Uma análise sobre a discussão a respeito de aplicações de blockchain e soluções em serviços financeiros voltadas para o setor agro
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[dropcap]A[/dropcap] compra facilitada de insumos e de equipamentos tecnológicos é uma das primeiras atividades no processo de digitalização das fazendas. Na maior parte dos casos, para adquiri-los, os produtores precisam buscar uma linha de crédito rural. [highlight = “pink”]De acordo com o Banco Central do Brasil, foram contratados mais de R$ 150 bilhões em empréstimos via crédito rural entre julho de 2014 e 2015[/highlight].
Entendendo a evolução dos créditos concedidos, é possível observar que a quantidade de recursos financeiros disponibilizados para os produtores por meio do SNCR tem aumentado a cada ano. Ainda assim, relatos de dificuldade por conta de análises criteriosas também tem crescido. Assim como é apontado em reportagem do Valor Econômico, produtores rurais dizem que os bancos passaram a exigir garantias adicionais.
A desintermediação dos processos de obtenção de crédito, portanto, se torna uma das formas alternativas de acelerar o processo de concessão de crédito rural. AgTechs brasileiras têm visto essas problemáticas e têm atuado com soluções tecnológicas. Um exemplo é a Nagro, fundada em 2015 em Uberaba, um marketplace de crédito para o agronegócio que conecta produtores com financiadores.
Um dos problemas identificados pela startup quanto a concessão de crédito foi a quantidade excessiva de documentos solicitados. Por meio de conteúdo, se propõem a preparar os produtores, indicando quais informações são requeridas, onde podem encontrá-las e quanto tempo leva para tê-las, caso ainda não possuam. Além disso, disponibilizam na plataforma a gestão desses documentos. Segundo Gustavo Alves, Cofundador e CEO da Nagro, a ideia é que eles sempre tenham um cadastro pronto para quando quiserem tomar crédito.
Após a obtenção das informações, fazem uma análise de perfil e apresentam opções de bancos e fundos que mais fazem sentido para cada um.
“Levamos negócios qualificados para o financiador, deixando a operação mais fluida. Conseguimos dar uma resposta ao produtor em menos de 2 dias, dizendo se ele será aprovado ou não, para que possa tomar alternativas de forma mais rápida”, diz Gustavo Alves, Cofundador e CEO da Nagro.
Quando iniciaram a operação, a taxa média de liberação de crédito era próxima de três meses e hoje é em torno de um mês e meio. O prazo recorde da Nagro de liberação de crédito foi 5 dias.
Em média, reduzem o prazo médio até a liberação em aproximadamente 43% quando comparado ao modelo das assistências técnicas convencionais, de 3 meses para cerca de 52 dias. [highlight = “pink”]Em 2018, a Nabro liberou mais de R$ 30 milhões em crédito rural[/highlight].
A startup foca em pequenos e médios produtores rurais. Isso, pois, segundo Alves, eles possuem poucas garantias e têm acesso limitado às iniciativas específicas de incentivo.
Quanto à maturidade tecnológica desse público, ele afirma que há, de fato, uma certa resistência no envio das documentações de forma digital, mas a Nagro demonstra seus benefícios, como:
Uma das alternativas para os produtores que têm dificuldades com a obtenção de créditos de forma tradicional são as operações de barter (troca, em inglês), que é o pagamento pelo insumo por meio da entrega dos produtos na pós-colheita.
Muitas empresas do setor, como a Bayer, Monsanto, Syngenta, Cargill, ADM e Bunge realizam tais transações. A BASF, por exemplo, espera que as operações de barter com as culturas de soja, milho, algodão, café e cana-de-açúcar respondam por 40% de seu faturamento nos próximos dois anos.
As AgTechs também estão identificando essa tendência que vem crescendo e estão apostando na digitalização desse processo.
Uma das pioneiras é a Bart Digital, fundada em 2016 em Indaiatuba, que faz a gestão integrada de títulos e contratos agrícolas e é capaz de reduzir o tempo de formalização, o custo operacional e aumentar a competitividade comercial.
A startup mitiga os riscos do credor utilizando, entre outras tecnologias, a blockchain. [highlight = “pink”]A aplicação da blockchain nas operações de barter podem não só diminuir o tempo de operação, mas também permitir que o ambiente fechado das negociações se torne mais confiável, oferecendo um registro financeiro compartilhado, com privacidade, estabilidade e transparência[/highlight].
A blockchain no setor de Agro também tem sido vista com bons olhos. Isso, pois, assim como é apontado na publicação The rise of blockchain technology in agriculture, da ICT, [highlight = “pink”]mais de 80% dos alimentos são produzidos por pequenos produtores em países emergentes[/highlight], que dificilmente têm acesso à seguros e serviços bancários, e muitas vezes são submetidos à acordos vulneráveis e não confiáveis.
Entendendo essa dificuldade, em 2016, a AgriDigital, startup australiana que desenvolveu uma solução de gestão integrada de commodities, realizou uma das primeiras transações agrícolas por meio da tecnologia.
Desde então, mais de 1.300 usuários estiveram envolvidos em vendas de mais de 1.6 milhão toneladas de grãos por meio da plataforma, gerando US$ 360 milhões em pagamentos. Com quatro anos de operação, a startup arrecadou US$ 5,5 milhões de uma rodada de investimento liderada pela Square Peg Capital.
Para Vanessa Almeida, Gerente da Iniciativa Blockchain do BNDES: “Há potencial para utilização da blockchain em todo tipo de crédito com condicionantes, um tipo muito comum no setor Agro. É possível, inclusive, enviar uma representação digital do dinheiro, dada que essa tecnologia tem a capacidade de assegurar a unicidade da informação digital”.
Com a blockchain, é possível criar regras de uso, como por exemplo: uma transação só poderá ser feita para a compra de fertilizantes. Caso o produtor tente comprar produtos em uma empresa que não tenha um CNAE de fertilizantes, a transferência não será completada.
Assim, um dos principais benefícios da blockchain, apontados por Almeida, é a redução dos custos com auditorias, pois a tecnologia certifica que, durante os processos, não houve alteração nos dados e que regras foram executadas de forma automática.
Ao mesmo tempo, ela acredita que a criação de novos modelos de negócios com a blockchain ainda não seja viável aos pequenos e médios produtores. Isso pois ainda possuem nível de maturidade e entendimento da tecnologia muito básicos. [highlight = “pink”]O Mapeamento da Tecnologia Blockchain no Brasil, realizado pelo BNDES, mostra que, de 350 iniciativas que utilizavam a tecnologia, apenas 8% eram relacionadas à Indústria, onde está incluído o Agronegócio[/highlight].
“As grandes empresas de TI já entenderam para o que a blockchain serve e estão vendendo para outros mercados. Entretanto, o mercado de Agro não tem conhecimento o suficiente para comprar e, às vezes, compra sem fazer as perguntas certas, entendendo o real motivo da implementação”, diz o estudo.
Além de plataformas para operações de bartering e certificação por meio de blockchain, muitas AgTechs também têm apostado em soluções para facilitar a compra de insumos e equipamentos de forma digital.
Esse é o caso da InstaAgro, fundada como Agvali em 2016 e que, em 2017, migrou seu modelo de negócios para se tornar a primeira loja online especializada no dia a dia do produtor rural brasileiro. Por meio de parcerias com fabricantes agrícolas, a plataforma oferece uma grande oferta de produtos e insumos.
Na venda de defensivos agrícolas, que requerem um receituário, a startup permite o envio do arquivo de forma digital e, caso o produtor não tenha a receita, é conectado com um engenheiro agrônomo credenciado.
Rodrigo Santini, Cofundador e CMO da InstaAgro, em entrevista ao portal Agrolink, afirmou que a iniciativa “tem como premissa a excelência logística e a atenção total à ‘base da pirâmide’, ou seja, aqueles três a quatro milhões de pequenos agricultores que até hoje não eram satisfatoriamente atendidos pelas indústrias e canais tradicionais”.
A Nagro é um marketplace de crédito para o agronegócio, que realiza serviços de barter, venda a prazo e cartão de crédito. Fundada em 2012, a startup é capaz de reduzir o prazo médio até a liberação, em média, em aproximadamente 43% quando comparado aos modelos convencionais.
Sendo uma plataforma para gestão e análise de crédito rural, para operações estruturadas e due dilligence de crédito, a Agrometrika foi fundada em 2010, em Vinhedo, com objetivo de ajudar empresas na avaliação de risco e a organizar o processo de obtenção de crédito.
A Yagro, fundada em 2015 em Cambridge, é uma startup com uma plataforma de gerenciamento comercial. Por meio do sistema, os produtores podem comparar preços de insumos para negociarem melhor. Participou de uma rodada de investimento, captando US$ 500 mil.
A FarmDrive é uma startup queniana focada em scoring de crédito para pequenos produtores. A startup usa big data e machine learning para enriquecer os dados e dar mais subsídio para os critérios dos bancos, que são responsáveis pela concessão de créditos rurais.