12 de setembro de 2022 Artigos

Desafios e oportunidades no movimento de recuperação do turismo nacional

Confira um levantamento sobre os desafios que o setor de turismo nacional enfrenta e as oportunidades que podem levar à superação

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Para além dos impactos relacionados à necessidade de isolamento social – que, como vimos, foram significativos para o turismo global como um todo e, conforme observado por especialistas entrevistados para este estudo, devem perdurar, em maior ou menor grau, ao longo de 2021 – o fato é que o mercado de viagens e de hotelaria nacional apresenta outras questões importantes que devem ser superadas para que o processo de recuperação do setor seja mais ágil.

Além disso, estamos falando de um segmento que apresenta oportunidades intrínsecas a um país de dimensões continentais como o Brasil e que conta com ecossistemas turísticos dos mais diversos.

Potencial e desafios do turismo nacional

Uma prova da consistência e do potencial do mercado turístico brasileiro pode ser observada quando analisamos dados anteriores a pandemia do coronavírus. Segundo um estudo do Conselho Mundial de Viagens e Turismo (WTCC na sigla em inglês), por exemplo, em 2018, o mercado de viagens nacional movimentou US$ 152,5 no país, um valor que correspondeu a 8,1% do PIB brasileiro no ano correspondente. Ainda segundo a pesquisa, o turismo foi responsável pela geração de 6,9 milhões de postos de trabalho (7,5% de todas as vagas de emprego disponibilizadas pelo país) e, pelo oitavo ano consecutivo, cresceu mais do que a média de expansão da economia global.

Em 2019, por sua vez, a taxa de ocupação nos hotéis cresceu 3,3% no Brasil (Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil); enquanto o número de viajantes por todo o território nacional – entre brasileiros e estrangeiros – chegou a 97,1 milhões de passageiros (Agência Nacional de Aviação Civil), o que representa um aumento de 1,8% em comparação com o já positivo ano de 2018.

Apesar disso, um longo caminho ainda precisa ser percorrido para que o Brasil aumente sua representatividade, sobretudo no ambiente de negócios do turismo internacional. Pensando em desafios, vale destacar a necessidade de avanços na infraestrutura – apontado como um gargalo pelo próprio ministro do turismo, Marcelo Álvaro Antônio, em matéria da Agência Brasil –, além da alta carga tributária aplicada ao setor que pode chegar até a 33% dos custos de um pacote de viagem internacional. Leonardo Rispoli, Vice-Presidente de Marketing e Vendas do Atlantica Hotels, ressalta o peso deste “Custo Brasil” na competitividade global do turismo brasileiro.

“O “Custo Brasil” é o maior entrave ao turismo no País. Ou seja, a burocracia e o ambiente de negócios desfavorável são hoje obstáculos maiores para o turismo do que a imagem negativa do Brasil no exterior e mesmo internamente. O setor sente as amarras da burocracia brasileira que, com inúmeras normas e restrições, impede seu crescimento. Para um desenvolvimento sustentável do turismo, temos que melhorar o ambiente de negócios do Brasil, incluindo as condições para o investimento no turismo nacional. Esta realidade faz com que, apesar de o Brasil estar entre as 10 maiores economias do planeta, não figure no ranking dos maiores destinos de viajantes internacionais“, comenta Rispoli.

Em reportagem recente, o presidente da Embratur, Gilson Machado Neto, destaca ainda uma maior necessidade de divulgação dos destinos brasileiros no exterior, fator que impulsionaria o número de viajantes internacionais no país. Por outro lado, quando pensamos no processo de retomada, Neto comenta que o turismo interno será um grande motor para as empresas de viagens e para os hotéis, pois, com a adesão das pessoas que não irão ao exterior, já é possível ver, em vários hotéis do país, “as reservas para o final deste ano e para janeiro e fevereiro do ano que vem em níveis iguais aos do ano passado.”

Previsões e oportunidades de recuperação

No terreno das oportunidades, um estudo do Sebrae sobre as tendências de comportamento dos turistas ao longo dos próximos meses, indica, dentre outros pontos:

  • A busca por locais com menos aglomeração, atrativos ao ar livre e de contato com a natureza;
  • Pacotes com ofertas de programas familiares;
  • Adesão a marcas com maior responsabilidade social e atenção ao contexto social;
  • Destinos sustentáveis;
  • Oferta de experiências mais humanizadas.

Para Valéria Lima, Diretora de Gestão e Desenvolvimento da Secretaria de Estado de Turismo do Rio de Janeiro (SETUR) e Professora da ESPM, para que estas oportunidades sejam aproveitadas, será necessário retomar a confiança do turista e o poder público tem um papel decisivo neste sentido.

No mundo inteiro, confiança é, mais do que nunca, princípio fundamental para o turismo. Para tanto, fizemos nossos protocolos de retomada da atividade, exaustivamente discutidos com os principais players do mercado. O Ministério do Turismo lançou o Selo do Turismo Responsável. A Secretaria de Estado de Turismo do Rio de Janeiro instituiu o Selo do Turismo Consciente. Vários destinos estão buscando estratégias para conquistar a confiança do turista, mas sempre com modelos de autodeclaração dos empreendimentos sobre a adoção das práticas recomendadas pelas autoridades de saúde e sanitárias“, aponta Lima, ressaltando que a tendência do turismo interno e com foco ambiental devem se fortalecer neste processo de retomada.

Com tudo isso, podemos observar o contexto de um mercado que, embora seja robusto e tenha oportunidades em vista da reabertura econômica, ainda possui pontos importantes que devem ser superados, sobretudo para que conquistemos maior credibilidade no ambiente de negócios internacional. Dito isso, o desenho do futuro de curto e médio prazo do turismo no Brasil será construído pelas empresas que melhor souberem decifrar os anseios dos viajantes, sem abrir mão do respeito e dos cuidados que o cenário atual exige.

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