Aprofundamos a análise sobre a criação de novas formas de vendas e soluções afins para os produtores dentro do mercado agropecuário
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Uma das últimas etapas da cadeia agropecuária é a venda dos produtos tanto para a agroindústria quanto para os consumidores finais. Nessa etapa, a ampliação das vendas por meio de tecnologias se tornou uma necessidade para os produtores, principalmente os pequenos e médios. Isso porque, apesar de terem um peso muito grande na matriz produtiva no Brasil, os agricultores familiares, aqueles que utilizam mão de obra da própria família e com renda vinculada ao próprio estabelecimento, têm uma grande dificuldade de diversificar suas vendas.
Os agricultores familiares são responsáveis pela produção de 70% do feijão nacional, 34% do arroz, 87% da mandioca, 46% do milho, 38% do café e 21% do trigo. De acordo com levantamento feito pelo portal Governo do Brasil, a agricultura familiar no Brasil tem um faturamento anual de US$ 55,2 milhões. Se possuíssemos somente esse tipo de produção, seríamos o 8º maior produtor de alimentos do mundo (atualmente, contando com a agricultura tradicional, somos o 5º maior).
Comparativamente, a China seria a líder de mercado, com um faturamento anual de US$ 958,2 bilhões. Segundo o último Censo Agropecuário, a agricultura familiar é a base da economia de 90% dos municípios brasileiros com até 20 mil habitantes. Além disso, é responsável pela renda de 40% da população economicamente ativa do país e por mais de 70% dos brasileiros ocupados no campo.
A Sumá, startup fundada em 2016 em Balneário Camboriú (SC), foi criada justamente com a intenção de fortalecer a agricultura familiar brasileira. Por meio de uma plataforma digital, a Sumá conecta cooperativas, agricultores e grandes empresas que querem comprar alimentos em um sistema de comércio mais justo. Segundo Alexandre Leripio, Coordenador de Inovação da startup, a Sumá quer empoderar os produtores rurais, fazendo com que eles deixem de ser reféns de intermediadores na venda dos produtos.
Em entrevista ao Projeto Draft, Leripio afirma que os compradores pagam uma taxa de 15% sobre o valor transacionado, mas que, ainda assim, é mais barato do que o sistema convencional, uma vez que a margem chega a 400% sobre o preço pago ao agricultor. Atualmente a Sumá possui uma base de 1.600 agricultores de dez cooperativas e 100 compradores ligados à ABIH (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis), Aberc (Associação Brasileira das Empresas de Refeições Coletivas) e Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes).
Uma forma de venda alternativa que está sendo digitalizada por meio de startups são os leilões. A SmartAgro, fundada em 2015, criou uma plataforma na qual é possível participar dos leilões de equinos e bovinos com segurança e transparência. Os usuários escolhem o lance e recebem um e-mail toda vez que seus lances são superados.
A plataforma é disponível para todos os criadores, independentemente do tamanho, quantidade e tempo de mercado, que podem contar com assessoria externa, apoio jurídico e suporte de cobrança pós-leilão. A startup facilita o processo de compra e venda oferecendo uma solução que vai desde a batida do martelo até o suporte pós-leilão.
O desafio de encontrar novos canais de venda também tem incentivado o crescimento de conceitos como o farm-to-table (da fazenda à mesa, em inglês). Esse movimento, que promove a venda de produtos agrícolas de forma direta aos consumidores finais, está ganhando força não só no Brasil, mas no mundo todo. A razão da importância do farm-to-table se dá pelos benefícios aos produtores rurais, que podem usufruir de plataformas digitais que trabalham com o conceito, e também por estar alinhado à tendência de preocupação dos consumidores com a origem dos produtos.
Uma pesquisa realizada pelo Reclame Aqui mostrou que mais de 60% das pessoas buscam informações sobre a procedência das comidas que compram. Dos 3000 participantes, 60% deles afirmaram procurar saber a origem dos produtos. Outra pesquisa, da Akatu, realizada em 2013, apontou que em torno de 30% dos consumidores brasileiros leem os rótulos dos produtos antes de comprar.
Startups como a Walden Local Meat têm trabalhado essas tendências com plataformas digitais. A Walden Local Meat conecta consumidores e produtores de carne locais dos estados de Massachusetts, Rhode Island, New Hampshire, Maine, Nova Iorque, Connecticut e Nova Jersey. Por meio de um programa de assinaturas, a startup entrega uma variedade de peças, com rastreabilidade completa mensalmente. Em 2018 participaram de uma rodada de investimento, na qual captaram US$ 1,4 milhão.
Além disso, o farm-to-table vai ao encontro da preocupação com produtos orgânicos. Segundo a pesquisa do Reclame Aqui, os consumidores também, estão cada vez mais antenados em nutrição orgânica. Cerca de 40% deles afirmaram comprar esses tipos de alimentos. De acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), somente em Minas Gerais, o número de unidades produtoras de orgânicos cresceu 60% nos últimos cinco anos. O Conselho Brasileiro da Produção Orgânica e Sustentável (ORGANIS) realizou, em 2017, a primeira pesquisa nacional sobre o perfil do consumidor brasileiro de orgânicos.
O relatório mostra um processo de consolidação deste mercado. A região Sul foi a que mais demonstrou adoção de produtos orgânicos, com 34% dos entrevistados. A região Sudeste obteve o menor índice, com pouco mais de 10% dos domicílios. O valor de faturamento desse mercado atingiu a marca de US$ 50 bilhões, segundo a Organic Trade Association. No Brasil, entre 2007 e 2013, a receita passou de R$ 118 milhões para R$ 700 milhões, representando mais de 0,5% da receita total da indústria alimentar brasileira, incluindo a exportação de alimentos.
Entendendo a crescente demanda por novas formas de venda e a tendência de produtos orgânicos, a Onisafra foi fundada em Manaus. A startup é responsável pela conexão de produtores rurais e consumidores, que podem solicitar cestas de produtos orgânicos e recebê-la em suas casas por meio de um serviço de delivery. Outra startup que nasceu no modelo de CSA (Community-Supported Agriculture, ou Agricultura Apoiada pela Comunidade, em português) é o Clube Orgânico. Em um reposicionamento com a missão de democratizar o acesso a produtos orgânicos, a startup deixou de ser B2C e passou a ser B2B, voltando a atenção para o relacionamento com o produtor.
A responsabilidade do Clube Orgânico nas atividades de venda de alimentos orgânicos é, portanto, a gestão do produto e do produtor. Desenvolvem a rede produtiva, melhores preços e produtos para conseguir mais assertividade, além de capacitarem os produtores. Segundo Eduardo Boorhem, Cofundador do Clube Orgânico, o motivo da capacitação empreendedora deles se dá pela carência de escalabilidade na agricultura orgânica.
“Os produtores precisam ser empresários do campo. Têm de deixar os conhecimentos empíricos de lado e implementar técnicas tecnológicas que dão assertividade a eles”, diz. Boorhem acredita que esse desafio pode ser vencido, desde que seja estruturado de forma sistêmica e o Clube Orgânico tem todo o interesse de tomar essa responsabilidade no setor.
“Buscamos aplicar todo a inteligência por trás da agricultura de escala e implantá-la na agricultura orgânica, que ainda tem uma base familiar. A agricultura orgânica precisa formar uma rede de produtores que queiram fazer parte desse modelo sistêmico para depois desenvolver a rede com financiamento e fazer as aplicações técnicas”, conta Boorhem.
Ele também afirma que tudo isso requererá muito recurso financeiro. Dessa forma, esperam apoio de grandes empresas não só do setor, mas também de varejistas.
Além da Onisafra e do Clube Orgânico, outras startups têm apresentado soluções com o conceito de farm-to-table, mas mesclado a novas formas de plantio, como acontece nas fazendas urbanas. Com o objetivo de estarem mais próximas aos consumidores, facilitando a logística, as fazendas urbanas têm a sustentabilidade como premissa.
Fundada em 2016, a Colheita Direta é um canal de entrega de produtos alimentícios frescos e que oferece eficiência na cadeia logística do Agro. A startup possui uma spinoff, a ABOVE Coffees, que disponibiliza um canal de venda direta de cafés, da fazenda para o consumidor final.
A SmartAgro desenvolveu uma plataforma de leilões com o objetivo de ser um canal alternativo de vendas de produtos agropecuários para pequenos e médios produtores. Os clientes da startup podem acompanhar os leilões de forma online, contando com assessoria e serviços de pós-venda.
A americana Aggrigator, fundada em 2015, desenvolveu um marketplace B2B, trabalhando no conceito de farm-to-table. Conectando compradores e pequenos produtores de forma online, permite que informações como local, tamanho e certificação fiquem transparentes para todas as partes.
A Greensbury Market controla todo o processo da cadeia de suprimentos, desde a retirada dos produtos do campo até a entrega deles para os consumidores. Entregando em até 48 horas, a startup garante a transparência, informando aos seus clientes os envolvidos nas etapas.