja, empresas de base tecnológica que nascem a partir de tecnologia desenvolvida na universidade.
Em primeiro lugar, vale destacar esses habitats de inovação como exemplo da Triple Helix de Inovação. Atualmente desempenham um papel importante para o ecossistema, conectando universidade, governo e empresas. Essas instituições apresentam uma alta capacidade de articulação, cooperando para o desenvolvimento local e favorecendo o potencial de inovação.
Quando falamos de ambientes de inovação no Brasil, acho válido destacar quatro exemplos de habitats de inovação que estão promovendo o desenvolvimento local e do ecossistema com base na Triple Helix de Inovação.
Na Liga Ventures, estruturamos uma área para potencializar os esforços inovativos, facilitar interações e gerar um intercâmbio de experiências e práticas com atores do ecossistema de inovação de todo o Brasil. Nesta área, construímos uma rede para conectar habitats de inovação, iniciativa privada, academia e poder público junto a potenciais geradores de negócios e demais parceiros do ecossistema com foco em trazer resultado e uma relação ganha-ganha, onde todos possam capturar, gerar e trocar valor.
Em Porto Alegre (RS), o Tecnopuc lançou a Maratona de Inovação que tem como proposta integrar o conhecimento acadêmico com a prática de mercado, explorando oportunidades de geração de novos negócios, serviços e produtos (startups). Os estudantes, por meio de problemas reais, são desafiados a pensar e criar soluções a partir do raciocínio investigativo, da empatia e da interação com outros participantes.
Já em Recife (PE), o Porto Digital, que é fruto de uma política pública que tem como missão inserir Pernambuco no cenário tecnológico e inovador do mundo, tornou- se uma das referências nacionais de ação coordenada entre governo, academia e empresas. Pensando em conectar o ecossistema de inovação e grandes empresas, o Porto Digital criou o Open Innovation Lab (OIL), que tem como meta abrir as portas de grandes empresas e instituições públicas para a promoção de ações de inovação em rede que gerem novos negócios para as companhias do parque.
Por sua vez, em Florianópolis (SC), vemos outro parque tecnológico se destacando no país como agente da Triple Helix de inovação: a Acate. Hoje possui em seu Conselho empresas de todos os portes, gerando conexões que fortalecem o setor de tecnologia no estado de Santa Catarina. Vale destacar que a Acate encabeçou a iniciativa “Rede de Inovação Florianópolis”, em parceria com a Prefeitura Municipal de Florianópolis, que associou quatro centros de inovação com o objetivo de estimular a cultura de inovação e empreendedorismo, ativar o ecossistema de inovação, gerar e escalar negócios inovadores no município de Florianópolis.
A Liga Ventures é uma plataforma de inovação aberta, que conecta empresas e startups a fim de potencializar interações e gerar novos negócios. Criada em 2015 é pioneira no mercado de aceleração corporativa e corporate venture. Ao longo dos anos, auxiliou na implementação de estratégia de inovação aberta nos principais players de diversos setores do mercado brasileiro, tais como Porto Seguro, Banco do Brasil, e Unilever. Em seu portfólio, soma mais de 250 startups aceleradas e mais de 450 projetos realizados entre essas e grandes corporações. Também conta com o Liga Insights, iniciativa de pesquisa e inteligência de mercado, cujo objetivo é mapear tendências e startups que estão inovando nos mais variados setores. Já são mais de 25 estudos, em temas como de AutoTech, Retail, HR Techs, EdTechs, entre outros.