Entenda como os novas tecnologias e startups estão ajudando as áreas de TI a inovar e responder às novas demandas e funções do mercado.
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Um dos maiores desafios atuais não só no Brasil, mas mundialmente, é entender como serão os desdobramentos das inovações tecnológicas no futuro nas corporações. Não há como negar que presenciamos uma revolução digital e que cada vez mais indústrias e setores estão sendo transformados pelas novas tecnologias. O desenvolvimento acelerado delas norteia a maneira como sociedades e organizações irão acompanhá-las. Da mesma forma, é um desafio entender de que forma os novos negócios e tecnologias podem ajudar nos processos e atividades de Tecnologia da Informação (TI), uma vez que a área é tida como a responsável por trazer inovações às outras áreas e departamentos das organizações.
De acordo com uma previsão feita pelo IDC Brasil, o mercado de TI deve crescer 5,8% em 2018. Segundo o Tele Síntese, em 2017 foram investidos US$ 38 bilhões na área, crescendo 4,5% em comparação com 2016. A porcentagem de crescimento do país foi abaixo da média mundial, que foi de 5,5%. Nos Estados Unidos foram investidos US$ 751 bilhões, na China US$ 244 bilhões e no Japão, US$ 139 bilhões. Quanto aos gastos de TI somados ao de Telecomunicações, US$ 3,55 trilhões foram investidos globalmente em 2017. Desses, US$ 105 bilhões foram provenientes do Brasil, que ficou em sexto lugar do ranking geral.
Segundo a Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom), o setor de TI respondeu por 7,1% do PIB em 2017. As empresas de TI tiveram, no total, um faturamento de R$ 467,5 bilhões. As empresas de hardware, software, serviços, nuvens, estatais, BPO, exportações e produção de tecnologia da informação representaram R$ 238,9 bilhões, com um crescimento de 9,9%. A Associação estima que tecnologias de transformação digital, como IoT, Big Data & Analytics, Inteligência Artificial e Segurança da Informação vão receber R$ 249,5 bilhões até 2021.
Pensar na gestão e coordenação de times de forma estratégica ainda é um dos grandes desafios enfrentados pelas empresas. Desenvolver táticas e técnicas eficientes em busca de melhoria de performance é essencial por, principalmente, duas razões:
O estudo Technology Vision 2018, realizado pela Accenture, aponta que algumas das tendências direcionadas às chamadas Empresas Inteligentes e que impactam o mercado se referem aos modelos de trabalho adotados pelas equipes e à formação de times. A gestão de times de TI talvez seja mais complicada em comparação a outras áreas exatamente pela modernização “repentina” dos processos de produção, que agora demandam muito mais de equipes responsáveis pela tecnologia nas empresas.
Com o avanço de inovações tecnológicas no mercado como um todo, percebe-se que a tendência é que as equipes de TI passem cada vez mais a ser vistas como parte integrante das estratégias de uma empresa, com participação na proposta de valor de um produto ou serviço. Assim, o gerenciamento desses times adquire maior importância, em um cenário em que as equipes de TI deixam de ser figurantes nos processos de produção e passam a ter um papel mais valorizado dentro das empresas.
Uma das temáticas levantadas pelo IDC como uma tendência para este ano é Big Data & Analytics (BDA). Segundo o gerente de Pesquisa e Consultoria de Softwares e Serviços do IDC, Luciano Ramos, houve um amadurecimento sobre essas práticas nas corporações. “As empresas buscam extrair algum valor das iniciativas de BDA e essa busca acelera a contratação de serviços. Além disso, essas iniciativas vêm sempre a reboque de alguma coisa e acabam movimentando todo um negócio”, diz. Estima-se que os gastos em infraestrutura, softwares e serviços nesse mercado vão atingir US$ 3,2 bilhões no Brasil. Isso, porque entender e manipular dados para tomadas de decisão dentro de uma empresa nunca foi tão importante como hoje.
Vê-se que grande parte das atividades realizadas no dia a dia acabam gerando dados, mesmo as interações mais simples, como uma curtida em um post de uma rede social, uma compra online – ou a decisão de não realizá-la -, ou em um cadastro para o recebimento de uma newsletter. Todos esses dados se tornam interessantes de alguma forma para o mercado. As companhias, então, passaram a enxergar nos dados informações de grande utilidade para a gerar insights, otimizar negócios, oferecer melhores serviços e produtos e realizar uma diminuição de gastos.
De acordo com matéria da The Economist, os dados representam para o século XXI o que o petróleo representou no século passado: um condutor de crescimento e mudança. Fluxos de dados estão criando novas infraestruturas, novos negócios, monopólios, políticas e, mais crucialmente, novas economias. Segundo um levantamento realizado pela consultoria Frost & Sullivan, o mercado de Big Data latino-americano movimentou, em 2016, US$ 2,48 bilhões. Sob a liderança do Brasil e México, a previsão é de que esse valor triplique até 2022, alcançando US$ 7,41 bilhões.
A grande quantidade de investimentos na área, claro, não acontece à toa. Segundo informações coletadas pela Gartner e publicadas no portal Big Data Business, empresas que investem em Data Science estão cinco vezes mais aptas a tomar decisões de maneira rápida em relação à concorrência; de acordo com a McKinsey, empresas do varejo que utilizam de dados para planejamento em seus negócios possuem um aumento médio de 60% em sua margem operacional.
E não apenas isso. Investir neste campo também está ligado ao controle de gastos. Conforme análise realizada em 2013 pelo Instituto Meritalk, o governo dos Estados Unidos poderia economizar US$ 500 bilhões anualmente se implementasse um sistema consistente de Big Data.
Além de gestão de times de TI e data science, consultorias, como a IDC, também são otimistas quanto ao mercado de segurança da informação. A IDC constatou que 63% das empresas entrevistadas afirmaram que iriam aumentar o orçamento destinado à segurança, como estruturação, com CSOs (Chief Security Officer) e novas ideias. Segundo o IDC Predictions Brasil 2018, os gastos com segurança, incluindo infraestrutura, software e serviços, devem crescer aproximadamente 9% em 2018, atingindo US$ 1,2 bilhão.
A consultoria Gartner também estima que os investimentos em cybersecurity poderão chegar a US$ 96 bilhões em 2018, 8% a mais do que no ano anterior. Desse valor, mais de US$ 55 bilhões serão investidos em serviços de segurança. A consultoria ainda prevê que, até 2020, mais de de 60% das organizações irão investir em múltiplas ferramentas de segurança de dados, como prevenção de perda de dados, criptografia e de proteção e auditoria centradas em dados, nas quais, atualmente, apenas 35% das empresas investem.
De acordo com o estudo da Cisco, 53% dos entrevistados afirmaram ter tido ataques que resultaram em perdas financeiras com valores maiores do que US$ 500 mil, referentes à perda de clientes, de receita e oportunidades. 8% deles afirmaram ter prejuízos de mais de US$ 5 milhões. E, assim como foi apontado no relatório IT Security Risks, divulgado em 2016 pela Kaspersky, 43% dos casos de ciberataques envolveram vazamento, perda ou exposição de informações. Assim, startups que apresentam negócios com blockchain, biometria e plataformas de detecção de dados vazados se tornam importantes soluções para esta problemática.
Outro tema que tem sido levado em consideração pelas organizações é o de terceirização de serviços e atividades de TI. Segundo a pesquisa Outsourcing Comes of Age: The Rise of collaborative partening, divulgada em 2017 pela PWC, há oito razões pelas quais as empresas terceirizam determinadas atividades:
De acordo com a pesquisa, os serviços de TI são os mais terceirizados – 57% dos entrevistados afirmaram já usar algum tipo de terceirização e 55% afirmou ter intenções de expandir o processo. A grande razão para as corporações terceirizarem serviços e atividades de TI é a possibilidade de tornar a área interna mais estratégica.
Para Saulo Arruda, cofundador e CEO da Jera, essa transformação depende unicamente das pessoas que atuam em TI.
A área é meio e não fim. Os profissionais da área precisam tirar o foco de ferramentas e técnicas e entender mais os negócios como um todo. É preciso sair do código e da solução e olhar muito mais para o problema que a organização ou startup está resolvendo”, diz.
Essa visão holística exige que os profissionais olhem para outros departamentos, compreendam o que os clientes querem e proponham soluções mais inteligentes, segundo ele. Saulo ainda explica que o desafio é não só entender a abstratividade de um investimento em tecnologia, mas também fazer com que todas as áreas olhem para inovação em conjunto.
Ainda em busca de tornar a área de TI mais estratégica, a ideia de que as empresas devem focar os esforços em seus clientes em vez de fazê-lo em um produto ou serviço tem sido ecoada, nos últimos anos, quase como um refrão no mundo corporativo e de startups.
De acordo com artigo do CIFS, Copenhagen Institute for Future Studies (Instituto de Estudos do Futuro de Copenhagen), os esforços em inovação dentro de uma empresa passam por três campos:
Pelo da tecnologia, de maneira que as companhias sempre olham e buscam novidades tecnológicas e no campo da pesquisa. Também, pelas chamadas inovações price-driven, sobre as quais as empresas estudam com foco em reduzir custos e, consequentemente, oferecer preços mais baixos para um possível cliente ou consumidor. Por fim, existem as inovações user-driven.
O primeiro passo para se estabelecer esse tipo de inovação é entender e conhecer melhor o usuário de um produto ou serviço. Não só para melhorar uma experiência, mas para gerar insights, ideias, novos produtos e até, eventualmente, desenvolver novas áreas de negócio. Ligado às inovações user-driven está o UX – user experience, ou experiência do usuário -, definido como os elementos e aspectos relacionados à experiência que um usuário tem com um produto ou serviço, que resulta em uma percepção negativa ou positiva. Pensar na experiência do usuário como um todo é lembrar que esta abrange disciplinas como usabilidade, arquitetura da informação, estratégia de conteúdo e, claro, design, tanto de interação quanto de interface.
Em 2016, a NEA (New Enterprise Associates), empresa global de venture capital que investe nos setores de tecnologia e saúde, realizou um estudo sobre o futuro do design e suas tendências em startups. A pesquisa revelou que 87% dos entrevistados afirmaram considerar o design importante ou muito importante. Ainda, o estudo destaca o fato de o design adicionar valor tanto ao usuário quanto à empresa, passando a fazer parte das estratégias de negócio.
É pensando nessas tendências que cada vez mais vemos organizações atuantes em setores tradicionais apostando em novas tecnologias e inovações por meio de novos negócios como tentativa de acompanhar a transformação digital.
Um exemplo é o Banco do Brasil, que criou, em 2014, o BB Labs (Laboratório de Experimentação do Banco do Brasil). Sendo um espaço de coworking para novas tecnologias, negócios e metodologias de trabalho, a iniciativa incentiva a utilização de metodologias ágeis para experimentação experimentação de novas experiências para o cliente, novos modelos de negócio, como novas experiências para o cliente, novos modelos de negócio ou até mesmo novas maneiras de pensar o futuro. Possui uma equipe multidisciplinar, que conta com designers de interação, designers gráficos, pesquisadores, desenvolvedores, analistas de TI e cientista de dados, que trabalham para melhorar o dia a dia das pessoas, oferecendo mais agilidade, eficiência e satisfação.
Alexandre Lima, Head do BB Labs Brasília, afirma que atualmente a empresa está mais madura quanto à discussão sobre UX, produtos e serviços pensados para os clientes. Foi esse pensamento que permitiu a criação da iniciativa do Labbs.
Partindo da premissa de que o desenvolvimento de um app, por exemplo, deve considerar a melhor experiência para o usuário, criamos o Labbs para primeiramente experimentarmos e vermos se funcionaria para depois gastarmos o dinheiro corporativo para construir a solução”, diz.
Lima conta que o grande desafio não só do BB, mas de todas as organizações, é trazer o conceito de inovação da forma mais verdadeira e realista possível, além de implementá-lo no dia a dia dos colaboradores.
Outro exemplo é a Serasa Experian, que criou, há três anos, o DataLab. Cristiane Vargas, IT Leader da Serasa Experian, e Renato Vicente, Diretor do DataLab, contam que, por ser uma empresa de dados, a Serasa Experian precisa se alinhar à nova maneira de lidar com dados no mundo dos negócios.
Um aspecto marcante de nossa época é a produção constante de dados por cada pessoa e cada máquina. A Serasa tem procurado adquirir novas fontes de dados capazes de prover inferências cada vez mais personalizadas respeitando a privacidade das pessoas”, dizem.
Eles também afirmam que a aproximação da empresa com startups é importante não só para que possam identificar oportunidades internas, mas também fomentar a inovação de maneira a criar um ambiente colaborativo. “O mercado demorou um pouco para entender que as startups são um diferencial. Em vários momentos as startups eram vistas como concorrentes, mas por que não nos juntarmos a elas para criarmos uma parceria?”, questionam.