Aprofundamos a discussão sobre as oportunidades criadas a partir da abertura proposta pelo Open Banking, como o desenvolvimento de novos produtos e serviços
por
Como já apresentado em outros estudos do Liga Insights, a revolução tecnológica e consequente movimentação em direção à inovação em diferentes mercados abre espaços para o desenvolvimento de novos produtos, serviços e otimização daquilo que já existe e é oferecido. Muito do otimismo e da expectativa sobre o Open Banking decorre das inúmeras oportunidades que podem ser criadas, transformando positivamente o segmento e entregando ofertas mais satisfatórias aos consumidores e clientes de bancos e instituições financeiras.
Segundo um infográfico – baseado em informações da PwC – feito pela NDGIT, empresa alemã que desenvolve plataformas de API para bancos e seguradoras, o Open Banking possibilita, ao menos, quatro propostas diferentes a partir da abertura dos dados dos consumidores:
Em um primeiro momento, muitas das oportunidades que podem ser criadas a partir do Open Banking são mais bem vistas por novos entrantes, como fintechs, e players menos tradicionais, enquanto que muitos dos bancos já bem estabelecidos vão precisar se adaptar ao novo cenário para que não sejam deixados para trás.
De acordo com uma pesquisa realizada em 2018 pela Ernst & Young, gigante global do setor de auditoria, que contou com a participação de 31 fintechs britânicas, 94% delas enxergavam nesse movimento de abertura uma vasta área de oportunidades; 81% das respondentes estavam se preparando ativamente para esse cenário. Além disso, 74% delas acreditavam que novos competidores se tornariam mais relevantes dentro do mercado e 59% estavam reconsiderando a estratégia de negócios visando colaborações com instituições financeiras.
Não é possível prever todas e nem mesmo grande parte do que pode vir a acontecer no mercado a partir do momento em que o Open Banking estiver ativo no país. Ainda existem questões sobre como bancos, fintechs e outras empresas vão lidar com isso e gerar novas ofertas e serviços.
No entanto, novas propostas de valor já podem ser esperadas, inclusive para instituições que não necessariamente estejam olhando para esse movimento com bons olhos, mas sim como uma ameaça à sua influência de mercado.
Segundo o estudo The Future of Banking is Open, divulgado pela PwC, as oportunidades inicialmente são bem claras em alguns aspectos. Primeiramente, para a geração de receitas, seriam possíveis, por exemplo, a criação de um modelo de pay for use, com assinaturas ou tarifas para a utilização de serviços; taxas de comissão cobradas para recomendação de terceiros; publicidade para produtos e serviços internos ou externos; comercialização de dados e análise de tendências.
Ainda, também enxerga possibilidades para a redução de custos, por meio, por exemplo, da utilização de serviços terceirizados mais eficientes em vez de operações internas (OPEX) e também da redução de gastos com tecnologia, a partir de comunidades de desenvolvedores de terceiros.
Por fim, mas não menos importante, conquistar mais market share, maximizando a aquisição e retenção de clientes ao oferecer produtos mais em conta em comparação aos concorrentes.
Em resumo, para os bancos existe uma oportunidade de entender melhor as demandas de seu consumidor e, assim, consumir fatias maiores do mercado. Para as fintechs, a possibilidade de serem mais ainda mais assertivas e consumer-centric, além de aumentar sua base de clientes a partir do acesso à plataformas integradas e marketplaces.
A GetMore é uma startup brasileira do segmento de loyalty e incentivos, que possui entre seus clientes, principalmente, varejistas e empresas do setor financeiro. Conta, por exemplo, com o banco digital Next, subsidiário do Bradesco, como um de seus parceiros.
Tal união possibilitou a criação de uma plataforma de cashback, desenvolvida pela startup, em que o usuário do banco, ao fazer uma compra em lojas virtuais – parceiras como Americanas, Netshoes e Walmart, entre outras –, recebe um valor de volta em sua conta.
De acordo com Edgar Scherer, Cofundador da Getmore, o Open Banking possibilitaria uma maior assertividade de ofertas aos clientes, principalmente em relação a incentivos para compras.
“Pensando no usuário, vai ser muito interessante poder receber informações relevantes sobre seu perfil e comportamento de compra e encontrar um produto que se encaixe a uma demanda no momento certo. Isso vai depender, claro, do nível de detalhamento desses dados. Mas acho que vai ser muito benéfico para que consigamos trabalhar melhor essa parte de fidelização, ativação de usuários e efetivação de vendas”, conta Scherer.
Além disso, para Scherer, esse movimento abre portas para que startups, fintechs e o mercado como um todo criem novos serviços e produtos para o consumidor.
“É uma discussão ainda incipiente, mas é possível imaginarmos, por exemplo, a oferta de uma conta para o usuário, em que ele receba benefícios ao inserir crédito na plataforma ou tornar possível a execução de um pagamento. Ficaria menos complexo para nós ter uma participação maior nesse mundo de pagamentos e contas digitais. Toda a burocracia que sempre existiu no setor bloqueava o surgimento de novas ideias no mercado. Isso tende a mudar com o Open Banking”, completa.
A partir da abertura das APIs e, consequentemente, de informações mais complexas e relevantes, a análise mais robusta de dados é só o início. Conforme um estudo realizado pelo CB Insights em parceria com a Mastercard, se os bancos obtiverem sucesso na implementação de inteligência artificial, a indústria entrará em uma nova fase de automação, tornando possível a identificação ativa ou até mesmo preditiva de riscos.
A concessão de crédito, por exemplo, poderia contar com avaliações muito mais customizadas a partir de IA e big data, o que mitigaria parte dos riscos atrelados a esse processo.
A Peak Invest é uma fintech brasileira, que oferece uma plataforma digital de crédito, conectando empresas que necessitam de empréstimos a investidores, por meio do modelo de peer-to-peer lending.
Para as empresas tomadoras de crédito não é necessária a apresentação de uma garantia real, o que torna fundamental uma análise aprofundada sobre elas, para entender a capacidade da empresa em questão em honrar o crédito que pode vir ou não a receber. Para Márcio Berger, CEO e cofundador da startup, ter acesso a uma maior gama de dados e informações, agora abertos, vai otimizar o processo de análise.
“Se seguirem os moldes que estão sendo desenhados, o Open Banking vai agilizar as nossas análises, vou poder entender o movimento financeiro das empresas, os extratos bancários, financiamentos, atrasos. Consequentemente, o tomador também pode receber o empréstimo com muito mais rapidez, com uma análise mais rebuscada, que pode evitar a inadimplência”, declara Berger.
Além disso, pensando em um mercado como um todo, esse movimento deve melhorar as condições de serviços bancários e financeiros para os consumidores. Ainda de acordo com Berger, o Open Banking, como esperado, deve aumentar a concorrência entre instituições, o que pode se traduzir em redução de taxas, tarifas bancárias, alterações básicas com o aumento de competição.
“O acesso a linhas de crédito vai se ampliar, o que reduziria as taxas de juros também. Tudo isso, no final do dia, representa um grande ganho para o cliente dos bancos e instituições”, afirma ele.
Para instituições como as do segmento de pagamentos e cartões, por exemplo, é uma oportunidade que os players desse setor se tornem parte principal como fornecedores da infraestrutura de pagamentos necessária para os participantes do Open Banking.
Internacionalmente, a Mastercard é uma das gigantes do setor de pagamentos que tem explorado as oportunidades geradas pelo Open Banking, lançando soluções em mercados que já iniciaram a abertura das APIs de seus bancos.
Na Europa, por exemplo, lançou em junho de 2019 o Open Banking Solutions, um conjunto de novos produtos, serviços e aplicações que dão suporte a instituições financeiras e fintechs em um contexto de evolução do movimento de abertura na região.
De acordo com um press release divulgado pela marca, são soluções que tangem questões de maior agilidade de conexão e integração de sistemas, proteção, resolução de problemas e serviços de suporte e consulta.
Segundo o Vice-Presidente Sênior da Mastercard, Jim Wadsworth, a busca por capitalização e crescimento por parte de instituições financeiras e fornecedores terceirizados de serviços com o Open Banking, simultaneamente ao desejo de oferecer melhores serviços ao consumidor, torna óbvia a necessidade de uma participação de um parceiro especializado em segurança e pagamentos, com alcance internacional, como é o caso da Mastercard.
No Brasil, apesar de ainda não se ter a mesma maturidade de abertura de mercado em relação à Europa, são claras as oportunidades geradas pelo Open Banking. De acordo com Felipe Magrim e Tamara Adler, respectivamente Diretor de Políticas Públicas e Diretora Jurídica da Mastercard América Latina, existe um grande espaço para crescimento, inclusive no setor de pagamentos eletrônicos, assim como pagamentos instantâneos, ainda pouco utilizados por pessoas físicas e jurídicas no Brasil, e que podem ser facilitados por esse processo.
“Todo esse movimento está ligado ao cliente final, oferecer a ele produtos melhores, possibilidades de escolha mais vastas, com menores custos, a partir da entrada de outros e novos participantes. Os hábitos de como as pessoas pagam por aquilo que consomem têm mudado ao longo dos anos. De tudo que é consumido no Brasil, 65% ainda é feito em dinheiro e apenas 35% em pagamentos eletrônicos. Existe uma oportunidade enorme de crescimento dessa fatia de mercado, de oferecer maneiras mais confortáveis, convenientes e fáceis para o consumidor”, contam.
Com uma discussão cada vez mais avançada sobre a digitalização de meios de pagamentos e a expectativa sobre o advento dos pagamentos instantâneos – que, tal como o Open Banking, também está sendo discutido com atenção pelo Banco Central –, espera-se, para os próximos anos, uma grande revolução nesse setor.
De acordo com o portal Banking Tech, as possibilidades geradas pelo Open Banking no segmento de pagamentos são animadoras, já que poderiam proporcionar novas facilidades tanto para instituições financeiras quanto para os consumidores. Por um lado, por exemplo, seria possível diminuir as taxas sobre transações e, também, direcionar pagamentos diretamente aos bancos, retirando grande parte dos intermediários dentro desse processo.
Para a parte dos consumidores, por exemplo, existe a grande expectativa, entre várias outras, sobre uma possível oferta de crédito instantâneo no momento do fechamento de uma compra, por meio do uso autorizado de informações abertas do cliente.
Assim, existiria um potencial para um modelo de marketplace, em que os bancos analisariam essas informações e competiriam em tempo real para oferecer a melhor oferta de crédito para o interessado. Isso significaria, então, uma mudança fundamental não apenas na forma em que os pagamentos são feitos, mas também na indústria de crédito e empréstimos.
Em convergência a isso, segundo Carlos Netto, CEO da Matera – empresa fundada em 1987, que oferece soluções e softwares para o mercado financeiro e varejo –, as mudanças prometidas para o segmento bancário são muito significativas e possibilitariam, por exemplo, um “iFood dos bancos”.
“O movimento de Open Banking vai mudar muito as coisas. Vai haver uma maior interação dos clientes com os produtos que os bancos oferecem, relativos a câmbio, empréstimos e investimentos. Na hora de comprar um produto, pode ser possível ao consumidor um “leilão de juros”, em que ele escolhe o banco que oferecer o crédito com menor taxa, para que ele pague no fim do mês. É a utilização de inteligência artificial para buscar crédito e conceder em tempo-real”, afirma ele.
Ainda, acredita que no início as transformações vão ser simples, mas o movimento habilita muita criatividade de negócios e novas possibilidades. “É uma nova era de inovação, de gigante transformação. É comparável à chegada dos computadores abertos, a partir dos quais foram criados aplicativos e aconteceu tudo isso que vimos até hoje”, finaliza.
A Yubb é uma plataforma de busca de investimentos para pessoa física, que oferece serviços de forma gratuita. A fintech conta com mais de 220 mil usuários ativos e mais de 8 milhões de buscas mensais na plataforma. Fundada em 2014, recebeu, em 2017, R$ 1 milhão em investimentos.
Tendo como público-alvo instituições financeiras, a Allgoo é uma fintech brasileira fundada em 2014 que oferece serviços de gestão de produtos e portfólios de investimentos de maneira automatizada, com o objetivo de entregar para o consumidor dessas instituições uma melhor experiência.
A Tink é uma fintech sueca, fundada em 2012, que já captou mais de US$ 105 milhões em investimentos, tendo a PayPal como uma das investidoras. A startup oferece uma plataforma que agrega dados de bancos europeus, de modo a permitir que empresas terceiras criem e forneçam produtos e serviços a partir dessas informações.
A Plum é uma fintech inglesa, fundada em 2016, que desenvolveu uma plataforma de inteligência artificial para análise e organização de finanças pessoais, com o objetivo de reduzir os gastos do usuário. Recebeu US$ 7,5 milhões em quatro rodadas de investimentos.