A expressão “ecossistemas de inovação” nunca pareceu fazer tanto sentido como diante do cenário atual. Na biologia, ecossistema se refere a um conjunto de organismos que vive em determinado local e interage entre si e com o meio, formando um sistema estável.
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Por: Gabriel Sant’Ana Palma Santos / Diretor Executivo da ACATE e Doutor em Engenharia e Gestão do Conhecimento
A expressão “ecossistemas de inovação” nunca pareceu fazer tanto sentido como diante do cenário atual. Na biologia, ecossistema se refere a um conjunto de organismos que vive em determinado local e interage entre si e com o meio, formando um sistema estável. Apropriada para o contexto da inovação na década de 90 por James Moore, o conceito hoje descreve os sistemas interorganizacionais, políticos, econômicos, ambientais e tecnológicos da inovação, onde ocorrem a catalisação, sustentação e apoio ao crescimento de negócios.
Se a diversidade e a riqueza natural são marcantes no Brasil, o mesmo podemos dizer dos ecossistemas de inovação no país. Sejam eles já desenvolvidos, como os de São Paulo, Recife, Belo Horizonte e Florianópolis, ou em desenvolvimento, como Natal, Uberlândia, Fortaleza e Vitória; sejam reconhecidos e formados há décadas, como os de Campinas, São José dos Campos e Porto Alegre, ou mais recentes, como os de Palmas, Aracaju e Campo Grande. O fato é que, nas mais diversas regiões do país, têm surgido iniciativas e comunidades de atores voltados à inovação e ao empreendedorismo.
Considerando que a interação e a cooperação são dois dos principais atributos de um ecossistema, quando uma crise abala a estabilidade desse sistema, têm-se aí uma grande oportunidade para a inovação ser acelerada e os laços de interdependência entre os seus diversos atores intensificados. É exatamente isso o que temos observado no Brasil: uma avalanche de iniciativas positivas ocorrendo de forma espontânea nos mais diversos ecossistemas do país.
Em São Paulo, o inovabra reuniu mais de 90 soluções de startups em combate à crise causada pela pandemia e tem realizado eventos remotos diariamente; o Cubo realiza uma talk diário com todas as startups participantes de seus programas para repassar oportunidades e facilitar a tomada de decisões dos empreendedores, além disso, em parceria com o BID, tem mapeado as principais iniciativas contra a pandemia em organizações não só do Brasil, como de outros países da América Latina; a Associação Brasileira de Startups tem mapeado startups com soluções na área da saúde em todo o país; e a Liga Ventures criou um amplo movimento, denominado follow-on, que reúne diversos parceiros para a divulgação de uma agenda positiva, com eventos on-line, conteúdos, cases, estudos e artigos.
Outras iniciativas estão percorrendo o país: no Porto Digital, em Recife, mais de 13 soluções tecnológicas oriundas das startups do polo ou desenvolvidas pelos próprios laboratórios da instituição já estão em uso em benefício da população e dos órgãos públicos como hospitais e secretarias de saúde.
Na ACATE (Associação Catarinense de Tecnologia) criamos um plano de ação com sete eixos para auxiliar o setor e as mais de 1.400 empresas associadas no combate à crise. Entre as iniciativas, estruturamos um fundo garantidor, com a participação de diversos atores e doação de diversas empresas de tecnologia, que oferece garantia às operações de crédito daquelas empresas que não possuem garantia real. Nossa trilha de webinars já foi assistida por mais de 10% dos mais de 50 mil colaboradores diretos do setor de tecnologia do estado. Mais de 70 empreendedores solicitaram mentoria e estão sendo atendidos gratuitamente por empresários voluntários mais experientes. Mapeamos ainda 48 soluções tecnológicas, muitas das quais já em uso no mercado no combate à pandemia.
Isso sem falar de diversas universidades em todo o país, como as Federais do Rio Grande do Sul, Fluminense, de Santa Catarina e da Paraíba, que têm se mobilizado para a produção de máscaras, álcool em gel e respiradores; Indústrias e diversas unidades do SENAI que tem consertado respiradores avariados, com a participação de pesquisadores e profissionais voluntários que se unem todos os dias à causa. A Techstars, por sua vez, convocou as comunidades organizadores de startup weekends do mundo todo para realizar uma edição em cada país, totalmente on-line. Mais de 60 países já aderiram à causa, em um esforço global de criar novas soluções. Na edição brasileira, que aconteceu que de 17 a 19 de abril, foram mais de 70 times inscritos e a solução ganhadora propôs uma plataforma que une profissionais da saúde a quartos vagos em hotéis e pousadas, oferecendo conforto e segurança àqueles que estão na frente da batalha.
Na maioria destes casos apresentados, o poder público tem uma pequena ou nenhuma participação, demonstrando o poder de articulação, independência, cooperação e execução de ecossistemas de inovação do país todo. Esse é resultado da união entre as hélices da inovação, tão conhecidas no meio acadêmico: empresas, academia, governo e sociedade, que quanto mais cooperam, mais fomentam o desenvolvimento local e maiores, por sua vez, são as condições para a inovação.
Se a pandemia e a crise por ela gerada tem trazido uma série de problemas e consequências aos empreendedores e trabalhadores do país e mundo afora, as lições e experiências por ela deixadas podem apontar para uma nova realidade. Esse novo momento a emergir pós-pandemia parece reforçar alguns dos valores praticados pelos nossos ecossistemas, como o compartilhamento, a co-criação, a corresponsabilidade e a liderança compartilhada. E para superá-la, mais um ingrediente será imprescindível: a coragem, do latim COR, que significa “coração” e sufixo -ATICUM, “ação”, que somados representam “a força que vem do coração”. Coragem, Brasil!
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Sobre o Follow-On:
Com uma rede que já conta com mais de 90 parceiros, o Follow-on é uma iniciativa organizada pela Liga Ventures que tem como objetivo reforçar a crença no ambiente empreendedor e de inovação do Brasil diante do cenário atual. O Follow-on quer contribuir para a discussão de uma Agenda Positiva de retomada, pautando as ações de inovação com startups como algo fundamental também em momentos de crise. A nossa rede está organizando uma série de apresentações de pitches de startups, conteúdos especiais, painéis com especialistas, cases estruturados, artigos de opinião, entre outros formatos para que possamos fundamentar ainda mais nossas decisões para uma Agenda Positiva de retomada.
Sobre a Liga Ventures:
Criada em 2015, a Liga Ventures é uma das maiores aceleradoras de startups do país e pioneira no mercado de aceleração corporativa e corporate venture, com parceiros como Porto Seguro, GPA, Banco do Brasil, Brink’s, Embraer, Mercedes-Benz, TIVIT, Saint-Gobain, Unilever, Vedacit, Souza Cruz, Suvinil, Bauducco, Ferrero, Colgate-Palmolive, Unimed FESP e Sodexo. A Liga também já acelerou mais de 200 startups nos ciclos de aceleração e criou mais de 25 estudos inéditos por meio do projeto Liga Insights, apontando startups que estão inovando nos setores de AutoTech, Retail, Tecnologias Emergentes, HR Techs, Health Techs, IT, Real Estate, Food Techs, MarTechs, AgroTechs, EdTechs, entre outros.