Entenda como soluções de robótica, automação e inteligência de dados são importantes para tornar os processos do setor mais efetivos
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Por conta dos altos custos nos processos agropecuários e a falta de mão de obra qualificada no campo, muitos grupos de produtores e fazendeiros individuais têm buscado novas soluções para tornar a colheita, irrigação, poda, capinagem, entre outros processos, mais efetivos. Com o objetivo de tornarem suas fazendas mais inteligentes, muitos passaram a implementar tecnologias de robótica e automação. Estima-se que o valor de mercado de robótica no setor chegará a US$ 16,3 bilhões até 2020, quase o dobro registrado em 2013, com US$ 817 milhões, de acordo com a ResearchMoz.
Projetos como o Hands Free Hectare mostram que é, de fato, possível plantar e colher muitas commodities com automação de maquinários, apesar da complexidade dos processos. Durante o projeto, maquinários autônomos plantaram, fizeram a manutenção e a colheita de um hectare de cevada sem a supervisão de um humano.
A possibilidade de solucionarem problemáticas de plantação, irrigação, pulverização de produtos químicos e até colheita está atraindo cada vez mais startups, como a Rowbot, fundada em 2012 em Minneapolis, que disponibiliza maquinários robóticos capazes de aplicar nitrogênio nas linhas de produção de milho.
De acordo com o TechCrunch, os investimentos em venture capital em AgTechs de robótica e automação em 2017 foram de US$ 1,5 bilhão entre 160 startups. A John Deere é uma empresa que vem desenvolvendo automações para suas máquinas agrícolas e se relacionando com o ecossistema de startups. Em 2003 apresentou um dos primeiros conceitos de tratores autônomos.
Além disso, em 2018, a empresa adquiriu a Blue River, que desenvolve equipamentos de pulverização utilizando robótica, por US$ 305 milhões. Integrando visão computacional e machine learning, é capaz de reduzir o uso de herbicidas com uma pulverização inteligente, que será aplicada somente onde a plantação realmente necessitar. Em 2017 a startup foi considerada uma das 25 empresas mais disruptivas pela Inc.Magazine, a mais inovadora, pela Fast Company e uma das 100 startups mais promissoras de inteligência artificial no mundo, pelo CB Insights.
No Brasil, a robótica e a automação também estão resolvendo questões importantes. Um dos inúmeros problemas enfrentados na gestão das fazendas é durante o processo de irrigação do campo, pois os sistemas de bombeamento tradicionais consomem um alto nível de energia.
Em 2015, a entrada em vigor do sistema de bandeiras tarifárias por conta da seca prolongada foi uma temática que repercutiu no setor, principalmente por prejudicar o processo de irrigação. Na época, cobrava-se R$ 5,50 a cada 100 kilowatts/hora (kWh) consumidos. A tarifa de energia para irrigação noturna dobrou de valor.
Uma prática que foi e ainda é utilizada por produtores é a de acionar seus equipamentos em horários alternativos, que, em muitos casos, é durante à noite – gerando outra problemática, relacionada à segurança dos profissionais do campo.
A questão de desperdício de água durante o processo de irrigação é outra temática que ainda é tratada de forma ostensiva no setor, não apenas por causar perdas financeiras, mas também por uma questão de sustentabilidade.
A Organização das Nações Unidas (ONU) estima que 70% da água potável do planeta é utilizada na agricultura. Ao mesmo tempo, segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), entre 50% e 60% desse volume de água é perdido devido a uma má gestão dos recursos hídricos.[/highlight] Inúmeros são os fatores que explicam essa perda, como planejamento ineficiente do sistema de irrigação, uso da intuição e equipamentos obsoletos.
Entendendo esses desafios, a Irricontrol foi fundada em Itajubá (MG). A startup faz o controle inteligente de irrigação com pivôs centrais, instalando controladores em cada sistema. Os produtores, portanto, podem programar os horários de irrigação de forma remota.
Além disso, por conta da oscilação de energia elétrica nas zonas rurais, a solução da startup é capaz de acionar novamente o sistema após uma queda de forma automática. De acordo com Helton Franco, CEO da Irricontrol, a receptividade dos produtores rurais tem sido boa, principalmente pela solução da startup ser financeiramente acessível para eles.
“O principal valor que entregamos aos nossos clientes é a redução de custos, seja por mão de obra que pode ser realocada ou a economia de energia. Além disso, damos visibilidade sobre a quantidade correta de irrigação”, diz Franco.
A Irricontrol é capaz de reduzir entre 9% e 15% os custos de operação e energia anualmente.
As soluções de automação do processo de irrigação estão chamando cada vez mais a atenção de grandes corporações do setor. Esse foi o caso da Valmont, grande fabricante de equipamentos de pivô central e de irrigação que adquiriu, em 2011, a IRRIGER, plataforma de gerenciamento e monitoramento de irrigação, cujas ações de desenvolvimento de processos, produtos e serviços está totalmente integrada aos setores de inovação da empresa.
A Valmont tem focado em soluções integradas que proporcionem aos seus clientes a possibilidade de gestão de suas lavouras, com telemetria, fertirrigação, manejo de irrigação, gestão e controle da quantidade de água aplicada. Estão desenvolvendo, a nível global, uma plataforma de gestão da irrigação da lavoura. Com um planejamento diário, semanal e mensal, possibilita o controle sobre a quantidade e periodicidade de irrigação nas lavouras, economizando, assim, energia elétrica, poupando água e gerindo melhor as pessoas envolvidas no processo.
Segundo Vinicius Melo, Gerente de Engenharia e Serviços da Valmont, a importância de implementação de tecnologias no setor se dá pela elevação do nível de gestão das fazendas. “Se não atuarmos para dar ferramentas adequadas e garantirmos a qualidade de vida do empresário rural e seus colaboradores, estaremos fora do mercado”, diz.
Além disso, ele acredita que gerir a distância os projetos e poupar recursos (água e energia elétrica) são os principais desafios enfrentados por eles. Tais desafios se tornam oportunidades de negócio para startups, de acordo com ele.
“As startups muitas vezes enxergam oportunidades de negócios ou de modificação de processos que grandes empresas não enxergam. Mas é preciso ter cautela, pois, apesar de terem soluções fantásticas, podem não ter estrutura para lidar com os produtores”, complementa Melo.
A utilização de robótica e automação no setor agropecuário não se dá somente dentro da porteira. Muitas startups têm atuado na automação de processos dentro da agroindústria, como é o caso da MVisia, fundada em 2012 em São Paulo. A startup desenvolveu uma câmera que possui um computador interno, que, por si só, pode se tornar um sistema de visão autônomo.
A importância dessa solução para o setor se dá pelo controle de qualidade dos produtos, avaliando, sobretudo, se não estão com defeito, com doenças ou patógenos. Tradicionalmente, o processo é feito de forma manual, com um profissional dedicado a inspeções oculares dos produtos. Com as câmeras inteligentes, é possível identificar nuances na variação da qualidade de forma mais rápida e precisa.
Com clientes importantes da agroindústria, como Unilever, Citrosuco e Pepsico, a MVisia pega exemplos de imagens, classificam-nas de acordo com os padrões dos clientes e as enviam para a rede, que faz o treinamento e avalia os resultados. Fernando Velloso, CEO da startup, afirma que a questão da falta de conectividade não é exclusividade do campo.
“Essa é uma questão latente em toda a cadeia do setor, inclusive dentro das agroindústrias. É preciso estar na cabeça das pessoas o mindset de que, sem acesso à internet e aos sistemas internos, o desenvolvimento tecnológico é desacelerado”, afirma.
Acelerada no programa LeverUp, da Unilever, que teve a Liga Ventures como parceria, a MVisia possui um crescimento de 80% no faturamento ano a ano e 125% de aumento no número de clientes pagantes.
Fundada em São Leopoldo, a Raks possui um SIMI (sistema inteligente para otimização da irrigação), na qual medem a umidade do solo por meio de sensores e realiza a automação da irrigação utilizando internet para controlar os momentos de acionamento.
A Tbit é uma startup que produz e comercializa sistemas avançados que possibilitam a realização de análises e classificações, como de semente, milho, trigo, entre outros. Fundada em Lavras, em 2008, é capaz de otimizar os processos de controle de qualidade.
A Farmapp, startup australiana fundada em 2014, oferece um sistema mobile para a captura integração de informações, auxiliando os produtores em decisões sobre clima, fertilização, controle de pestes, entre outros. A startup participou de programas como Start-up Chile e Wayra.
A Ceres Imaging, fundada em 2014, na Califórnia, e que capta e analisa imagens aéreas, criando modelos matemáticos padronizados para automatizar processos, tais como irrigação e pulverização de defensivos agrícolas. Já captou investimentos no total de US$ 35, 5 milhões.