Uma análise sobre as tecnologias educacionais de learning analytics e ensino adaptativo com base em inteligência artificial
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Já é de conhecimento de todos o jargão de que “dados são o novo petróleo”. Para termos noção de quão importante é o tráfego de informações no mundo atual, basta observarmos dois estudos realizados pela Business Software Alliance em 2015.
No primeiro deles, é possível notar, por exemplo, que 90% de toda a informação que circulava no planeta durante o período do estudo fora gerada dentro do biênio 2014-2015, enquanto apenas 10% foi gerada nos anteriores.
O segundo estudo, por sua vez, aponta que 61% das empresas americanas utilizam a análise de dados em seus planos de contratação e que, para cada emprego relacionado a dados gerado nos Estados Unidos, outros 3 postos de trabalho são criados indiretamente.
Dito isso, como não pensar no potencial dos dados para a geração de mudanças em escolas públicas e privadas, no ensino superior e no sistema educacional do país como um todo?
Este é o eixo pelo qual corre o learning analytics, tendência tecnológica que, por meio da coleta e mineração das informações busca desenvolver novos processos de aprendizagem e propor modelos de ensino adaptativo, adequados à realidade e ao ritmo de cada estudante.
De acordo com o levantamento Education and Learning Analytics Market, da MarketsandMarkets Research, por exemplo, até 2023, o crescimento do valor de mercado do segmento de learning analytics irá saltar de US$ 2,6 bilhões para mais de US$ 7 bilhões.
Além disso, a consultoria prevê que, dentro do período, o crescimento médio da indústria de learning analytics será superior a 22%. No Brasil, por sua vez, a indústria de Big Data e Analytics como um todo, deve movimentar, só em 2019, US$ 4,2 bilhões, segundo análise da IDC Brasil, o que, naturalmente, abre espaço para investimentos direcionados para o mercado de educação.
Dentro desse contexto, o país já conta com alguns casos interessantes da aplicação de learning analytics em prol da melhoria da educação. É o caso, por exemplo, da Secretaria de Estado de Educação, Cultura e Esporte de Goiás (Seduce), que criou uma plataforma na qual os profissionais de educação podem consultar uma série de informações relevantes sobre o ambiente educacional do estado. O objetivo da Goiás 360 é democratizar o acesso à informação e, dentre outros pontos, melhorar as rotinas de planejamento e tomada de decisões de professores e gestores educacionais.
Outro exemplo interessante é o da Faculdade ESAMC de Uberlândia, que faz uso do Learning Analytics para aumentar seus níveis de competitividade e a qualidade do ensino da instituição, que conta com unidades nos estados de Minas Gerais e de São Paulo.
Adriano Novaes, Proprietário e Diretor Geral da ESAMC, explica algumas das outras finalidades do Learning Analytics na instituição, incluindo, por exemplo, a avaliação dos níveis de engajamento no modelo de sala de aula invertida – na qual os conteúdos expositivos são estudados em casa com o apoio de recursos tecnológicos e a ida às unidades presenciais têm como foco o esclarecimento de dúvidas e a prática do conteúdo aprendido.
“Temos usado indicadores para acompanhar se está ocorrendo ou não a Flipped Classroom na aula presencial (a ESAMC não tem EAD), ou seja, verificamos quanto tempo o aluno fica na plataforma, se fez ou não a preparação e, em seguida, cruzamos com a nota do aluno e sua presença. Também fazemos provas de eixo de conhecimento para sabermos se o aluno aprendeu todo conteúdo de uma grande área de conhecimento de um curso. Exemplo: aplicamos uma prova de eixo na disciplina de Marketing IV cobrando todos os conteúdos aprendidos nas disciplinas de marketing anteriores. Com isso, podemos verificar se ficou algum GAP de conhecimento. Como utilizamos muito PBL (projetos) montamos rubricas para acompanhar e tangibilizar o conhecimento”, explica Adriano.
Seguindo a linha de outros especialistas, o executivo apontou que um dos principais desafios para a aplicação de tecnologia no ambiente educacional brasileiro envolve uma questão cultural, dos professores e da comunidade escolar que ainda não se adaptaram ao movimento de transformação.
Entretanto, segundo Adriano, uma das grandes vantagens da inovação consiste em poder corrigir, justamente, falhas no processo educacional e na preparação dos docentes.
“Conseguimos avaliar melhor os professores, valorizando também os docentes que entregam resultados pedagógicos efetivos e não somente aqueles que, por serem carismáticos, contam com a aprovação das turmas. Consequentemente, montamos melhor os treinamentos de professores e verificamos se as turmas, de fato, estão aprendendo melhor. Como diz o professor de Harvard, Robert Kaplan “Você só gerencia o que se mede”, conclui Adriano.
Seguindo este princípio de metrificação, o VOA educação oferece uma plataforma que fomenta o desenvolvimento integral dos alunos por meio da coleta de observações de diversos professores que colaboram para criar um painel de métricas, possibilitando uma análise socioemocional que facilita a construção de estratégias para que os estudantes potencializem suas habilidades socioemocionais.
De acordo com Marcelo Michelli, sócio-diretor do VOA, um dos objetivos da ferramenta é disponibilizar instrumentos que melhorem a rotina dos professores.
“Nossa meta central sempre foi gerar valor para o aluno, mas, para tanto, temos que gerar valor para os professores e para todo o ecossistema escolar. Neste sentido, mapeamos as dores dos docentes com o intuito de auxiliá-los a superá-las. Uma dor enorme do docente: ele gasta muito tempo fora da sala de aula com atividades que não dizem respeito ao conteúdo acadêmico, mas sim, com atividades burocráticas, por isso, disponibilizamos dados que tornam sua vida melhor e mais produtiva. Outro gap era em relação ao desenvolvimento do aluno. O professor metrifica o desempenho e a má conduta. Mas a boa conduta é recompensada como? Em outras palavras: queremos ajudar o professor a fazer a gestão do desenvolvimento do aluno de modo integral.”
Pesquisas recentes dão razão a Marcelo. Um estudo do Banco Mundial realizado com escolas do Rio do Janeiro mostra que o tempo efetivamente gasto com o ensino não passa de 64% – a média dos países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) é de 85%. Neste sentido, soluções que possam contribuir com a reversão deste cenário serão extremamente positivas para o ambiente educacional do país.
O sócio-diretor do VOA destaca, ainda, o papel dos dados na construção de soft skills entre os estudantes e na modelagem de metodologias de ensino adaptativo.
“As habilidades humanas, os chamado soft skills, começaram a ganhar mais relevância nas escolas. A capacidade de relacionamento, de trabalhar sob pressão, a proatividade, o espírito de equipe, a resiliência e a criatividade, todas estas habilidades voltaram a ser instigadas no ambiente educacional. Com nossa plataforma, nós reforçamos essa visão metodológica, que encara o aluno como um indivíduo e propõe seu desenvolvimento integral. Para tanto, os docentes conseguem, pelo VOA, acessar um relatório completo do aluno, fazer um diagnóstico e registrar planos de ações diferenciados para cada estudante”, conclui Marcelo.
Sobre o ensino adaptativo, aliás, merece menção o fato de que um estudo recente do Centro para Pesquisa e Reforma da Educação da John Hopkins University, identificou que estudantes que experienciam o modelo de aprendizagem adaptativa, no geral, têm desempenho superior em provas e tarefas escolares.
Vale apontar também que, segundo pesquisa da consultoria IndustryARC, o mercado de ensino personalizado ou adaptativo deve superar US$ 2 bilhões até 2024, com crescimento médio de 29% até 2024.
Tal média de crescimento é um indicativo, por fim, de que, em um curto espaço de tempo, esta metodologia de ensino pode gerar impactos inclusive no Brasil, fato extremamente positivo quando levamos em conta que um dos principais objetivos deste modelo consiste em considerar a individualidade de cada estudante e, assim, abrir espaço para um ambiente educacional que não faça das diferenças, elementos excludentes para os processos de aprendizagem.
A Dreamshaper é uma plataforma que auxilia alunos nas escolas regulares a criar projetos empreendedores, por meio de uma metodologia que se adapta ao perfil de cada estudante. Fundada em 2013, a EdTech conta com apoio da Fundação Lemann.
A premissa da Estuda é simples, mas eficiente: utilizar um amplo banco de dados com provas, para preparar os usuários para exames como o ENEM a prova da OAB. Fundada em 2013, a startup recebeu aporte da Garan Ventures em 2018.
Fundada em 2004, nos Estados Unidos, a DreamBox Learning já recebeu mais de US$ 175 milhões em aportes financeiros. Seu principal objetivo é utilizar o ensino adaptativo para melhorar o aprendizado de crianças em matemática.
Startup irlandesa, a Adaptemy oferece consultoria, ferramentas de publicação, aplicativos customizáveis e recursos baseados em IA para a criação de conteúdo educacional com foco em aprendizagem adaptativa. A EdTech já levantou € 4 milhões em investimentos.